Roberto Jeferson da Silva, o Gordo, e Marcos Vinicius Ferreira foram condenados a 28 anos de prisão. Já Marcos Vinicyus Sales de Oliveira foi sentenciado a 30 anos de reclusão. Cabe recurso. Jonas Lucas Alves Dias, de 55 anos, ganhador da Mega-Sena, assassinado em Hortolândia (SP) — Foto: Reprodução Participação de cada condenado Na sentença, o juiz Christiano Rodrigo Gomes de Freitas, da 2ª Vara Criminal de Hortolândia, apontou que Marcos Vinicyus teve papel de coordenação, sendo o ponto comum e central entre a ação financeira e a de extorsão. Além disso, ele atuou no sequestro da vítima. “Sua conduta também foi determinante ao resultado morte decorrido das lesões contra a vítima, ciente de que os dados financeiros e mesmo o contato da vítima com o gerente bancário se obteve mediante violência física contra a vítima, minimamente assumindo o risco pela morte dada a gravidade das lesões”, decidiu o juiz. Em nota, a defesa de Marcos Vinicyus de Oliveira afirmou que entrará com recurso. “A defesa busca a desclassificação do crime, ficou evidente que a vítima faleceu por falta de atendimento médico adequado, o acusado não pode responder pela morte, mas somente pela lesão grave”, alegou. Já sobre Gordo, o magistrado apontou que ele atuou para viabilizar que o dinheiro obtido no crime chegasse nas mãos dos autores. “Vê-se que a atuação de Roberto Jeferson foi de grande relevância, já que, sendo o objetivo do crime a obtenção de vantagem financeira, eram a abertura de conta e a possibilidade de movimentação dos valores medidas fundamentais ao sucesso da empreitada criminosa”. Por fim, Marcos Ferreira da Silva trabalhou no sequestro da vítima e ficou responsável por manter a vítima em cativeiro, inclusive obtendo as informações bancárias necessárias e exigindo que a vítima contatasse o gerente dele para transferir valores. “Atuou, assim, de modo direto e determinante para o resultado morte que se produziu em decorrência das lesões infringidas na vítima”, finalizou o juiz. O g1 tenta localizar a defesa dos outros condenados. Marcos Vinicyus Sales de Oliveira, conhecido como Vini, quinto suspeito preso por envolvimento na morte do ganhador da Mega-Sena — Foto: Polícia Civil/Divulgação As absolvições Os réus absolvidos são Rebeca Messias Pereira Batista e Rogério de Almeida Spínola. O alvará de soltura foi cumprido às 11h45 desta terça-feira (17). Segundo a decisão do juiz a absolvição de Rebeca e Spínola ocorreu “por não existir prova suficiente para motivar uma condenação”. O Ministério Público havia denunciado Rebeca por supostamente ter fornecido documentos para abertura de uma conta bancária para onde foi transferido dinheiro retirado do milionário da Mega-Sena. No entanto, segundo a sentença, Rebeca “não realizou diretamente qualquer operação em conta da qual era titular, tampouco exerceu qualquer determinação a respeito, não tendo, ainda, recebido qualquer valor”. Segundo o juiz, ela recebeu a informação de que havia R$ 10 mil na sua conta, mas o dinheiro era “dos caras”. Portanto, o magistrado decidiu que não havia prova suficiente de que ela tinha ciência e envolvimento na ação. Já sobre Rogério Spínola, as provas demonstraram que Gordo se utilizava dele, que é usuário de drogas, para se aproximar de moradores em situação de rua e outros usuários de drogas para obter documentos pessoais. No entanto, o juiz entendeu que Spínola não intermediou a obtenção de documentos para abertura de conta no nome de Rebeca e também não atuou em movimentações financeiras de valores da extorsão contra a vítima. Ele também não teria recebido qualquer valor, concluiu. A investigação da Polícia Civil havia apontado, anteriormente: 👤 Rebeca Messias Pereira Batista (absolvida): teria fornecido documentos para abertura de uma conta bancária para onde foi transferido dinheiro retirado do milionário da Mega-Sena. 👤 Roberto Jeferson da Silva, o Gordo (condenado): responsável por abrir a conta com os dados de Rebeca, inclusive deu o endereço pessoal para abertura da conta. Também fez o saque de parte do dinheiro depositado na conta.