A desinformação climática está em toda parte, ameaçando a nossa e as futuras gerações. Combatê-la não é tarefa fácil. Exige o fortalecimento e o estabelecimento de uma sólida e permanente parceria entre ciência, jornalismo e educação voltada à sustentabilidade com respeito aos direitos dos indivíduos e à diversidade de vozes. Esse é o alerta que faz a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), ao liderar as atividades globais deste ano alusivas ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, comemorado nesta sexta-feira (3), com atividades dedicadas à importância do jornalismo e da liberdade de expressão no contexto da crise ambiental no planeta. Nesta agenda, um ponto destacado pela Unesco é a garantia de segurança dos jornalistas e dos veículos de notícias independentes, plurais e de reconhecida credibilidade, sobretudo fora dos grandes centros. Segundo a Unesco, repórteres investigativos têm lançado luz sobre crimes ambientais, expondo corrupção e interesses poderosos, e por vezes pagando um preço caro por fazerem o seu trabalho. No Brasil, é o que acontece no escrutínio das ilegalidades ocorridas na Amazônia, região vital para a sustentabilidade do planeta. O caso mais emblemático nesse sentido é, sem dúvida, o assassinato, em 2020, do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, mortos de forma cruel na região em uma ação do crime organizado em represália à busca incansável dos dois por informações que denunciavam a caça e a pesca predatória, o tráfico de animais e o desmatamento e a mineração ilegais. Não se trata, porém, de um ponto fora da curva, infelizmente. Segundo relatório da Repórteres Sem Fronteiras (RSF), foram registrados 66 casos de ataques à imprensa nos nove estados que compõem a Amazônia Legal ao longo de um ano, entre 30 de junho de 2022 e 30 de junho de 2023. A insegurança na região, relata a RSF, combinada com pressões políticas e econômicas, cria condições que levam os jornalistas à autocensura. Essa situação, diz a Unesco, se repete nas mais diversas regiões do planeta onde os jornalistas enfrentam desafios significativos na procura e divulgação de informações sobre questões contemporâneas relacionados às alterações do clima, tais como problemas nas cadeias de abastecimento, migração climática, indústrias extrativas, mineração ilegal, poluição, caça furtiva, tráfico de animais e desmatamento. As diversas ameaças (físicas, econômicas, políticas, psicológicas, digitais e jurídicas) às quais os jornalistas estão sujeitos, ressalta a agência da ONU, refletem um contexto complexo em que existe uma luta constante pelo controle da informação. Nessa batalha informativa, o mundo tem convivido com uma acirrada polarização ideológica, um campo fértil ao extremismo, que tem se aproveitado dos efeitos colaterais das redes sociais para espalhar desinformação e discurso de ódio com o objetivo de desestabilizar democracias e abrir caminho para o autoritarismo. Como contraveneno à desinformação, além de garantir a prática do jornalismo independente, a Unesco defende também a transparência das empresas tecnológicas, a sua responsabilização, a devida diligência e a moderação e curadoria de conteúdos com base nas normas internacionais de direitos humanos, conforme indicado nas diretrizes da agência para Governança de Plataformas Digitais. Tudo isso é fundamental, mas não é o suficiente. Como defende a própria Unesco, é preciso ainda proporcionar a capacitação dos usuários das modernas tecnologias —que avançam de forma exponencial, como é o caso da inteligência artificial generativa— para se envolverem e pensarem criticamente no ambiente digital. Além de garantir a educação midiática, o entendimento da ciência e o acesso ao jornalismo a toda população. Melhor ainda quando essas ações conseguem chegar às comunidades mais vulneráveis. Foi o que fez, por exemplo, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em outubro de 2023, no Rio de Janeiro. Crianças e jovens moradores da favela de Manguinhos participaram de oficinas e de jogos interativos sobre desinformação e atenção ao meio ambiente oferecidos pela Fiocruz e seus parceiros. “Se elas (crianças e jovens) entendem como o conhecimento da ciência e do jornalismo funcionam, aumenta a chance de elas poderem reconhecer quando o que vem é diferente disso, mesmo que não conheçam o contexto das informações”, diz Eric Andriolo, assessor de comunicação da Agenda Jovem Fiocruz e cientista político. Como se vê na prática, a aliança entre ciência, jornalismo e educação midiática é, sem dúvida, o melhor antídoto contra a desinformação climática.