Enquanto a candidata democrata demonstrava tranquilidade e firmeza — fez questão de dirigir-se a ele, apertar a sua mão e apresentar-se pelo nome —, Trump parecia zangado e descontrolado. Ela olhava diretamente para ele, esboçava sorrisos sarcásticos, pousava a mão no queixo para ouvi-lo e demonstrava desdém. Ele simplesmente se recusava a encará-la. A vice-presidente sorria, sem se abalar à realidade apocalíptica, apresentada por Trump. A cada ataque que recebia, ela posicionava o adversário na defensiva: “Com você, Putin estaria sentado em Kiev”. “Você é uma vergonha. Não sou eu que estou dizendo isso. São líderes de países com quem eu falo. Líderes militares que trabalharam com você, me dizem que você é uma desgraça.” Se o plano da campanha republicana era colar a imagem de Kamala na do presidente americano, a estratégia não funcionou. A vice-presidente soube se descolar de Biden com elegância. “Ela é Biden”, afirmou Trump. “Claramente eu não sou Joe Biden, e certamente não sou Donald Trump”, respondeu a democrata. “E o que eu ofereço é uma nova geração de liderança para o nosso país, uma que acredita no que é possível, uma que traz um senso de otimismo sobre o que podemos fazer, em vez de sempre menosprezar o povo americano.” O formato do debate da ABC News ajudou a desmontar as mentiras de Trump, pela intervenção dos moderadores David Muir e Linsey Davis, com a checagem dos fatos em tempo real. Isso irritou ainda mais o ex-presidente e deu munição aos republicanos para criticar o modelo e questionar a imparcialidade. Em 100 minutos, Trump falou mais do que Kamala, mas, em contrapartida, ela ofereceu mais sustança aos eleitores e assumiu o controle do debate. Candidato republicano à presidência, Donald Trump, e a candidata democrata Kamala Harris — Foto: Brian Snyder/Reuters