Campinas
Um suposto caso de intolerância religiosa em uma música de Claudia Leitte continua gerando polêmica. A cantora de axé deixou de seguir (e ser seguida) por Ivete Sangalo no Instagram, semanas depois do caso ganhar força nas redes.
O fato evidencia um distanciamento entre os dois maiores nomes do gênero –tradicionalmente ligado à cultura afro-brasileira.
Conforme apurou F5, embora as duas não se sigam mais na rede social da Meta, Claudia ainda segue Ivete no ‘X’. Ivete, porém, não segue mais a colega de axé, enquanto continua a seguir outros nomes do gênero.
As duas, que já gravaram juntas a canção “Lambada”, ascenderam na música em Salvador –embora Leitte seja natural do Rio–, berço do gênero. Nos últimos dias, internautas interpretaram que Ivete ficou desagradada com a decisão da colega de mudar um trecho da música “Caranguejo”.
Em um de seus últimos shows, em vez de dizer “saudando a rainha Iemanjá”, ela cantou “eu canto meu rei Yeshua”, que significa Jesus em hebraico.
A alteração foi criticada pelo secretário de Cultura de Salvador, Pedro Tourinho, que acuso u a cantora de racismo religioso. Ivete curtiu o comentário de Tourinho, mas retirou a curtida em seguida.
Mesmo sem citar nomes, Tourinho falou o seguinte sobre o episódio: “Quando um artista se diz parte desse movimento, saúda o povo negro e sua cultura, reverencia sua percussão e musicalidade, faz sucesso e ganha muito dinheiro com isso, mas de repente, escolhe reescrever a história e retirar o nome de Orixás das músicas, não se engane: o nome disso é racismo.”
APURAÇÃO NO MINISTÉRIO PÚBLICO
Claudia Leitte foi acusada de cometer intolerância religiosa em representação recebida pelo Ministério Público da Bahia.
A representação chama a mudança da letra da música de “conduta difamatória, degradante e discriminatória”. Ela foi feita pelo advogado Hédio Silva Jr., coordenador-executivo do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro), e por Jaciara Ribeiro, sacerdotisa do terreiro Ilê Axé Abassa de Ogum.
O Ministério Público marcou, para o dia 27 de janeiro, uma audiência pública para o caso. Caso o MP considere como pertinente, a presença dos compositores de “Caranguejo” também pode ser solicitada.
No dia 19, foi instaurado um inquérito civil para investigar a artista por supostamente cometer intolerância religiosa. A informação foi confirmada à Folha pela promotora Lívia Sant’Anna Vaz, representante da Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa.
Procurada, a assessoria de imprensa de Claudia Leitte não comentou o caso.