São Paulo “Tem uma cena que estava caminhando um pouco diferente de como estava no livro. Fiquei me retorcendo um pouco, mas, quando olhei para o lado, minha mulher estava tendo um momento de muita emoção, ela estava chorando”, diverte-se o escritor Amor Towles. “Eu falei: ‘Amor, mas isso não está do jeito que eu escrevi’. E ela respondeu: ‘Mas é tão bonito!’.” Autor do livro “Um Cavalheiro em Moscou”, cuja adaptação chega na sexta-feira (17) ao serviço de streaming Paramount+, o americano diz que não teve apego ao ver seu trabalho transportado para as telas. “Você tem que confiar na banda com que está tocando e acreditar que eles vão criar algo que vai satisfazer até à minha mulher”, afirma. “Para mim, essa foi a principal medida.” De certa forma, Towles já sabe que sua obra —que figurou na lista de mais vendidos de 2016— não tem mais dono. “Agora, ela pertence aos leitores que imaginaram aquela história”, resigna-se. Dito isso, ele acredita que a série, da qual também é um dos produtores executivos, vai “suprir as expectativas dos fãs do livro”. “Acho que eles vão olhar para ele e pensar que é uma concretização completa e maravilhosa da história”, avalia. A trama segue os passos do fictício conde Rostov, membro da aristocracia que consegue escapar de uma pena de morte por parasitismo social em plena Revolução Russa. Poupado por ter um poema que agrada aos bolcheviques atribuído a ele, Rostov é condenado a prisão domiciliar perpétua. Só que seu endereço oficial é o elegante hotel Metropol, no centro de Moscou, onde então passa décadas sem poder botar o pé para fora. O personagem é interpretado pelo escocês Ewan McGregor, 53. “Ele estava no topo da nossa lista de preferidos para interpretar o conde”, conta o showrunner Ben Vanstone. “E foi uma negociação bem rápida, o que é pouco usual. Enviamos o roteiro para ele ler e falamos que gostaríamos de encontrá-lo. Ele disse que queria ler o livro também para ter um entendimento mais completo e amou o projeto. Acho que ele ficou bastante tocado.” Quem também fala da reação do ator ao ler o material é sua mulher, Mary Elizabeth Winstead, 39, que na série interpreta a fictícia estrela russa dos palcos Anna Urbanova, hóspede frequente do Metropol com quem Rostov se envolve. “Inicialmente o projeto chegou para ele, que começou a ler o livro e estava ficando mais apaixonado pela história a cada página que lia”, conta ela. “Isso me inspirou a começar a ler também, e tive a mesma reação.” Winstead diz que os dois começaram a pensar em quem poderia dar vida à personagem feminina, que acharam interessantíssima. Foi quando surgiu a oportunidade de ela entrar também para o elenco. “Eu não quis me empolgar muito para o caso de não dar certo ou de terem outra pessoa em mente para o papel, não queria pressionar, mas quando souberam do meu interesse e vieram até mim, fiquei muito animada de entrar nesse universo.” A atriz destaca ainda o fato de o papel ter ganhado mais força na série. “Conseguimos passar um pouco mais de tempo com a Anna na série e mergulhar mais profundamente nas coisas que estão acontecendo com ela”, avalia. “Tudo o que ficamos sabendo pelo livro acaba sendo mais detalhado, então foi ótimo ter esse foco nela.” Sobre o fato de trabalhar com o marido, ela diz que isso fez o processo ainda mais prazeroso. “Nós amamos trabalhar juntos”, conta. “Mesmo quando fazemos as cenas em que ainda estamos nos conhecendo é incrivelmente fácil porque nos conectamos rapidamente. Sempre que temos um material bom tão bom quanto esse, ficamos muito animados para gravar e deixar as coisas acontecerem.” Winstead e McGregor, aliás, se conheceram em cena, ao gravar a terceira temporada de “Fargo”, em 2017. “É quase infeccioso o jeito como nos olhamos e sabemos imediatamente que ambos estamos muito felizes naquele ambiente”, complemente ela. “Atuar com alguém que você ama é incrível.” O diretor Sam Miller é testemunha de que os dois são muito parceiros em cena. “Uma química como essa aparece muito rapidamente em cena”, afirma. “Lembro que a primeira grande cena que gravamos com os dois era a que eles jantavam juntos e acabam subindo para o quarto. A confiança que eles têm um no outro e o quanto eles se divertem juntos ficou óbvia de cara. Isso significou que a gente podia ir sempre mais longe e profundo. Foi uma ótima experiência.” Além disso, a relação é mostrada em diferentes fases, o que segundo o diretor foi uma das coisas que superou suas expectativas na adaptação. “A relação do conde com Anna se estende por mais de 25 anos, quase 30 na verdade, então passa por muitas fases, muito amadurecimento e muita interação, mas todos nós achamos que foi uma bela capitulação das relações humanas. A interpretação deles realmente nos deixou de boca aberta”, afirma.