O vocabulário descoberto pela PF aparecia em anotações em papel ou em conversas dos integrantes, como explica o delegado Edson Geraldo de Souza. “Apesar do distanciamento deles, todos entendiam a linguagem cifrada. Todas as pessoas que participavam dos grupos de conversa entendiam o que estavam dizendo”. Para falar da droga em si, eram pelo menos quatro termos, como ‘escama’, ‘café’, ‘peixe’ e ‘peruana’. Veja a relação de termos usados pelos investigados e descobertos pela Polícia Federal: Azeite: droga específicaBarricas de café: pacotes de drogaCaf: cafeína (usada na diluição de cocaína)Café: cocaínaEscama: cocaínaExportação: cocaína com alto grau de purezaFena: fentanilLid: lidocaínaLojinha/Biqueira: estabelecimento voltado ao comércio de drogasMaleta: dinheiroMamadeiras: cocaína embalada para transporteMistura: insumos para aumentar o volume da cocaína (Cafeína, Tetracaína, Lidocaína e Adrenalina)Peixe: cocaínaPeruana: cocaína com baixo grau de purezaTet: tetracaína (anestésico usado na diluição de cocaína)Tirar do estacionamento: retirada do depósito para entrega Abaixo, veja detalhes de como o grupo agia e o que deu início às investigações. Do recebimento da cocaína ao envio em garrafa térmica De acordo com a Polícia Federal, ao menos 11 pessoas participavam do esquema em várias etapas. Entre elas estão: o recebimento de cocaína da Colômbia e da Bolívia;a manipulação em laboratório, onde eram produzidas as substâncias, com opções de alto grau de pureza ou de menor qualidade, diluídas em fentanil e cafeína;o embalo e preparo das remessas;o envio para compradores no exterior. “Percebemos uma relação muito íntima de alguns com o exterior para recebimento da cocaína e outros com a logística, conhecimento, da destinação das mercadorias. Havia uma organização interna no país, uma organização externa, tanto de fontes, quanto dos destinatários e o disfarce da mercadoria”, explica o delegado. O envio da droga era feito por meio de remessas expressas. O grupo usava uma empresa de fachada para fazer a postagem e a encomenda era encaminhada por meio de companhias de logística que realizam esse tipo de trabalho regularmente ao redor do mundo. Para que a droga não fosse identificada por fiscais aduaneiros, os investigados “disfarçam em garrafas térmicas, mas também chegaram a disfarçar com roupas de criança, sapatinhos, qualquer mercadoria que poderia disfarçar o peso ou a leitura da encomenda postal”, completa Edson. Em 2024, durante um período de três meses, a Polícia Federal identificou ao menos 16 envios para países como: PortugalInglaterraAlemanhaDinamarcaDubai Esquema foi descoberto após prisão de líder Polícia Federal realiza operação contra tráfico internacional de drogas em Campinas Os dois estão em prisão preventiva desde então. “Isso [a prisão do líder], talvez, tenha desfalcado o funcionamento deles a partir daquele flagrante. Isso nos permitiu, a partir do dispositivo eletrônico dele e da situação que ele tinha conhecer a organização criminosa”, comenta o delegado. No local, os policiais apreenderam anotações sobre o esquema de tráfico internacional em folhas do papel. Com esse material e por meio da análise de dados telefônicos, financeiros e bancários, a Polícia Federal descobriu a existência de um grupo sofisticado voltado à preparação, embalagem e envio das drogas. Ainda de acordo com o delegado, outro ponto que chama atenção é a organização financeira, além dos cadastros como MEIs, que disfarçavam a origem do lucro obtido com o tráfico, eles também “usavam PIX em diversas pessoas para diluir e calculavam exatamente quanto de cada coisa viria a produzir o lucro específico que eles esperavam”. Preparo em laboratório e dicionário interno O delegado detalha que o laboratório descoberto no ano passado armazenava diversos insumos para a diluição da cocaína, como o fentanil. O objetivo do grupo, segundo ele, era criar porções de menor valor. “Você diminui a cocaína, a pureza da cocaína, mistura com cafeína e, as vezes, fentanil. A ideia é que aquele produto parece poderoso, para causar o efeito, mas que, na verdade, ele seja barato”. A organização criminosa também é caracterizada pelo uso de uma linguagem própria, que usava códigos para se referir às substâncias. A cocaína com baixo grau de pureza era chamada de ‘peruana’, enquanto a mais pura recebia o apelido de ‘exportação’. Para substituir o nome do entorpecentes, também eram usadas as palavras ‘peixe’ e ‘café’. Parte da produção do laboratório, principalmente a menos pura, era comercializada regionalmente. “Eles tinham esse laboratório, trabalhavam com a cocaína, mas nós encontramos ali diversas outras drogas, muitos insumos e, inclusive, maconha. Maconha não é uma droga que se destina ao mercado internacional, é mercado nacional, pelo preço não compensaria a exportação”. “Normalmente, o comprador final, principalmente o europeu, tende a procurar a cocaína de alta pureza. O fato deles manusearem aqui também demonstra uma característica dos compradores lá, eram pessoas que queriam a droga pronta para fins de distribuição”. Crimes investigados Os crimes sob apuração são: tráfico internacional de drogas;associação para o tráfico;lavagem de dinheiro. Somadas, as penas chegam a 40 anos, segundo a PF. Além dos mandados de prisões e buscas, foi decretado o bloqueio de bens e valores que vierem a ser encontrados. A operação leva o nome de White Coffee (do inglês, café branco), em referência ao termo ‘café’, que era usado pelos investigados para se referirem à cocaína. Cocaína em garrafa térmica e MEI para lavar dinheiro: como agia quadrilha alvo da PF que traficava para Europa e Dubai — Foto: Polícia Federal/Divulgação VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e Região
Fena, escama, mamadeiras: presos por tráfico internacional de cocaína adotaram dicionário próprio para despistar investigadores, diz PF
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