Fintechs suspeitas de fraude bilionária lavaram dinheiro do PCC e esconderam valores para empresa de ônibus, diz PF

Fintechs suspeitas de fraude bilionária lavaram dinheiro do PCC e esconderam valores para empresa de ônibus, diz PF

Segundo a PF, a forma de atuação da organização criminosa era parecida em quase todas as transações. A suspeita é que os investigados utilizavam contas nas fintechs e operações a partir de máquinas de cartão de crédito para movimentar valores sem que esses entrassem no sistema financeiro oficial. Com essa “invisibilidade”, o dinheiro ficava imune a bloqueios judiciais de processos criminais de lavagem de dinheiro e de ações tributárias de dívidas ativas. “Esse esquema de lavagem de capitais permitiu o financiamento e, portanto, a continuidade de inúmeros crimes antecedentes, já expostos, sendo um deles o de tráfico de entorpecentes, gerando prejuízos sociais imensos”, diz parecer do Ministério Público Federal. Agentes da PF cumprem mandados judiciais na Operação Concierge — Foto: Polícia Federal Veja abaixo a relação entre as fintechs e seus sócios com a facção criminosa: UPBus O primeiro apontamento é em relação à UPBus, empresa de ônibus investigada pelo Ministério Público Estadual por suspeita de lavar dinheiro do tráfico de drogas. A investigação da PF aponta que a UPBus utilizou a fintech T10 Bank, de Campinas (SP), para esconder dinheiro do sistema financeiro e assim evitar bloqueio deles. De acordo com a PF, essa blindagem do dinheiro era necessária porque, além de ser alvo de investigação criminal, a empresa ainda tem dívida milionária de impostos com a Receita. “O fato de a empresa UPBUS possuir mais de R$ 61 milhões em débitos tributários inscritos em dívida ativa da União, justificaria a utilização dos “serviços” fornecidos pela T10 BANK, de “impenhorabilidade” de suas contas bancárias”, diz. Como conclusão, a Polícia Federal aponta em que há indícios que a T10 Bank atuou para blindar o dinheiro de tráfico de drogas do PCC de possíveis bloqueios judiciais. Foram cerca de R$ 4,5 milhões em transações consideradas suspeitas. Procurada, a UPBus não respondeu até a última atualização desta reportagem. A T10 Bank ainda não se manifestou sobre a operação e não retornou o contato do g1. Entenda o esquema que usava contas em bancos tradicionais para enganar sistema financeiro Sócio oculto Sócio da T10 Bank, Denis Arruda Ribeiro é apontado pela Polícia Federal como suspeito de ligação com a facção criminosa. Segundo a investigação, ele é sócio oculto da Yespay, uma fintech investigada por lavar dinheiro de criminosos ligados ao PCC. O outro sócio oculto da Yespay seria, segundo a investigação, Aedi Cordeiro. No relatório, a Polícia Federal afirma que os dois, usando pessoas jurídicas de fachadas, operavam na lavagem de dinheiro. “A estreita relação entre Aedi Cordeiro dos Santos e Denis Arruda Ribeiro fazendo o uso de pessoas jurídicas de fachada para operar o branqueamento de capitais para terceiros e obter lucro, ainda que seus clientes sejam integrantes da facção criminosa paulista (PCC)”. Ao g1, a defesa de Aedi afirmou que não é sócio oculto desse empresa de pagamentos. “Ele é contador. Não tem envolvimento com as operações dessa empresa. A inocência dele será esclarecida no curso da investigação”, diz a nota assinada pelos advogados Danilo Campagnollo Bueno e José Sérgio do Nascimento Júnior. A defesa de Denis também negou as acusações e disse que “é inverídica a suposição de ligação do investigado com a citada empresa”. “As investigações sequer foram concluídas, inúmeras diligências restam pendentes de produção, o que demonstra ser uma informação que não condiz com a realidade e ilegalmente apressada.Trata-se de investigação sob sigilo, o que impede a Defesa discutir e antecipar provas, sendo certo que, oportunamente, será comprovada a total improcedência”, disse ao g1 o advogado Marcelo Vicentini Uso de máquinas da Inovepay Ainda segundo a investigação, as máquinas de cartão de crédito da Inovepay, fintech alvo da operação nesta quarta-feira, foram utilizadas por empresas de fachada e pessoas físicas ligadas ao tráfico de drogas. Um dos suspeitos de envolvimento com o PCC recebeu R$ 700 mil a partir de máquinas da Inovepay sem isso constar no extrato de operações. “Ficou claro que as movimentações financeiras realizadas por intermédio da T10 BANK e da InovePAY eram destinadas à ocultação e dissimulação de patrimônio proveniente de crimes como tráfico de entorpecentes e sonegação tributária, dentre outros”, diz um parecer Ministério Público Federal. Ao g1, a Inove Global Group, dona da Inove Pay, negou “veementemente” os fatos imputados pela Polícia Federal e ressaltou que as medidas tomadas pela investigação “foram unilaterais, sem que os argumentos da empresa fossem ouvidos”. “Comprometidos com princípios éticos, o Inove Global Group e seu sócio atuam no ramo da tecnologia ligada a meios de pagamento há mais de sete anos, buscando trazer inovação e acessibilidade para seus clientes, e jamais estiveram ligados a qualquer atividade criminosa, colocando-se à disposição das autoridades para colaborar com o deslinde das investigações, a fim de que os fatos sejam esclarecidos em sua integralidade”, diz a nota. A operação Carros apreendidos chegam ao pátio da Polícia Federal em Campinas — Foto: Márcio Silveira/EPTV Ainda de acordo com a PF, os agentes também apreenderam jóias, relógios e centenas de máquinas de cartão de crédito, além de documentos, celulares e computadores. Os itens devem passar por perícia e depois ficarão depositados em uma conta judicial. Sócios das empresas entre os presos Patrick Burnett, CEO do Inovebanco, e José Rodrigues, fundador do T10 Bank — Foto: Reprodução A EPTV, afiliada da TV Globo, e o g1 tentaram contato com a T10 Bank para tentar um posicionamento da defesa, mas não tiveram retorno. A Inove Global Group afirmou que os advogados da empresa tiveram acesso ao conteúdo da investigação nesta quinta. “A empresa nega veementemente ter relação com os fatos mencionados pelas autoridades policiais e veiculados pela imprensa, o que ficará demonstrado ao longo do processo. E ressalta sua total disposição em colaborar com as investigações”, diz a Inove, em nota. Como funcionava o esquema? As fintechs investigadas possuem uma conta corrente como pessoa jurídica em um banco comercial tradicional. Essa conta é chamada de “bolsão” e serve para fazer transações com o dinheiro de seus clientes de forma “invisível”, pois é praticamente impossível rastreá-las. Veja o exemplo abaixo: A pessoa física “A” tem contas bloqueadas e quer se manter ativa no mercado financeiro, fazendo transações, recebendo e enviando valores. Ela, então, abre uma conta com a fintech e a controla por meio de um aplicativo;Essa pessoa “A” faz uma transferência para a pessoa “B” por meio desse aplicativo;A fintech, por sua vez, tem uma conta corrente como pessoa jurídica em um banco comercial tradicional;Quando transfere um valor para a pessoa “B” por meio da fintech, na verdade, a pessoa “A” está transferido para a conta jurídica que a fintech tem no banco comercial. Como a pessoa “A” não tem vínculo com o banco comercial, seu nome não aparecerá no extrato, mas, sim, a fintech titular da conta. A transferência para a pessoa “B”, por sua vez, aparece no extrato tendo como origem a pessoa jurídica da fintech e não a pessoa “A”. Nesse esquema, a pessoa “A” fica invisível e pode manter seu patrimônio livre de restrições. A investigação aponta que o volume de dinheiro movimentado a crédito pelas duas fintechs, entre 2020 e 2023, foi de R$ 3,5 bilhões, segundo a Polícia Federal. ‘Concierge’ Os investigados vão responder por gestão fraudulenta de instituições financeiras, operação de instituição financeira não autorizada, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem tributária e organização criminosa. O nome da operação, “Concierge”, é uma palavra francesa que denomina o profissional que atende necessidades específicas de clientes e faz alusão à oferta de serviços clandestinos para ocultação de capitais. VÍDEOS: tudo sobre Campinas e Região

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