2024 encerra-se para a Colômbia sem uma das figuras célebres da sua cultura: Leonor Gonzáles Mina, que levou o folclore do país além-fronteiras. Con- tinuará, todavia, a inspirar as lutas dos afrodescendentes pela igualdade no mundo, sobretudo nesta altura em que a ONU acaba de renovar a Década Internacional dos Afrodescendentes, prolongando-a até 2034. Também o EPA, Encontro de Pastoral Afro, terá a sua edição continental (América e Caribe) em novembro de 2025, em Lujan, na Argentina. Dulce Araújo – Vatican News Quem era Leonor González Mina? O poeta, ensaísta e editor, Filinto Elísio (Rosa de Porcelana Editora” no-la dá a conhecer na sua crónica, parte integrante do programa radiofónico ” África em Clave Cultural: personagens e eventos”. Desta vez, a emissão lança também o olhar às palavras do Papa Francisco durante a sua visita pastoral, em 2017, à Colômbia e em particular à cidade de Cartajena, noroeste do país, onde africanos escravizados desembarcaram no século XVI, e por onde chegaram também os primeiros missionários com a mensagem evangélica. EPA 2025 Francisco recordava, no entanto, que poucos cristãos, mesmo consagrados, se puseram do lado dos negros. São Pedro Claver foi uma exceção. Procurou restituir esperança e dignidade àquelas pessoas, que ainda hoje, vivem sequelas sociais dessa condição desumana. A Igreja pouco fez ao longo de séculos, mas, a partir dos anos 80, começou nas Américas e Caraíbas, a Pastoral Afro, que trabalha em duas vertentes: evangelizar os afrodescendentes, tendo em conta a sua cultura e religiosidade, antes espezinhadas, e impulsionar a promoção humana para melhorar as suas condições sociais. Para além da Pastoral Afro a nível de cada país, há também a tentativa de harmonização a nível continental e é nesta senda que está agendada para novembro de 2025, em Lujan, na Argentina, o próximo Encontro da Pastoral Afro. II Década Internacional dos Afrodescendentes 2025-2034 De salientar também que a ONU proclamou em 2025 uma Década Internacional dos Afrodescendentes sobre o tema “Reconhecimento, Justiça e Desenvolvimento” com o intento de levar os Estados-membros a encetar iniciativas que fossem nessa direção. Mas, pouco se se fez e agora, sob a pressão de vários países, entre os quais a Colômbia e o Brasil, a ONU renovou a 17 de dezembro 2024, esta Década que agora se prolonga até 2034 para intensificar as medidas viradas para a concretização desses objetivos. Tudo isto, assim como interpretações canoras de Leonor González Mina, é apresentado na emissão. Mas leia já aqui a crónica sobre a sua vida e percurso. Crónica “Leonor González Mina, conhecida como La Negra Grande de Colômbia e como ativista afro-colombiana, faleceu no dia 27 de novembro de 2024, aos 90 anos. Leonor González Mina marcou para sempre a história da música colombiana e o seu exemplo inspira a valorizar e a defender as tradições culturais, assim como a lutar por um mundo mais justo. Nasceu em junho de 1934 na aldeia de Robles no seio de una família trabalhadora. Filha de um agricultor de cacau católico e de uma empregada doméstica evangélica, cresceu entre cantos e tradições orais que marcariam o seu caminho artístico. Desde pequena, o seu avo, havia sido escravizado, inspirou-a na forma de cantar. O seu talento a levou a desafiar as expectativas da família, que sonhava que ela seguisse uma carreira convencional. Ela só queria cantar e essa determinação a levou a abandonar o colégio de freiras onde chegou a sofrer discriminação racial, marcando um momento decisivo em sua vida. Aos 18 anos, Leonor decidiu tomar as rédeas do seu destino e viajou para Bogotá, onde integrou o ballet folclórico dos irmãos Delia e Manuel Zapata Olivella. Foi aí que ela começou a brilhar, primeiro como dançarina e depois como cantora. A sua primeira apresentação internacional ocorreu em Paris, dando-lhe uma projeção global. Em 1964, gravou o seu primeiro álbum, Cantos de mi tierra y de mi cepa, sob a direção de Hernán Restrepo Duque, que também lhe deu a música que a imortalizaria: La Negra Grande de Colômbia. Desde então, tornou-se a embaixadora do folclore colombiano, levando canções como Mi Buenaventura, El alegre pescador e Yo me llama Cumbia aos palcos de todo o mundo. O seu legado foi reconhecido com prémios como a condecoração Andrés Bello na Venezuela (1978) e a Ordem Simón Bolívar na Colômbia (1980). A vida de Leonor não se limitou à arte, pois foi também uma ativista empenhada. Inspirada pela sua própria experiência de discriminação, dedicou à luta pela igualdade racial e de género. Em 1998 ingressou na política e foi eleita deputada à Câmara de Bogotá, usando a sua voz para defender os direitos das comunidades afro-colombianas. Leonor González Mina será lembrada pela sua voz única e pela sua capacidade de transformar adversidades em arte e ação. O seu legado vive nas canções que ressoam em todos os cantos da Colômbia e na memória de uma mulher que mostra que a música e a justiça social podem andar de mãos dadas. La Negra Grande de Colômbia nos transmite uma mensagem de resistência, orgulho e amor pelas nossas raízes. Já gravou mais de 30 discos, muitas séries de televisão recordadas eno seu país e inclusive já esteve sob as ordens de Bernardo Bertolucci. Dedicou-se a realizar trabalho social em Robles, no Valle del Cauca. Deixa um vazio no mundo da música e do folclore, mas também um imenso legado que transcenderá gerações. Esta artista representou a riqueza cultural do Pacífico colombiano e também foi uma defensora da igualdade e da justiça social.” A cantora Aqui a emissão semanal “África em Clave Cultural: personagens e eventos” Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui