Fico é um dos políticos mais importantes do país desde a sua independêcia, em 1993, quando houve o desmembramento da Tchecoslováquia. O atentado comoveu toda a nação e, segundo analistas, pode intensificar um processo de polarização no país — polarização que o próprio Fico havia ajudado a acentuar, em sua última tentativa de voltar ao poder. A atual gestão do premiê à frente da Eslováquia, um dos países mais estratégicos para a Europa, é marcada por polêmicas e ambiguidades. Momento em que primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, é levado após ser baleado por um homem na rua, em 15 de maio de 2024. — Foto: Reprodução/ arte g1 Robert Fico ocupa pela terceira vez a chefia de governo da Eslováquia, país membro da União Europeia e da Otan, desde outubro de 2023 — ele já esteve à frente do país entre 2006 e 2010, e entre 2012 e 2018. Um dos personagens mais peculiares da política europeia, Fico é visto como pró-trabalhista dentro de seu país, ao mesmo tempo em que defende pautas conservadoras nos costumes, como a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Durante a pandemia, enquanto era líder da oposição, abraçou uma posição conspiracionista em relação à Covid-19, espalhando mentiras em relação às vacinas, as quais comparava a armar biológicas, e criticando medidas de contenção da doença. Em 2023, ele foi o mais votado nas eleições com uma plataforma pró-Putin e contra a ajuda da UE e da Otan à Ucrânia na guerra contra a Rússia. Os seus primeiros meses como primeiro-ministro se revelaram controversos politicamente. Em janeiro, ele suspendeu a ajuda militar à Ucrânia e, no mês passado, avançou com planos para acabar com a emissora pública RTVS. O partido de Fico, o Direção Social-Democracia (Smer-SSD), nacionalista e socialmente conservador, critica o liberalismo social que diz ser imposto a partir de Bruxelas. Fico segue a linha conservadora e já deu declarações condenando o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de crianças por esses casais. Também expressou posições anti-imigração de muçulmanos para o país e, em política externa, é visto como pró-Rússia e contra a instalação de bases militares dos EUA na Europa Central. Em questões econômicas, no entanto ele é visto como trabalhista e implemetou reformas que dão direito a aviso prévio, regras mais rígidas para horas extras e mais poder a sindicatos. Trajetória Vídeo mostra momento em que primeiro-ministro da Eslováquia é baleado na rua Fico, 59 anos, nasceu em 1964 na então Tchecoslováquia. Ele virou membro do Partido Comunista, foi deputado e advogado. Após a queda do Muro de Berlim, Fico representou a Eslováquia ao longo da década de 1990 no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos e a Comissão Europeia dos Direitos Humanos. Em 1999, tornou-se presidente do partido Smer (Direção), do qual tem sido uma figura central desde então. Ele e o Smer têm sido frequentemente descritos como populistas de esquerda, embora Fico também tenha sido comparado a políticos de direita, como o primeiro-ministro nacionalista da vizinha Hungria, Viktor Orbán. Depois de cinco anos na oposição, o partido de Fico venceu as eleições parlamentares do ano passado com uma plataforma pró-Rússia e antiamericana. Ele prometeu acabar com o fornecimento de apoio militar à Ucrânia pela Eslováquia enquanto ela lutava contra a invasão em grande escala da Rússia, e argumentou que a OTAN e os Estados Unidos provocaram a guerra de Moscou. Após a sua vitória eleitoral, o novo governo suspendeu imediatamente as entregas de armas à Ucrânia. Milhares de pessoas saíram repetidamente às ruas em toda a Eslováquia para se manifestar contra as políticas pró-Rússia e outras posições de Fico, incluindo planos para alterar o código penal para eliminar um procurador especial anti-corrupção e para assumir o controle dos meios de comunicação públicos. O regresso de Fico ao poder causou preocupação entre os seus críticos de que ele e o seu partido – que há muito estava contaminado por escândalos – afastariam a Eslováquia do seu rumo pró-Ocidente. Ele prometeu seguir uma política externa “soberana”, prometeu uma postura dura contra a migração e as organizações não governamentais e fez campanha contra os direitos LGBTQ+. Em 2018, ele e o seu governo renunciaram em meio a protestos de rua em massa depois que o jornalista investigativo eslovaco Ján Kuciak foi assassinado junto com sua noiva. Kuciak vinha reportando crimes relacionados com impostos que implicavam políticos eslovacos de alto escalão, incluindo alguns do partido de Fico, e o seu assassinato desencadeou uma crise política. Fico enfrentou acusações criminais em 2022 por pelas acusações de abuso de poder e formação de grupo criminoso, mas as acusações foram retiradas pelo procurador-geral da Eslováquia.