Lar Cidades Dono de loja de armarinho usa WhatsApp e entregas para vender mais em Araraquara; livreiro fatura em sebo ao unir música e literatura

Dono de loja de armarinho usa WhatsApp e entregas para vender mais em Araraquara; livreiro fatura em sebo ao unir música e literatura

por admin
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A região é conhecida pelo corredor comercial diversificado com alguns estabelecimentos que resistem ao tempo e às mudanças no consumo de determinados produtos, principalmente com a comodidade das vendas online. Nesta terça-feira (30), quando é comemorado o Dia do Comerciário, o g1 conversou com dois comerciantes que se mantêm vendendo para nichos específicos: Um livreiro, que uniu no sebo literatura e música para faturar, e um vendedor de artigos para costura em geral (armarinho), que apostou na divulgação de produtos pelas redes sociais e nas entregas. “O comércio em geral se resumia antes a um grande volume de estoque, diziam que o bom comerciante era quem tinha mais estoque. Hoje a concepção não é mais essa, a gente vai aprendendo. Hoje em dia a gente tem que comprar, por na prateleira e vender. O atendimento pelo WhatsApp ajuda muito também”, contou o comerciante João Jorge Alves de Souza, 85 anos. Fiel ao Carmo Jorge está à frente do armarinho que leva o seu nome há 38 anos. Linhas e barbantes coloridos, agulhas, toalhas, tesouras e tecidos recheiam a loja, uma referência no bairro. Bancário aposentado, a princípio ele abriu uma loja de material escolar, porém, aos poucos percebeu que ao seu redor havia muitas costureiras que precisavam de um comércio local . O comerciante Jorge Souza abriu o armarinho no bairro do Carmo em Araraquara há quase 40 anos — Foto: Amanda Rocha/g1 A iniciativa deu certo e hoje ele trabalha em parceria com algumas costureiras, com indicação mútua. “Aos poucos fui abandoando os artigos escolares e foi a minha sorte, porque fui ampliando o espaço e investindo mais em aviamento. Hoje eu vendo toalhas para bordar, tudo o que você imaginar para bordado eu tenho. O que o grande comerciante tem no centro, eu tenho aqui também”, disse. Muitas clientes são idosas e continuam comprando, mas uma nova geração também bate a porta do comércio. “Eu tenho o meu padrão e uma clientela fixa. Hoje vem filhas e netas de clientes antigas. Aqui a gente passa a se conhecer e temos uma relação de amizade. Eu sou uma camarada incapaz de tentar me aproveitar de uma situação e explorar com valores.”, contou. Ao seu lado, o seu filho o ajuda na divulgação dos produtos via WhatsApp e redes sociais, o que movimentou mais o espaço, principalmente na época da pandemia. Nesse período, ele também começou a fazer delivery. “Ele que divulga nossos produtos por lá, a gente começou a entregar os artigos de armarinho e nos comunicamos muito com os clientes assim”, comentou. Armarinho do Jorge é um ponto de referência no bairro do Carmo em Araraquara — Foto: Amanda Rocha/g1 Livreiro musical O comerciante Celso Monari Paiva, 44 anos, está há 20 anos no mercado de usados e movimenta o setor de sebo no bairro. Ele se considera um livreiro, uma profissão que foi do seu avô e que de certa forma o inspirou. “Eu gosto do nome livreiro porque é uma profissão em desuso, né? Engraçado a gente olhar nesses formulários de profissão e aparece tudo quanto é tipo função, mas não aparece livreiro, é uma profissão esquecida. Acho interessante levantar essa questão”, disse. Natural de São Paulo, Celso se mudou para Araraquara em 2003 para estudar na Unesp e notou que não havia um comércio que misturasse música e literatura na cidade. “Sempre frequentei sebo e achava um barato ter contato com um livro sem precisar necessariamente ter muita grana. E eu tinha esse hábito de sempre chegar numa cidade e procurar os sebos. Quando cheguei aqui vi que não tinha assim um modelo de sebo que eu sempre gostei, um lugar onde tivesse discos de vinil também”, contou. Celso Paiva abriu o sebo Uraricoera há 20 anos em Araraquara — Foto: Amanda Rocha/g1 Garimpo valioso Uma particularidade que notou ao longo dos anos foi que muitas pessoas não sabem qual destino dar aos livros ou vinis quando se mudam de cidade ou mesmo quando algum familiar morre. Para ele, os sebos são espaços necessários para a cultura de uma cidade. “O meu tipo de comércio é um espaço necessário e tem que existir porque a cidade de Araraquara tem uma vocação cultural, tem um histórico ligado as artes diversas. E as pessoas se mudam, morrem e para onde vai esse material? Os livros tem que ir para algum lugar e aqui é um porto seguro para eles. Tem gente que chega aqui com material que não sabe o que fazer, e a gente acaba que sendo tábua de salvação delas. Muita coisa que não vem para cá acabam na reciclagem”, contou. Com a valorização dos discos de vinil nos últimos tempos, Celso comentou que os LPs variam de R$ 10 a R$ 600. Uma das bolachas mais valiosas do sebo é o disco do Clube da Esquina Vol I., e o disco “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”, do cantor Hyldon.”Há um interesse muito grande por música brasileira, dos anos 60, 70 e uma supervalorização. Alguns discos são emblemáticos mesmo, mas é engraçado ver discos rejeitados e que hoje todo mundo quer”, disse. O público do sebo é ecléticos: jovens, idosos e famílias frequentam o espaço atrás daquele livro específico ou na caça de raridades musicais. Uma vitrola embala o ambiente ao som de clássicos de MPB, rock, jazz e trilhas de filmes variados. “Eu já tentei determinar um perfil, mas não tem. É muito eclético, por isso que eu tenho dificuldade até de segmentar o acervo porque chega gente de tudo quanto é a idade procurando coisas mais distintas possíveis, desde de clássicos da literatura até os mais acadêmicos de psicologia. Mas tem gente muito nova frequentando, inclusive por causa de disco de vinil. É um público que ser renova muito”, contou. Jovens são clientes do sebo Uraricoera de Araraquara e procuram por literatura clássica e discos de vinil — Foto: Amanda Rocha/g1 Gentrificação O livreiro comentou que uma preocupação dos últimos anos é a gentrificação do bairro do Carmo, em específico da Rua 7 de Setembro. A gentrificação é um processo de valorização de uma área urbana, principalmente de bairros mais populares e da área central. O comerciante explicou que já observou o aumento no valor dos aluguéis e, consequentemente, da diminuição de comerciantes locais, além da perda de identidade cultural do bairro. “Isso é um fenônemo, né? Nos últimos anos a gente tem visto o aluguel subir muito nessa região. E acredito que ao ser mais valorizado acaba mudando o perfil da avenida. A rua antes era de paralelepípedo e agora tá cheio de barzinhos, bistrôs e restaurantes. É uma transformação aqui do bairro”, concluiu. Neste sentido, o comerciante Jorge está mais tranquilo, já que o imóvel de seu comércio é próprio, e seu filho deve permanecer levando o nome do pai e do armarinho pelos próximos anos, e quem sabe, por outras décadas. VEJA TAMBÉM: Locadora de filmes em Araraquara resiste há mais de 30 anos e preserva histórias REVEJA OS VÍDEOS DA EPTV CENTRAL:

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