👤 Rogério de Almeida Spínola (absolvido): foi apontado como suposto comparsa de Gordo, sempre visto em sua companhia nos vídeos obtidos pelo Polícia Civil. 👤 Marcos Vinicyus Sales de Oliveira (condenado): após a abertura da conta pelo trio, teria dado o “start” para o crime. Seria o motorista da caminhonete S-10 vista no local onde o milionário foi sequestrado. Ele nega que tenha arrebatado a vítima, mas confirma que, de posse do cartão e senha, foi até o banco habilitar o aplicativo em um celular, onde fez as transferências via Pix.👤 Marcos Vinicius Ferreira (condenado): dono do Ford Fiesta preto que teria sido usado para sequestrar Jonas Lucas. Segundo a Polícia Civil, ele seria o responsável por manter o milionário sob ameaça, possivelmente com auxílio do revólver apreendido com ele. O suspeito nega e diz que emprestou o carro para Vini. Relembre o caso A investigação da Polícia Civil apontou que Jonas Lucas – ou “Luquinha”, como era conhecido entre amigos – saiu de casa na manhã de 13 de setembro de 2022, no Jardim Rosolém, em Hortolândia, para caminhar, como sempre fazia, levando carteira e documentos. No percurso, o milionário foi sequestrado por criminosos que o mantiveram sob ameaça por cerca de 20 horas. No dia seguinte, a vítima foi encontrada às margens da Rodovia dos Bandeirantes com sinais de espancamento e socorrida ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Para a delegada que comandou a investigação, Juliana Ricci, os cinco réus agiram motivados pelo prêmio. Além disso, Ricci rechaçou a versão de alguns dos acusados de que teriam apenas fornecido documentos ou agido com a intenção de cometer estelionato. “Investigamos todos eles como integrantes, todos tinham suas tarefas. Alguns dos presos alegam que iriam praticar crimes menores, como estelionato, mas o que temos até agora é apenas a conta aberta em que depositaram dinheiro da vítima. Não tem outra conta, não tem outras vítimas”, falou à época em que o quinto suspeito foi preso. Transferência de R$ 3 milhões Fantástico mostra as últimas imagens do ganhador da Mega-Sena que foi assassinado Em áudios obtidos pelo Fantástico (ouça acima), Jonas Lucas pede à gerente do banco que libere uma transferência de R$ 3 milhões a partir da conta dele, mas sem sucesso. Os pedidos foram feitos enquanto ele estava sob o poder do grupo. “Não chegou nada do comprovante, consegue agilizar isso pra mim?”, falou Jonas em uma das mensagens de áudio. “Tô aqui na fazenda, preciso fechar isso aqui hoje”, afirmou, em outro momento. A delegada explicou que a transferência foi negada porque “o valor era irreal”. “Ele estava subjugado, disso nós temos certeza. Pede transferência bancária, que obviamente foi negada porque o valor era irreal para ser transferido sem ser presencialmente”, destacou. Comoção e irmãos escondidos Considerado um homem simples, Jonas Lucas não tinha os pais vivos nem era casado, e morava com uma irmã e um irmão na mesma casa que tinham antes do prêmio da loteria, no Jardim Rosolém. Vizinhos ficaram chocados com o crime. Assustados, os irmãos da vítima deixaram a casa em que moravam no bairro após o crime, conforme um amigo da vítima revelou à EPTV, afiliada da TV Globo. “Depois do velório, não vi mais, não tenho notícia. Que resolva o caso o mais rápido possível. Nem se souber (o local), vou falar”, frisou. Morte de ganhador da Mega: amigo diz que deu conselho para vítima sobre rotina Conselho de amigos “‘Muda de lugar, Luquinha, vai para um condomínio fechado, muda a rotina’. Ele nunca quis”. Uma das aplicações que fez com o dinheiro foi reformar a residência que dividia com os irmãos, mas nada de luxo. De hábitos simples, Jonas Lucas saía de casa todos os dias entre 5h30 e 6h e seguia até uma padaria do bairro. Na manhã do dia 13, acabou sequestrado, extorquido e espancado. Lotérica em Campinas onde Jonas Lucas fez a aposta vencedora — Foto: Reprodução/EPTV