O incentivo do Papa Francisco, na sua recente Carta sobre a importância da literatura para a formação dos Padres, para a leitura de textos de qualidade, aquilo a que chamamos ‘literatura’ (diz o Papa: ‘refiro-me ao valor da leitura de romances e poemas no caminho do amadurecimento pessoal’), é um desafio lançado ao mundo inteiro. Há que ler para crescer na educação. Tony Neves, em Jancido – Gondomar O Papa Francisco decidiu escrever uma Carta sobre a importância da literatura para a formação dos Padres. Depressa chegou à conclusão que o que faz crescer os padres ajuda toda a gente a melhorar os seus conhecimentos e a qualidade da relação com todos. Assim, este incentivo do Papa para a leitura de textos de qualidade, aquilo a que chamamos ‘literatura’ (diz o Papa: ‘refiro-me ao valor da leitura de romances e poemas no caminho do amadurecimento pessoal’), é um desafio lançado ao mundo inteiro. Há que ler para crescer na educação. Amigo de todas as horas, um livro pode ser particularmente importante em momentos mais complicados: ‘não faltam momentos de cansaço, irritação, desilusão, fracasso e, quando nem sequer na oração conseguimos encontrar o sossego da alma, pelo menos um bom livro ajuda-nos a enfrentar a tempestade, até que possamos ter um pouco mais de serenidade’. Partilhando a sua experiência de professor, o Papa propõe: ‘devemos seleccionar as nossas leituras com abertura, surpresa, flexibilidade, orientação, mas também com sinceridade, tentando encontrar o que precisamos em cada momento da vida’. E recorda que a literatura se torna um caminho indispensável para o diálogo com a cultura do nosso tempo, pois ‘inspira-se na quotidianidade vivida, suas paixões e acontecimentos reais, como ‘a ação, o trabalho, o amor, a morte e todas as pobres coisas que enchem a vida’. O Papa recorda à frente: ‘A missão eclesial soube desenvolver toda a sua beleza, frescura e novidade no encontro com diversas culturas – e muitas vezes graças à literatura – nas quais se enraizou, sem medo de arriscar e de extrair o melhor daquilo que encontrou’. Por isso, ‘não é por acaso que o cristianismo primitivo tenha percebido bem a necessidade de uma relação estreita com a cultura clássica da época’. Muitos cientistas defendem que ‘o hábito de ler produz muitos efeitos positivos na vida de uma pessoa: ajuda-a a adquirir um vocabulário mais vasto e, consequentemente, a desenvolver vários aspectos da sua inteligência; estimula também a imaginação e a criatividade; simultaneamente, permite que as pessoas aprendam a exprimir as suas narrativas de uma forma mais rica; melhora também a capacidade de concentração, reduz os níveis de deficit cognitivo e acalma o stress e a ansiedade’. Dizem mais: ‘prepara-nos para compreender e, assim, enfrentar as várias situações que podem surgir na vida. Ao ler, mergulhamos nas personagens, nas preocupações, nos dramas, nos perigos, nos medos de pessoas que acabaram por ultrapassar os desafios da vida, ou talvez, durante a leitura, demos às personagens conselhos que mais tarde nos servirão a nós mesmos’. O Papa Francisco recorre a um dos grandes escritores da sua América Latina: ‘ lembro-me do que o grande escritor argentino Jorge Luis Borges costumava dizer aos seus alunos: o mais importante é ler, entrar em contacto direto com a literatura, mergulhar no texto vivo que se tem diante de si, mais do que fixar-se em ideias e comentários críticos. E Borges explicava este pensamento aos seus alunos, dizendo-lhes que, talvez, no início compreendessem pouco do que estavam a ler, mas em todo o caso teriam escutado ‘a voz de alguém’. Aqui está uma definição de literatura que tanto me agrada: ouvir a voz de alguém. Não esqueçamos o quanto é perigoso deixar de ouvir a voz do outro que nos interpela! Caímos imediatamente no isolamento, entramos numa espécie de surdez ‘espiritual’, que também afeta negativamente a nossa relação connosco próprios e com Deus, por mais teologia ou psicologia que tenhamos conseguido estudar’. A leitura é uma espécie de ‘ginásio de discernimento’, tentando escapar de alguns riscos como o da ‘busca duma eficiência que banaliza o discernimento, empobrece a sensibilidade e reduz a complexidade. Por isso, é necessário e urgente contrabalançar esta inevitável aceleração e simplificação da nossa vida quotidiana, aprendendo a distanciarmo-nos do imediato, a reduzir a velocidade, a contemplar e a escutar. Isto pode acontecer quando, de modo desinteressado, uma pessoa se detém para ler um livro’. Há que ‘ver através dos olhos dos outros’, tentando perceber o papel espiritual da literatura. O Papa termina com uma citação do poeta Paul Celan: ‘Quem realmente aprende a ver, aproxima-se do invisível’. Oiça aqui a reportagem e partilhe Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui