Depoimento de médico O julgamento, que está na fase de debates, começou por volta de 9h no Fórum Criminal e foram ouvidas 4 testemunhas de defesa e 4 de acusação, além de um perito. Luciano foi o último a prestar depoimento e falou sobre como foi passar os anos sendo “atacado, humilhado e xingado”. “Fui para o jogo sim. Mas se tivesse algo diferente, que apontasse gravidade, não teria ido. A viagem foi um fator menos preponderante nesse caso. Nada ia mudar [se tivesse voltado para o hospital]. Se eu estivesse na cidade e fazendo uma cirurgia, teria que acionar o outro colega [pra ir ver o Noah]”, afirmou. Caso Noah: médico é julgado em São Carlos nesta segunda-feira (3) Luciano também falou que espera que os pais de Noah consigam encontrar a paz que precisam. “Em momento algum senti raiva ou rancor deles. Eu também sou pai”, relatou. Questionado pelo promotor se ele se sente injustiçado pelo processo, o médico afirmou que “sim”. Noah estava com fortes dores abdominais. Ao ser consultado por telefone, o médico disse que as dores eram normais e receitou remédio para gases. Esse era o dia 6 de junho de 2014, quando Luciano deveria estar de plantão à distância. A defesa do réu alega que o Conselho de Medicina não estabelece a distância para o plantão remoto. Júri popular O julgamento deveria ter sido realizado em 30 de abril, mas foi adiado a pedido da defesa, que alegou que o advogado do réu estava com dengue. A previsão é de que o resultado saia durante a noite. Quatro homens e três mulheres foram escolhidos para compor o Júri. Noah Alexandre Palermo morreu no dia 7 de junho de 2014 na Santa Casa de São Carlos — Foto: Reprodução/EPTV Localização de foto de médico em jogo Durante depoimento, a mãe explicou que, após o enterro do filho, começou a pesquisar sobre o médico na internet e encontrou uma foto dele vestido com a camisa da seleção. Ela relatou que se sentiu culpada por deixar o filho aos cuidados de Luciano. “Meu filho entrou andando, sorrindo e saiu morto. Você acabou com a minha vida”, disse emocionada ao médico, que ficou o tempo todo de cabeça abaixada. Médico aparece em foto em estádio de futebol no dia 6 de junho — Foto: Reprodução/Facebook Após alguns dias, o pai encontrou uma foto do médico no estádio falando ao telefone. “Ele disse que era gases e meu filho estava morrendo. Trocou meu filho por um jogo de futebol”, desabafou Marcos. A foto foi anexada ao processo. O advogado de defesa, Eduardo Burihan disse, na entrada do Fórum, que o Conselho de Medicina não estabelece a distância para o plantão remoto, uma modalidade que é remunerada e o médico fica fora do hospital, mas deve estar ficar de sobreaviso, à disposição em caso de necessidade. “A questão é que a Santa Casa não disponibilizou plantonista de plantão, o médico não podia passar o plantão porque não tinha plantonista disponível naquele dia e é isso que vamos provar”, afirmou. De acordo com os pais da criança, com a piora do quadro de saúde, o médico foi contatado por telefone de novo, mas não respondeu. Outro pediatra que foi até a Santa Casa determinou que Noah fosse transferido para o UTI. Noah morreu na UTI do hospital em 7 de junho, de parada cardiorrespiratória. Médico foi absolvido em 1º julgamento Fórum Criminal de São Carlos — Foto: Ana Marin/g1 A decisão foi questionada pelo Ministério Público, que entrou com o recurso no Tribunal de Justiça e, em 2022, foi determinado que Sampaio fosse a júri popular. Se for condenado, Sampaio poderá pegar uma pena que varia de 12 a 30 anos de prisão. Condenado pelo Cremesp Luciano Barboza Sampaio foi condenado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e teve a suspensão do exercício profissional por 30 dias. De acordo com a decisão do órgão, o médico se precipitou ao fazer a cirurgia de apendicite em Noah, já que o quadro clínico não era compatível com o procedimento. O Cremesp entendeu ainda que Sampaio errou ao ignorar as ligações das enfermeiras do hospital e também de um médico da Santa Casa. Condenação por atestar morte de paciente viva Hospital Geral de Nova Iguaçu, ou Hospital da Posse — Foto: Rafael Nascimento/g1 Em 2018, Luciano foi condenado a um ano e quatro meses de prisão em regime aberto, em Nova Iguaçu (RJ), por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). A pena foi convertida em prestação de serviços à comunidade. Em agosto de 2006, quando trabalhava no Hospital da Posse, Luciano atestou que a paciente Maria José Neves estava morta quando ela ainda estava viva. O erro foi descoberto quando a família dela foi reconhecer o corpo no necrotério e viu que ela se mexia e respirava. Maria morreu logo depois de ser levada para o hospital. Pais acreditam na condenação Para o pai de Noah, que é ex-secretário municipal de Saúde, o julgamento ocorrer dez anos após a morte de seu filho mostra a vulnerabilidade da Justiça, mas acaba com o sentimento de impunidade. “São 10 anos que nós lutamos por essa causa, uma verdadeira aberração que aconteceu com o nosso filho, desde que ele pisou no hospital e foi atendido pelo réu que, na verdade operou nosso filho por achismo como o próprio Conselho de Medicina o julgou. Foram várias etapas do processo, muitos recursos, que a lei permite e vencemos em todas as instâncias e foi apontado o júri. Isso não deixa uma página virada, mas pelo menos dá o sentimento da não impunidade”, afirmou à EPTV, afiliada da TV Globo, antes do início do júri. O pai de Noah e ex-secretário municipal de Saúde de São Carlos, Marcos Palermo — Foto: Reprodução/EPTV A mãe de Noah, Vanessa Palermo, disse que a condenação do médico não irá diminuir sua dor. “Hoje é mais uma etapa tão esperada, mas no fim eu vou sair daqui no vazio, sem meu filho de novo, mas vai ser feita justiça”, disse. A mãe de Noah, Vanessa Palermo, foi uma das testemunhas de acusação contra médico em São Carlos — Foto: Reprodução/EPTV Veja os vídeos da EPTV Central: