A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos serve de alerta e pode trazer desafios ao Brasil do ponto de vista de influência do discurso dominante norte-americano. Para o professor de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Brasília, Raphael Seabra, a eleição de Trump pode alimentar discursos extremistas na América Latina. “Esses candidatos com discurso de ódio vão se sentir incentivados e, com isso, a gente acaba tendo uma volta de um discurso bem preocupante. Um apoiador da campanha, que vai se tornar ministro da saúde, é um negacionista de vacinas. Então, isso, de novo, pode voltar com muita força para os países da América do Sul”. Na avaliação do professor de Ciência Política da Universidade de Brasília, Luis Felipe Miguel, a volta de Trump ocorre porque o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não “enfrentou questões estruturais” para os norte-americanos. Segundo ele, o governo Trump vai acabar fortalecendo a extrema-direita, inclusive, no Brasil. “O novo governo dos Estados Unidos certamente vai buscar auxiliar a extrema-direita em toda América Latina. Biden, assim como Lula, conseguiu, inclusive, alguns indicadores bons na economia. Mas, como não enfrentou as questões estruturais, que têm levado uma parcela crescente da população a se desgarrar dos consensos da democracia liberal, que até então existiam, perdeu as eleições. E corre o risco, então, de abrir o caminho pra que um extremista se eleja em 2026”. Já o professor do Instituto de Relações internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Elídio Marques, acredita que o Brasil não precisa seguir essa tendência, mas vai ter que lidar com desafios, inclusive, com as chamadas big techs. “É evidente que a extrema-direita, pelo mundo e pela América Latina, vai tentar aproveitar esse impulso. Mas isso também não é automático. O Brasil é um país grande, soberano, não tá obrigando a seguir os alinhamentos políticos dos Estados Unidos. Uma característica dessa nova eleição do Trump é a hiperassociação com a oligarquia das chamadas big techs. E os hiperbilionários como atores políticos cada vez mais explícitos”. Entre as big techs que o professor cita, está a rede social X, do bilionário Elon Musk, que fez campanha pela eleição de Donald Trump.