“Nenhum ser humano pode expressar a brutalidade deste crime”, afirmou em pronunciamento nesta quarta-feira (18), segundo a imprensa local. O Líbano e o Hezbollah acusam Israel de ser responsável pela ação coordenada que levou à explosão dos dispositivos usados pelos membros do grupo terrorista. O governo israelense, no entanto, ainda não se pronunciou sobre o assunto. Segundo a agência de notícias Reuters, o Conselho de Segurança já atendeu o pedido libanês e realizará uma reunião na sexta-feira para discutir as explosões. António Guterres fala sobre situação do Líbano a repórteres — Foto: UNTV Nesta quarta, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, falou sobre a situação e condenou o uso de objetos civis como armas: “Acho que é muito importante que haja um controle efetivo de objetos civis, não que objetos civis sejam transformados em armas. (…) Há um sério risco de uma escalada dramática no Líbano — e tudo deve ser feito para evitar a escalada. O que aconteceu é particularmente grave, não só pelo número de vítimas que causou”, disse Guterres em uma entrevista coletiva na sede da ONU. Segundo dia de explosões Um dia após pagers do Hezbollah explodirem, vários “walkie-talkies” do grupo extremista também foram detonados nesta quarta-feira (18) em Beirute e no sul do Líbano. Três pessoas morreram e e milhares ficaram feridas, de acordo com a agência de notícias estatal libanesa. A agência de notícias estatala libanesa afirmou que vários sistemas de energia solar de casas em Beirute também explodiram e que alguns “walkie-talkies” foram detonados em funerais de vítimas do ataque aos pagers na terça-feira. Houve relatos de dezenas de pequenas explosões pela capital libanesa, e várias imagens feitas pela cidade nesta manhã mostram focos de incêndio e uma explosão durante um evento de rua (veja vídeo e foto abaixo). Após pagers, ‘walkie-talkies’ do Hezbollah explodem em Beirute e no sul do Líbano Fogo após explosões de walkie-talkies no Líbano — Foto: Telegram/Reprodução O Hezbollah, grupo extremista fundado no Líbano, tem atacado o norte de Israel desde o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023. Assim como o Hamas, o Hezbollah é financiado pelo Irã. Nas últimas semanas, as tensões entre o grupo extremista e Israel aumentaram, após um ataque do grupo a cidades israelenses no norte. Explosão de pagers Pagers usados pelo Hezbollah explodiram, em 17 de setembro de 2024 — Foto: Reuters As explosões dos pagers na terça-feira ocorreram em um intervalo de cerca de uma hora em locais como lojas, praças e supermercados. Doze pessoas, entre elas uma menina de 4 anos, morreram, e cerca de 3.000 ficaram feridas. Segundo o jornal “The New York Times”, a suspeita é que Israel implantou os explosivos em um lote de pagers encomendado pelo Hezbollah. O governo do Líbano e o Hezbollah acusaram Israel de ter implantado explosivos dentro dos pagers, antes mesmo de que os aparelhos fossem comprados pelo grupo extremista. Israel não se pronunciou, e os EUA negaram terem tido qualquer participação no ataque. Mas a imprensa norte-americana afirmou, com base em fontes de diferentes governos, que o Mossad, o serviço de inteligência de Israel, foi quem planejou e executou o ataque. A publicação afirmou, em reportagem na terça, que uma carga explosiva com menos de 50 gramas foi colocada próxima à bateria, junto a uma espécie de interruptor. Isso possibilitaria que os pagers fossem detonados remotamente. Os equipamentos haviam sido importados ao Líbano da Gold Apollo, fabricante de pagers com sede em Taiwan. A Gold Apollo, no entanto, informou que os aparelhos foram fabricados por uma empresa sediada em Budapeste. Os pagers foram produzidos pela BAC Consulting KFT, sediada na capital da Hungria. Detalhes da explosão de pagers Homem mostra como ficou pager após explosão — Foto: Telegram/Reprodução Os explosivos utilizados para a explosão dos pagers — dispositivos de recebimento de mensagem por texto prévios ao celular — foram implantados através de um chip, eram indetectáveis e tinham um algoritmo específico para serem ativados, segundo disse nesta quarta a TV libanesa Al Mayadeen. Fontes de segurança ouvidas disseram que um chip “IC” foi implantado nos dispositivos e que foi o material de lítio que alimenta o “pager” que, ao receber a mensagem, provocou a explosão, e não a bateria, como se suspeitava inicialmente. Em cerca de 4 segundos após receber o som da chamada com uma mensagem escrita, os dispositivos explodiram automaticamente, tanto para quem os abriu quanto para quem não os abriu. Apenas os pagers que estavam desligados ou em áreas sem sinal não explodiram, assim como os dos tipos antigos. A explosão foi realizada através de uma mensagem com tecnologia avançada que ativou o material explosivo oculto, que utilizava técnicas complexas com algoritmos específicos para a operação. O método usado é tão moderno que os explosivos não puderam ser detectados por nenhum dispositivo de verificação convencional, nem mesmo por países e aeroportos globais. O ataque A onda de explosões durou cerca de uma hora. Entre os mortos, estão uma menina e dois integrantes do Hezbollah, segundo o grupo xiita. Imagens das câmeras de segurança de um supermercado em Beirute registraram o momento de duas dessas explosões: uma de um homem que pagava suas compras no caixa e outra perto de uma bancada de frutas. O embaixador do Irã no Líbano, Mojtaba Amani, foi um dos feridos pelas explosões. Segundo a embaixada, Amani sofreu ferimentos leves. A Cruz Vermelha Libanesa diz que mais de 50 ambulâncias e 300 equipes médicas de emergência foram enviadas para ajudar no socorro às vítimas. Após as explosões desta terça, o governo libanês pediu que todos os cidadãos que possuem pagers joguem os dispositivos fora imediatamente, segundo a agência de notícias estatal do Irã Irna. Um representante do Hezbollah, que falou à agência de notícias Reuters sob condição de anonimato, afirmou que a detonação dos pagers foi a “maior falha de segurança” a qual o grupo foi submetido desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023. Os pagers foram um meio de comunicação móvel desenvolvido nas décadas de 1950 e 1960 que se popularizou durante as décadas de 1980 e 1990, antes do crescimento do uso de celulares. VÍDEOS: mais assistidos do g1