O francês de 71 anos, que na segunda-feira (9) foi dispensado da audiência no começo do dia após alegar dores abdominais fortes, não compareceu também no dia seguinte, sétimo dia de julgamento, porque estava hospitalizado. Nesta quarta ele chegou a ir ao tribunal, mas visivelmente fraco e apoiado em sua bengala, foi liberado pelo juiz e teve novamente seu depoimento, que estava previsto para esta terça, adiado. Agora, a previsão é de que ele fale sobre o caso, no qual já se declarou culpado, na tarde desta quinta-feira (12). Desenho de Dominique Pélicot deixando tribunal apoiado em sua bengala nesta quarta (11) — Foto: Benoit PEYRUCQ / AFP O depoimento dos dois filhos homens de Dominique e Gisele, também previsto para ocorrer nesta terça, não aconteceu porque eles disseram que só irão falar estando à frente do pai. Nesta quarta, após a saída do ex-marido, a vítima, Giséle Pélicot, de 72 anos, também foi embora. Gisèle Pélicot deixando tribunal após dispensa do ex-marido por problemas de saúde — Foto: Christophe SIMON / AFP Especialistas traçaram perfil do réu principal O acusado não sofre de “nenhuma patologia ou anomalia mental”, mas sim um “desvio sexual ou parafilia de tipo voyeurístico”, segundo vários exames psiquiátricos realizados durante a investigação. Primeira psicóloga a testemunhar perante o tribunal, Marianne Douteau destacou o caráter “raivoso” de Dominique, que suscitava “medo”, mentiras e sigilo”. Estas características seriam semelhantes às de seu pai, a quem ele odiava. “A sexualidade do senhor Pélicot parece calcada em sua personalidade: comum em público, mas para sua parceira, ele tem uma sexualidade tenaz”, afirmou. A psicóloga Anabelle Montagne, que o conheceu em dezembro de 2020, quando ele estava encarcerado no centro penitenciário de Pontet, descreve Dominique Pélicot como “um homem com duas caras”. “É um sujeito que se apresenta como um pai de família estável, respeitado e apreciado, mas que ao mesmo tempo é dissimulado e com propensão à transgressão em sua sexualidade”, relatou, acrescentando que sua experiência revela que ele tem “perversão polimorfa” e “uma fixação que remete a uma necessidade de controle extremo que vai até o controle”. Francesa drogada pelo marido para ser estuprada por estranhos acompanha julgamento Os netos, a quem ele ajudava nos deveres de casa e acompanhava nas atividades esportivas, adoravam o avô. Ele também andava de bicicleta com os vizinhos no icônico Mont Ventoux, perto de sua casa em Mazan. Avô “carinhoso” e “superlegal” de dia, para a agora ex-esposa, mas estuprador à noite: assim definiu o psicólogo Bruno Daunizeau que definiu Dominique como “duas caras” e “manipulador perverso”. “De dia pode ser coerente e, à noite, parecer diferente”, declarou. Ninguém suspeitava que, à noite e por vezes durante o dia, ele se tornava um recrutador de desconhecidos para estuprar sua esposa. Quando foi detido em 2020, após ter sido flagrado filmando por baixo das saias de mulheres em um centro comercial, segundo a investigação, o francês manifestou o seu “alívio”, porque “não conseguia” parar. Na segunda-feira, os advogados de defesa dos outros acusados anunciaram à imprensa que vão apresentar queixa por ameaças após os dados pessoais dos clientes terem sido divulgados nas redes sociais. Os advogados de Gisèle Pélicot também confirmaram na segunda que o divórcio dela e do ex-marido foi oficializado no final de agosto, antes do começo do julgamento.