Família do interior de SP conhece criança que recebeu o coração de seu filho de 2 anos: ‘gratificante ver que ele está proporcionando vida’

Família do interior de SP conhece criança que recebeu o coração de seu filho de 2 anos: ‘gratificante ver que ele está proporcionando vida’

Mas a dor dessa família se transformou em esperança para outra. O coração de Levi salvou a vida do João Miguel, um menino do Pará que tinha como única chance de vida receber um coração compatível com seu tamanho e idade. Neste mês de dezembro, essas duas famílias, marcadas tão profundamente pelo mesmo fato, se conheceram. A EPTV, afiliada da Rede Globo, acompanhou o encontro emocionalmente em São Paulo, onde o pequeno João Miguel faz tratamento, e o retratou na série de final de ano “Histórias que Salvam” (veja vídeo acima). Pais de Levi (à dir.), menino de São Carlos que doou coração, encontram família de João Miguel, garoto que recebeu o órgão — Foto: Rodrigo Sargaço/EPTV Histórias cruzadas Ricardo e Nathália perderam o único filho, que tinha dois anos e meio, após ele ter um mal súbito, cair na piscina e ter uma congestão, em março deste ano. “Vou ser sincera, eu não vi ele no fundo da piscina, mas eu vi uma mancha. Então eu pulei. Então ficou eu, meu tio e minha irmã fazendo massagem cardíaca nele e fazendo aquela manobra do engasgo. Só que o Levi só colocava comida para fora, não colocava água para fora. O eletro comprovou que o Levi realmente teve um pico de infarto muito forte, causado pela congestão”, conta a mãe de Levi. Menino de 2 anos morre após uma semana internado na Santa Casa de São Carlos por afogamento — Foto: Reprodução/Facebook Neste mesmo momento, Francisco e Elieude Viana corriam o risco de perder o filho que era suportado por um coração mecânico no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. “João Miguel tinha uma cardiopatia grave e rara e precisaria procurar um centro de referência e o mais indicado era aqui em São Paulo. O médico que veio conversar comigo. Ele falou: ‘só dele estar vivo é um verdadeiro milagre’. No dia que ela [médica] cogitou ele entrar para a fila transplante, ela falou para mim que ele só ia sair daquela máquina com um novo coração e aí ela falou que a gente tinha que contar com a fé e com a boa vontade das pessoas de doar o órgão”, conta a mãe de João Miguel. Quando esse diálogo ocorreu, o menino já havia passado por diversas cirurgias, desde 2021 e já estava há quatro meses na UTI do hospital. Doar, ato de amor Família de menino de dois anos que morreu afogado em São Carlos autorizou a doação de órgãos — Foto: Reprodução e Santa Casa de São Carlos “No começo eu achei que a gente ia ter uma recuperação dele, né. Lógico que a esperança da gente queria fazer um dos fundos para tentar reverter a situação, mas chegou num ponto que a gente já sentiu que ele não estava mais lá. Eles foram com psicólogos e tal para fazer explicar para gente como que funciona a doação de órgãos tal, mas não precisava nem explicar , a gente olhou um para o outro e falou: ‘tá tudo em ordem, vamos embora’ ”, conta Ricardo. “Falei: ‘doutora, o que acha que o Levi vai poder doar?’ Ela falou que pela experiência que ela tinha, seria tudo, menos o coração porque por conta da parada que ele teve, o Levi ficou com uma sequela, um machucadinho no coração, então de 100%, coração dele estava só 80%. Aí veio a equipe do Dante Pazzanese de São Paulo conversar e falar que tinha uma criança internada lá e que eles iam levar o coração do Levi porque para esse menino o coração do Levi ia ser 100% porque ele tinha dias para receber um coração, senão ele não aguentaria e viria a falecer”, conta Nathália. Pais doam órgãos de criança de 2 anos em São Carlos Receber, ato de humildade A constatação que o filho só sobreviveria se