Investigação do Cenipa sobre queda do avião em Vinhedo deve sair em 30 dias

Investigação do Cenipa sobre queda do avião em Vinhedo deve sair em 30 dias

As duas caixas pretas do ATR-72 da Voepass foram localizadas na noite da sexta-feira (9) pelas equipes de resgate, em Vinhedo, e levadas para o laboratório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, em Brasília. O brigadeiro Marcelo Moreno, chefe do Cenipa, disse neste sábado (10) que o trabalho de análise já começou. “Importante deixar claro que não existe ainda uma previsão de término dos trabalhos porque, em razão da importância dessas informações, nós estamos priorizando a qualidade em vez da celeridade. Iniciamos primeiro a tentativa de degravação de dados de voz e na sequência os gravos de dados”, afirmou Moreno. A aeronave possui duas caixas pretas. Uma grava as conversas dentro da cabine de comando. A outra armazena parâmetros do avião, como altitude, velocidade e funcionamento dos motores. Especialistas dizem que nenhuma hipótese pode ser descartada neste momento, mas avaliam que as imagens feitas por testemunhas e as informações meteorológicas, que indicavam gelo severo em aeronaves, sugerem que o congelamento das asas pode ter contribuído para o acidente. O professor de engenharia aeronáutica da USP, James Waterhouse, explica como o gelo compromete a aerodinâmica. “O que acontece é que existem duas formas de gelo. Uma das formas é a gota de água, a gotícula de água, está super-resfriada, e quando ela bate nessa parte da asa ao longo dessa linha que a gente chama bordo de ataque, ela imediatamente congela e outras gotas que estão à frente vão fazendo a mesma coisa. Então a formação de gelo é muito rápida. E nessa parte da asa cria-se uma crosta de gelo, uma camada de gelo que acaba com o fluxo aerodinâmico da asa”, explicou o professor. Duas caixas pretas do ATR-72 da Voepass, que caiu em Vinhedo, estão em poder da equipe do Cenipa para investigação sobre o acidente. — Foto: Reprodução/Jornal Nacional Para evitar isso, os aviões comerciais têm sistemas anti-gelo. Um deles infla e quebra as placas que se acumulam na frente das asas. Quando o gelo começa a afetar o desempenho do voo, sinais sonoros e luminosos alertam a tripulação. Na cabine do ATR-72, os avisos ficam bem na altura dos olhos dos pilotos. Segundo o manual, gelo severo indica que a taxa de acúmulo é tão rápida que os sistemas de proteção contra gelo falham em remover o acúmulo, e que a tripulação precisa sair dessa condição imediatamente. O fabricante também alerta que o gelo severo, acumulado nas superfícies do avião como asa e estabilizador horizontal, pode não ser removido pelo sistema antigelo e degradar seriamente a performance e a capacidade de controle da aeronave. Os peritos da Aeronáutica já sabem que nenhuma peça se soltou durante a queda do avião, o que eduz as chances de o acidente ter sido causado por uma falha estrutural. Um dos objetivos da investigação agora é tentar descobrir se os vários dispositivos de segurança da aeronave estava funcionando, incluindo o antigelo. O Cenipa também vai analisar as conversas entre os pilotos para entender quais as ações tomadas nos instantes que antecederam a queda. Uma equipe de especialistas da fabricante ATR já está no Brasil e outros técnicos franceses devem chegar nos próximos dias para ajudar nas investigações.

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