Plié, tendu e grand battement. Para quem não está familiarizado, esses nomes podem até soar estranhos, mas, para Vicenzo Pessoa, de nove anos, eles não são nada diferentes. As palavras, que significam passos de balé, fazem parte do dia a dia do garoto, que sonha em ser bailarino profissional e deu o maior passo de sua vida, até agora, para chegar ao objetivo. Vicenzo conquistou uma das 40 vagas da curso de dança da Escola do Teatro Bolshoi, uma das mais prestigiadas companhias de balé do mundo. A unidade na qual o jovem bailarino conseguiu a bolsa de estudos fica em Joinville (SC) e é a única filial da instituição russa no Brasil. A trajetória do menino, de Americana (SP), até o Bolshoi, tem um início inusitado: Vincenzo despertou o interesse pela dança ao assistir a valsa de casamento dos pais. Ele ficou encantado quando viu os passos e decidiu participar do momento especial. “Eu vi eles ensaiando e fiquei de lado assistindo, e tive a ideia de participar da valsa. Eu gostei muito”, diz, com um sorriso no rosto. A paixão pela dança foi alimentada pela curiosidade do menino e admiração por outros dançarinos. Ele começou a assistir a vídeos no TikTok, nos quais um bailarino compartilhava sua rotina no Bolshoi. A seleção, que aconteceu em outubro deste ano, foi disputada por 3.083 crianças de todo o país, com uma concorrência de 77 candidatos por vaga. Agora, Vicenzo se prepara para iniciar a formação no próximo ano, com o sonho consolidado: ser um bailarino profissional. 🩰 Amor à primeira dança Com apenas 9 anos, Vicenzo conseguiu bolsa na escola do Bolshoi, prestigiada companhia de dança da Rússia — Foto: @rudisilvafotografia Aos 6 anos, ele já havia descoberto o interesse e pediu aos pais para colocá-lo em aulas de balé. Quando surgiu uma oportunidade de vaga no Sesi de Americana, eles não hesitaram em matriculá-lo. Foi ali que Vincenzo deu os primeiros passos na dança, e desde então, a dedicação e talento começaram a se destacar, abrindo portas para competições e, finalmente, para o sonho de uma vaga na escola de dança. Para conquistar a tão sonhada vaga, houve muito treino e determinação. “Treinei bastante, e eu consegui chegar até aqui. […] (O treino) eu faço quatro dias por semana. Eu não faço sexta, nem sábado, nem domingo”, conta. Mas, como ele mesmo fez questão de dizer, não é só de treinamento que o jovem vive. Em seus momentos de folga, ele adora brincar de esconde-esconde e pega-pega, equilibrando a vida de uma criança comum com a de um bailarino dedicado. 🕺 Superação de preconceitos Vicenzo não ficou livre dos preconceitos. Aconteceram situações em que ele foi chamado de “menininha”, ou ouviu , de outras crianças, que balé não deveria ser feito por meninos. Mas, com o apoio da família, ele nunca deixou que esses comentários o desanimassem. “Eles (os pais) me orientaram que tem preconceito com menino que faz balé, mas eu quis do mesmo jeito”. E esse era o maior medo dos pais: o preconceito. Apesar das chacotas, eles sempre orientaram o menino. “A gente fica triste com essa situação, mas são crianças. Ele está muito super bem preparado nesse quesito. A gente também, né? Porque todo mundo pergunta para o pai, né? ‘O que o pai acha disso?’ como se fosse uma coisa de outro mundo. Então pra gente é de muito orgulho”, finaliza a mãe, Mariza Oliveira. 🥰 Apoio dos pais O incentivo dos pais foi essencial para que Vicenzo conquistasse confiança e várias premiações na dança. Mariza afirmou que ficou surpresa quando o filho escolheu o balé. “A gente nunca imaginava que ele ia ter essa paixão. Pela dança, já imaginava, né? Porque ele gostava muito de dancinha no Tik Tok, essas coisas assim. Mas, pelo balé específico, foi uma surpresa”, relata. Hoje, tudo que os pais conhecem sobre a dança e por conta do menino. “Não conhecia também muito sobre a dança também, né? Balé, jazz. A gente conheceu tudo isso através dele. Para nós é muito gratificante. A gente fica muito feliz com tudo isso”, expõe Robert Wagner, pai do bailarino. Maior medo dos pais de Vicenzo era que o filho sofresse preconceito por dançar balé — Foto: Arquivo Pessoal Além do apoio dos pais, a primeira professora de dança foi fundamental para que ele chegasse até a aprovação. Mônica Borges, instrutora de dança do Sesi de Americana, logo percebeu o potencial do aluno. Desde o primeiro momento em que o pequeno chegou ao núcleo, ela soube que ele tinha um grande potencial na dança. “Eu já vi que ele já era diferenciado, só pelo comportamento, pela disciplina, uma memória também impecável. No início, eu já percebi, e comecei trabalhar um aquecimento onde trabalhava toda parte artística. E aí eu falei: além da parte técnica, ele tinha também muito lado artístico”, conta a instrutora, que falou com a mãe de Vicenzo para que investissem na dança. Agora, com aprovação, os pais se preparam para a mudança para Santa Catarina e, para isso, precisaram abrir uma campanha on-line para arrecadar dinheiro e ajudar com as despesas durante os oito anos de formação de bailarino. Bailarino de 9 anos teve seu primeiro contato com o balé durante as aulas de dança — Foto: @rudisilvafotografia *Sob supervisão de Yasmin Castro e Marcello Carvalho