Mas em São Carlos (SP), a paixão de uma família pelo carrinho conseguiu reunir um grupo de pessoas que compartilham desse interesse e reúne de crianças a idosos. O grupo foi formado por iniciativa do DJ Alexandre Tello com a ideia de tirar os filhos um pouco das telas do celular. Crianças a partir de 8 anos são presença maciça no grupo. Na foto, competição realizada em Tambaú (SP) em março deste ano. — Foto: Arquivo pessoal Hoje, são 50 participantes. Ao menos uma vez por semana eles se reúnem para dar uma volta. O grupo realiza até competição. “Atualmente nós formamos um grupo para competição, e além das famílias que participam, temos também alguns pilotos de competição . Nos encontramos e treinamos em uma pista da cidade ideal para o rolimã”, contou Tello. O grupo se reúne na avenida do Parque Ecotec Damha todas às terças-feiras, às 19h30, e em um sábado ao mês. O local foi escolhido por não ter movimento de carros. Encontro de carrinhos de rolimã reune pessoas de 8 a 80 anos em São Carlos. Na foto, Alexandre “puxa” a turma no “trenzinho” de rolimã de 7 lugares. — Foto: Renan Ciconelo/EPTV Brincadeira analógica x tecnologia Em 2017, Alexandre assistiu um vídeo nas redes sociais e resgatou na memória o amor pelo rolimã. Logo depois, resolveu fazer um para curtir com os quatro filhos. A princípio, o DJ pensou que a brincadeira “analógica” não vingaria com as crianças devido ao apelo do celular hoje em dia. Mas se enganou. “Eu achei que não ia dar certo, mas o meu filho menor gostou. A minha outra filha de 6 anos, na época, gostou também e, depois, odos aderiram a brincadeira” , comentou. Alexandre Tello criou o grupo em São Carlos com intuito de tirar os filhos do celular; iniciativa deu certo. — Foto: Renan Ciconelo/EPTV O filho Davi, de 9 anos, dá show e arrisca algumas manobras. “É mais legal que o celular e dá bastante adrenalina. Ficar no celular lá parado, sem fazer nada dá tédio”, disse. Tello é só alegria e percebe que até a relação dos filhos com outras crianças mudou após o começo da brincadeira no asfalto. “Abriu a mente das crianças, a comunhão entre meus filhos e as outras crianças hoje é maior, porque meu filho acaba dividindo o carrinho dele com outras crianças, acaba convidando a criança para vir para grupo, mostrando que aquilo que é bom pra ele, quer dividir com as outras crianças”, afirmou o DJ. A alegria da galerinha é um super rolimã batizado de “foguetão”. Ele comporta 3 pessoas e atinge até 60 km/h. Oficina de reparos e ponto de encontro Ele montou uma oficina de reparos que funciona como um hobby e garante que todos os carrinhos fiquem em ordem e em segurança. Alexandre Tello em ação na oficina de reparos; espaço conserta rolimãs do grupo de São Carlos. — Foto: Renan Ciconelo/EPTV Quem não tem condição de ter o carrinho, mas é cheio de vontade de descer uma ladeira pode contar com a solidariedade de pessoas do grupo que emprestam e até doam os equipamentos. “Nós corremos atrás de doações, alguns amigos tem empresa que trabalham com torno e com prensa e acabam doando para gente. Assim conseguimos emprestar para outras pessoas que não têm condições ou não têm ferramentas”, disse Tello. Nostalgia Rolimã atrai adultos atrás de diversão e memórias da infância em São Carlos. Na foto: Alexandre Tello (esquerda), André (direita) mecânico do grupo e amigos. — Foto: Arquivo pessoal No Brasil, o auge dos carrinhos de rolimã ocorreu na década de 1960, e os primeiros eram bem diferentes dos atuais. Rústicos, de madeira e feitos com pregos e parafusos, era comum desmontarem no final da corrida. Hoje, além da madeira, o metal reforça e dá mais estrutura e segurança para o “brinquedo”. “Quando a gente descia, dificilmente ele voltava inteiro, vinha todo desmontado, mas a brincadeira era essa, descia, desmontava, subia, montava, descia de novo. Hoje são bem diferentes feitos de metalão, é um carrinho mais seguro”, contou o mecânico André Luiz da Fonseca . Tello retorna no tempo e se lembra da alegria que era montar um carrinho com retalhos de tábua, pedaços de caibro e lixas velhas. “Para nós era como ter um carro, né? Como ter um brinquedo muito mais que arrojado, e eu via os amigos andando e também queria ter um, porque não tinha condições de ter uma bicicleta. O rolimã era a nossa riqueza na época”, contou. Alexandre Tello só tem boas lembranças : “Para nós era como ter um carro. O rolimã era a nossa riqueza na época”, disse. — Foto: Renan Ciconelo/EPTV O fotógrafo Essio Pallone Fillho estava no primeiro campeonato de carrinho de rolimã em São Carlos. Junto a amigos, ele costumava construir os próprios carrinhos com auxílio de um marceneiro da cidade. O local preferido para dar rolê era em frente da Universidade de São Paulo (USP). “A gente se reunia a noite e andávamos na USP até enjoar, andando ali naquela baixada que passa em frente à biblioteca e no Caaso”, lembrou. Mesmo com as possibilidades de carrinhos prontos à venda, muitos pais e filhos ainda preferem montar o seu próprio “brinquedo” peça por peça. É o caso do garoto Luís Correa Bueno. Para ele, o que é importa é a diversão e o momento. “Na verdade, não precisa de muito, porque o pouco já dá pra se divertir bastante”, contou.