O registro foi o primeiro da espécie na região, e portanto é inédito. Por ser uma águia florestal, que exige grandes remanescentes de floresta para sobreviver, o avistamento surpreendeu os observadores, uma vez que o local não conta com as características naturais preferenciais de habitat da ave. “Quando ele começou a se aproximar, não fazíamos ideia que podia ser ele, visto que não havia nenhum registro da espécie na região da Canastra”, relata o observador Henrique. “Enquanto ele se aproximava, vários nomes foram sugeridos por mim e pelos meus amigos, como gavião-caranguejeiro, caboclo, mas conforme chegou perto e conseguimos observar as faixas marrom na lateral da cabeça e seu imponente e inconfundível penacho, aí tivemos certeza”. Depois da confirmação sobre o gavião-de-penacho, o grupo ficou eufórico, tomado pela emoção. Para Henrique, esse registro abre portas para que novos observadores de aves busquem a espécie na Serra da Canastra pois, ao compartilhar o encontro com o animal nas redes sociais, diversas pessoas já solicitaram uma localização aproximada de onde o indivíduo pode estar. Grupo de observadores na Serra da Canastra (MG). — Foto: Henrique Teles “A natureza faz parte de todos nós. Sempre que estamos no meio do mato contemplando e observando as aves, esquecemos de tudo e nos sentimos bem e completos. Ali não há problemas, nem cobranças, o que é muito comum em nossos trabalhos. Quando estamos passarinhando na natureza, todos estes problemas vão embora”, revela Henrique. Henrique atua como empresário no ramo de automação industrial, Júlio é um policial aposentado que trabalha atualmente prestando serviços de segurança e Mario é médico radiologista. Segundo ele, a observação de aves salvou sua vida, pois há alguns anos atrás, teve uma crise de ansiedade no trabalho por conta de problemas e prazos. Com isso, o observador conta que refletiu que não valia a pena todo o esforço no trabalho, pois a saúde deve vir sempre em primeiro lugar. “Depois disso, a observação de aves que já era um hobby, voltou com força. Praticamente toda semana, sempre que sobra um tempinho, vou passarinhar em algum lugar, seja perto de casa, ou em algum destino diferente, como a Serra da Canastra”, diz. Gavião-de-penacho — Foto: Rudimar Narciso Cipriani De acordo com o ornitólogo e especialista em aves de rapina Willian Menq, o flagrante do gavião-de-penacho feito pelo grupo é raro, pois foi feito distante de uma área de floresta, que seria o ambiente preferencial da espécie. “Suponho que a ave viva em alguma floresta ali das proximidades e estava se deslocando para outra área florestal ou, até mesmo, reconhecendo o território ou buscando por uma parceira ou parceiro para iniciar um ritual de namoro, pois no período de namoro essas aves vocalizam e voam com mais frequência”, explica Menq. Menq afirma que esse registro revela a importância de não subestimarmos os cerradões, matas ciliares e os enclaves florestais presentes em meio às paisagens abertas, como as encontradas na Serra da Canastra. Gavião-de-penacho — Foto: Rudimar Narciso Cipriani O ornitólogo Fernando Igor de Godoy também destaca que esse registro revela a presença de um importante predador de topo de cadeia alimentar com hábitos florestais. Ecologicamente, isso reflete uma excelente qualidade ambiental das florestas da região. “Assim como muitos gaviões florestais, seus registros costumam ser pontuais e ao acaso. A maioria dos pontos de observação conhecidos consistem em locais que mateiros ou guias descobriram seu ninhos e assim os observadores o encontram com frequência, já que ave fica por lá por muito tempo”, finaliza o especialista. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente
Gavião-de-penacho tem primeiro avistamento na Serra da Canastra, em MG
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