Um vídeo que tem circulado na internet despertou a curiosidade dos internautas. O trecho , que é o recorte de um documentário, mostra um golfinho-nariz-de-garrafa aparentemente brincando com um baiacu para se entorpecer da toxina liberada pelo peixe, o que o faria entrar em uma estado de euforia. No entanto, segundo a doutora em oceanografia e bióloga Amanda Alves Gomes, não há nenhum estudo científico realizado que comprove que substâncias liberadas por peixes podem causar qualquer alteração no comportamento de golfinhos. A especialista explica que, durante as filmagens do documentário ‘Dolphins – Spy in the Pod’ em 2013, foram captadas imagens de golfinhos brincando com um baiacu, mordiscando-o, e depois de um tempo, pareciam ficar afetados, como se estivessem extasiados, e indo próximo à superfície e girando, em um comportamento que foi descrito “como se estivessem fascinados com o reflexo de sua própria imagem”. Golfinho-nariz-de-garrafa fotografado no Estreito de Gibraltar — Foto: Eduardo Campos Wals / iNaturalist Amanda esclarece que diante desse comportamento, um dos produtores do documentário, que também é zoólogo, chegou a suspeitar da possibilidade da toxina do peixe causa algum efeito no golfinho. No entanto, essa hipótese nunca foi estudada cientificamente. Para concluir que os golfinhos teriam sofrido esse efeito seria necessário um estudo com base em metodologia científica rigorosa. “Não dá para afirmar nada baseado em apenas uma única observação, especialmente considerando que os golfinhos possuem uma infinidade de comportamentos sociais. Também não existem estudos sobre uma possível ação narcótica das tetradotoxinas. Suspeita-se que ela poderia apenas produzir uma dormência em pequenas quantidades”, reforça. Além disso, segundo Amanda, se o baiacu realmente tivesse liberado toxinas no momento desta interação poderia ser fatal para o golfinho. Comportamento dos golfinhos Golfinho-roaz ou golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) registrados no Atlântico Norte — Foto: Luis Agosto / iNaturalist A bióloga ainda afirma que, de maneira geral, todas as espécies de golfinhos apresentam esse comportamento curioso e interativo, já que são seres extremamente sociáveis. “Existem várias formas de interação, inclusive a própria predação. Golfinhos são animais carnívoros que se alimentam principalmente de peixes. Para além da predação, existe sim um comportamento de diversão, como foi observado no vídeo com o baiacu. Golfinhos são muito sociáveis e inteligentes. Eles brincam, por exemplo, interagindo com animais menores, sem necessariamente ter a intenção de se alimentar. Inclusive, podem interagir naturalmente até com seres humanos, cooperando com pescadores numa atividade de pesca”, revela Amanda. Vídeo viral Golfinho-comum (Delphinus delphis) registrado no Mar Mediterrâneo — Foto: carlhawker / iNaturalist Para a especialista, esse tipo de informação equivocada na internet está se tornando cada vez mais comum, inclusive entre os biólogos. “Isso é um alerta, em especial, para quem divulga Ciência na internet. Com a cobrança de sempre produzir conteúdo, muitas pessoas acabam não fazendo uma checagem correta dos fatos, e sem querer, podem acabar disseminando desinformação”. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente