Espécie de peixe possivelmente extinta é redescoberta em Itanhaém (SP)

Espécie de peixe possivelmente extinta é redescoberta em Itanhaém (SP)

A espécie, Leptopanchax itanhaensis, descrita oficialmente em 2008 com registros anteriores de 2000 e 2005, vivia em uma poça que foi destruída em 2007. Desde então, múltiplas tentativas de encontrar novos exemplares fracassaram, levando os especialistas a concluir que o peixe poderia estar extinto — uma suposição desmentida em fevereiro deste ano com a nova e rara aparição. De acordo com João Henrique Alliprandini da Costa, pesquisador e doutorando na UNESP Câmpus do Litoral Paulista, em São Vicente, diversos fatores contribuíram para essa descoberta. Um deles foi seu projeto de doutorado, que busca entender a composição das espécies que habitam poças temporárias e valas de estrada, como o Leptopanchax itanhaensis. A realização de coletas nesses locais aumentou a probabilidade de encontrar o animal. Além disso, sabendo da possibilidade, os pesquisadores decidiram ir até a coordenada mencionada na descrição original da espécie, que indicava a poça onde ela foi inicialmente localizada. Na ocasião, os pesquisadores encontraram cinco indivíduos de Leptopanchax itanhaensis em uma poça temporária e em uma vala de estrada na sub-bacia do Rio Preto. Até o momento acredita-se que o animal ocorra somente em Itanhaém. Momento da retirada do primeiro exemplar redescoberto — Foto: Amanda Selinger “Não conseguimos achar nada na coordenada exata, mas na mata ao redor foi possível reencontrar a espécie. No mês de março, encontramos a espécie por acaso em uma vala de estrada que já amostrávamos fazia algum tempo. Então esse conjunto de informações, mais o fato de estarmos em meses mais chuvosos, uma vez que essa espécie é um peixe anual – ou seja, os ovos eclodem com a chuva – levou até esse momento”, revela o pesquisador. Para João, o mais significativo nessa redescoberta é a esperança que ela desperta para a conservação da espécie, restrita àquela região específica e a um território limitado. Ele acredita que o sentimento predominante é o de que ainda há muito a ser explorado e compreendido sobre o animal. “A sensação foi uma mistura de choque e felicidade. Estava acostumado a ver vídeos no Instagram de pesquisadores encontrando espécies de aves presumidas como possivelmente extintas, e se abraçando. No nosso caso, claro que a felicidade foi constante, pela espécie, mas a competição entre os membros da equipe para ver quem conseguia encontrar mais um indivíduo (o que é muito importante para os dados da pesquisa) e para dar a atenção necessária ao peixe (como levar ele ainda em vida para a fotografia), foi alta! Isso se deve ao fato da nossa equipe estar trabalhando durante muito tempo juntos, e ter muita sintonia, mas no fundo – foi divertido”, conta João. Além disso, o doutorando comenta que, embora os pesquisadores estejam frequentemente acostumados a observar e falar sobre biodiversidade em grandes escalas — o que é realmente essencial —, olhar sob a perspectiva de uma única espécie traz um valor especial. Coordenadora Ursulla Pereira Souza coletando na poça em que a espécie foi reencontrada — Foto: Amanda Selinger “Descobrir que ela ainda está ali é um primeiro passo para conhecê-la, e, consequentemente, conservá-la. E, por mais que para nós pode vir a parecer que é apenas uma espécie, para a preservação dela, significa muito mesmo. Assim, isso é apenas um pequeno primeiro passo para muito trabalho que tem que ser feito para a conhecer e preserve a espécie, que só existe em Itanhaém. E isso, abre portas para muitas pesquisas”. A espécie Até o momento, sabe-se que essa espécie habita poças temporárias em meio à floresta de restinga, caracterizadas por águas extremamente ácidas e com baixa concentração de oxigênio, devido à característica do próprio Rio Preto. Informações adicionais sobre o peixe ainda são limitadas, e os pesquisadores estão investigando aspectos de sua fisiologia, alimentação e reprodução para compreendê-la melhor. “O tamanho máximo registrado para a espécie quando descrita foi de 2,5 cm, ou seja, a espécie é, naturalmente, de pequeno tamano corpóreo. Acreditamos sim, que o tamanho reduzido da espécie pode ter dificultado os avistamos da espécie, apesar do registro de esforços de coleta atrás dela”, aponta João. Ele ainda conta que a maioria das espécies do gênero Leptopanchax são raras na natureza e ameaçadas de extinção. Equipe de pesquisadores envolvidos na redescoberta da espécie — Foto: Amanda Selinger Os pesquisadores estão realizando o monitoramento das poças temporárias na região mensalmente, não necessariamente por conta da espécie redescoberta, mas por todas as outras que estão estudando no conjunto. A pesquisa é orientada pelo professor Dr. Rafael Mendonça Duarte, da UNESP, com coorientação da professora Dra. Ursulla Pereira Souza, da UNISANTA. O artigo resultante dessa pesquisa foi assinado pelo professor Dr. Francisco Langeani, da UNESP de São José do Rio Preto, além dos mestrandos da UNISANTA, Amanda Selinger e Thomas Alves Vidal. O projeto conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Centro de Estudos de Adaptações Aquáticas da Amazônia (INCT – ADAPTA II). VÍDEOS: Destaques Terra da Gente

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