recebesse um coração novo foi muito dura para Francisco e Elieude. “Eu sempre pensava que não queria que o meu filho fosse para a fila porque eu não ia orar para alguém morrer para o meu filho viver, nunca que eu iria fazer isso”, diz Elieude. “É uma sensação muito estranha. Por um lado, a gente fica feliz porque é uma nova chance para ele, né? Mas e o que perdeu e o que se foi? E a dor do pai, dos que perderam?”, pondera Francisco. João Miguel recebeu coração de menino que teve morte encefálica após cair na piscina em São Carlos — Foto: Arquivo pessoal Aos pais de Levi, restou o sentimento de conforto ao saber que o filho iria fazer o bem a outras pessoas. “Foi uma entrega muito emocionante porque o médico se emocionou muito, eu também como pai, só que eu sabia que aquilo ia influenciar muita gente. As córneas dele se multiplicaram, o rim dele foi duas crianças que faziam hemodiálise e o coração dele”, afirmou Ricardo. Recomeço O encontro das duas famílias em São Paulo permitiu aos pais de Levi ouvir o coração do pequeno bater mesmo depois da morte. “Senti a presença do Levi comigo de verdade quando olhei no olhinho dele [João Miguel]. Foi muito gratificante ver que o coração do meu filho está proporcionando outra vida”, afirmou Ricardo. Para Nathália, que havia passado por três abortos antes de engravidar de Levi, o propósito de Deus para Levi era o salvar a vida de João Miguel. Quando Levi faleceu, ela achou que demoraria muito para conseguir engravidar novamente, mas, para sua surpresa, ficou grávida três meses depois. Hoje, com seis meses de gestação, ela espera um menino. “Meses depois eu descobri a gravidez do Gabriel. É outro menino, né? A gente acabou escolhendo o Gabriel até mesmo pelo significado (enviado de Deus). É o nosso anjo. Ele é aprova de que de que Deus sabe o que está fazendo”, diz Nathália. A vida é poesia Coração de menino de 2 anos captado em São Carlos foi levado para São Paulo por avião da FAB — Foto: Santa Casa de São Carlos/Divulgação Devido à urgência da situação, o coração de Levi foi transportado de São Carlos para São Paulo por um avião da Força Aérea Brasileira. Durante o trajeto, a cirurgiã cardiovascular Melina Barg, responsável pela captação, transformou em poesia o momento tão delicado e carregado de sentimento. Veja abaixo: Estávamos no caminho de volta precisavam chegar com um novo coração dentro da próxima hora para termos tempo de implantar. Olhei pela janela na intenção de tentar processar todos os sentimentos vividos naquela manhã, vi nuvens de algodão doce, escutei o barulhinho do avião e me encontrei distante. Quão doloroso o berço vazio, a ausência do sorriso, do pegar na mão, das brincadeiras que não serão realizadas, dos abraços não dados, quão doloroso o questionamento: porque o meu? Quanto a alegria na ligação conseguimos uma nova chance quanto a gratidão pela oportunidade de poder viver novamente, de poder abraçar, crescer, sorrir, sentir a batida do coração acelerar em cada uma das novas descobertas. Fiquei os 30 minutos do voo tentando me colocar no lugar de cada uma daquelas mães, tentando imaginar o medo de cada uma delas, o vazio, as incertezas, a dor e a alegria. Senti um profundo respeito e o mais genuíno amor por parte dos pais que transformaram a sua dor, a dor da perda, em possibilidade de vida. Somos apenas ordinary people tentando levar esperança conforto numa corrida contra o tempo. Quando voltei a pensar no que via pela janela, não consegui encontrar, ali na imensidão do algodão doce, o menino, mas certamente a sua presença estará naqueles que foram presenteados com a oportunidade de viver através da visão, dos rins e do batimento do coração. Menino do algodão doce, obrigada! Veja os vídeos da EPTV Central

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