O professor Juliano Fantazia, responsável pelas disciplinas de redação e empreendedorismo, é o orientador do projeto. Para ele, é essencial ensinar aos alunos sobre empatia e praticar atividades como esta, de arrecadação e doação, que visam contribuir para o próximo. Juliano, que também é jornalista, entrevistou em 2023 dois sobreviventes do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria (RS). Então, quando deu início ao projeto, entrou em contato com eles para saber se conheciam alguém confiável para enviar as doações. O professor foi apresentado a um voluntário que iniciou um projeto na região de Santa Maria, distribuindo doações aos locais mais necessitados. Giovani Busanello Avila recebe dinheiro e realiza compras, as quais distribui conforme a necessidade das pessoas que estão em situação vulnerável. Certificado de que o dinheiro teria destino correto, Juliano e a turma passaram a recolher dinheiro entre si, arrecadando a quantia inicial de R$ 3 mil em dois dias. O plano, conta o professor, é continuar a arrecadação, e pra isso os alunos vão fazer rifas e mais atividades que possam contribuir com dinheiro. Doações recolhidas por alunos de escola em Piracicaba com destino ao Rio Grande do Sul — Foto: Arquivo pessoal Alunos motivados Gabriel Farias foi um dos alunos engajados no processo de arrecadação da escola. Para ele, ajudar as vítimas da tragédia significa colocar em prática os princípios aprendidos no dia-a-dia e em sala de aula, e também a capacidade de ter empatia. “Na vida, na escola, sempre aprendemos que temos a capacidade de sentir o que o outro sente, e se colocar no lugar dele. Então visando tudo isso conseguimos nos colocar no lugar deles, e ver o sofrimento inimaginável que estão passando”, explica o aluno. Ele fala também sobre a ideia de doar dinheiro e não somente mantimentos e roupas. “Destinando o dinheiro aos grupos de auxilio da região, eles poderiam fortalecer os comércios locais, comprando produtos diretamente de empresas locais não afetadas diretamente pelas cheias.” Outra participante da ação foi a aluna Lívia Corrêa, que explicou sobre valores aprendidos em sala que a fizeram entender que deveria participar do projeto para ajudar as pessoas afetadas. “Vimos nas aulas de sociologia e literatura no colégio que a vida não é apenas física, é social. Neste projeto, tentamos cumprir nosso dever como parte de uma sociedade, tentando dar continuidade à vida dessas pessoas. Temos o dever com a coletividade”, explica Lívia. “O sentimento é de cumprir um dever para que essa coletividade continue viva, não apenas materialmente, mas também socialmente, para que se sintam acolhidos pela sociedade diante dessa infeliz tragédia”, finaliza a estudante. Contato direto com voluntários Giovani faz prestação de contas de tudo que é comprado com o dinheiro doado para as vítimas do Rio Grande do Sul — Foto: Arquivo pessoal No RS, o grupo de Giovani já comprou e distribuiu cerca de 6,5 toneladas de alimentos. Ele explica que o projeto nasceu de uma ideia particular, mas acabou tomando grandes proporções e agora conta com ajuda de cerca de 16 voluntários, todos amigos, e empresários, médicos e veterinários da área de Santa Maria. Cerca de 300 cestas básicas foram doadas para o grupo, que se encarregou de doar. Giovani conta que as doações vem de diferentes parte do Brasil e do mundo, como Maranhão, Irlanda e Estados Unidos, além de Piracicaba. “Estamos na linha de frente, vamos literalmente onde precisa. Fazemos mapeamento das regiões com moradores e vamos diretamente onde tá necessitando”, explica o voluntário. A próxima parte do projeto será focada em comprar itens que ajudem as família a reconstruir casas. As compras vão passar a ser voltadas para materiais de construção, o que, explica Giovani, vai fazer com que a necessidade de doações seja ainda maior. Inspiração para outros Ao falar sobre o projeto, Juliano frisa que sua maior motivação é ensinar aos alunos lições sobre valores morais, inspirando-os para que se sintam motivados a fazer o bem. “Mais do que dar aula e ensinar, pra mim, eu acho que temos que ensinar lições de vida. Eu não tô com a casa alagada mas eu me coloco no lugar”, explica Juliano. “Sei que é muito pouco perto de um artista que tem mandando meio milhão de reais, mas eu acho que só da gente poder se solidarizar, incentivar que outros estudantes se mobilizem e façam isso, acho que é bem legal”, defende o professor. VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região *Sob supervisão de Arthur Menicucci