Lar Cidades Documentário sobre como a censura afetou o punk brasileiro é lançado no interior de SP e retoma letras vetadas na ditadura militar

Documentário sobre como a censura afetou o punk brasileiro é lançado no interior de SP e retoma letras vetadas na ditadura militar

por admin
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Para contar essa história, o documentário “Não é Permitido: um recorte da censura ao Punk Rock no Brasil” será lançado neste sábado (18), com exibições em três cidades do interior paulista. A produção resgata memórias de membros das bandas Cólera, Inocentes, Garotos Podres, Ratos de Porão e Ulster, que passaram pela repressão. – Acompanhe parte dos bastidores no “making of”, acima. Bandas do cenário do Punk Rock brasileiro participam do documentário sobre como a censura afetou movimento durante ditadura militar — Foto: Nana Leme 📽️O material audiovisual estreia em Cosmópolis (SP) neste sábado (18), chega a Piracicaba (SP) no dia 24 de janeiro e, em Americana (SP) no dia 25, antes de ser disponibilizado no Youtube. – Veja locais e horários, ao final da reportagem. Com cerca de 35 minutos de duração, o projeto contemplado pela lei de incentivo cultural Paulo Gustavo em Cosmópolis tem direção de Fernando Calderan Pinto da Fonseca, Fernando Luiz Bovo, Matheus de Moraes e Renan Costa de Negri. O documentário é uma produção do Coletivo Funderground. Pierre e Val da banda Cólera participam de documentário sobre a censura no punk rock brasileiro — Foto: Nana Leme/Reprodução A ideia de gravar o documentário veio a partir da pesquisa feita pelos diretores sobre a censura sofrida por diversas bandas do punk, com documentos resgatados da antiga Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP). No documentário, os entrevistados analisam os motivos políticos, sociais e culturais por trás da censura. Participam da produção: João Carlos Molina Esteves (Jão) – Ratos de PorãoVladimir de Oliveira (Vlad) – UlsterAriel Uliana Junior (Ariel Invasor) – Inocentes (à época)Clemente Tadeu Nascimento – InocentesCarlos Mariano Lopes Pozzi (Pierre) – CóleraValdemir Pinheiro (Val) – Cólera e Olho SecoJose Rodrigues Mao Junior (Mao) – Garotos Podres Documentário “Não é Permitido: um recorte da censura ao Punk Rock no Brasil” — Foto: Nana Leme ❌Letras censuradas Renan contou ao g1 que ter encontrado a música Keeparologia é Keeparologia, do Redson, é importantíssimo para a história do punk. “Ela foi enviada em 1977, antes de ele formar as bandas Cólera e Olho Seco. As pessoas com quem falamos não a conhecem, nem mesmo seu parceiro de banda e irmão, Pierre”, aponta um dos diretores do documentário. “Com o encontro dessa música e de mais três do período, iniciamos, agora, uma busca por alguém que tenha alguma gravação ou memória sobre a canção. Pierre e Val falam um pouco sobre possíveis referências no documentário. Mas, ainda estamos em busca de respostas”, esclarece. Música ‘Keeparologia é Keeparologia’, de Redson da banda Cólera, integra história do punk. — Foto: Reprodução/Arquivo Nacional Documento enviado pelos pesquisadores mostra que muitas músicas da banda Ulster foram vetadas em 1982. “A banda Ulster, mesmo modificando parte das letras buscando ludibriar a censura, foi uma das mais censuradas”, diz Negri. A faixa “Corrupção”, assinada por Jarbas Alves (conhecido como Jabá), então baixista dos Ratos de Porão, também recebeu o carimbo “Vetado”. A composição reúne versos como “A corrupção está acabando com a nação”, e “O índice de desemprego está crescendo / e eles fingem não estar vendo”, por exemplo. Mao da banda Garotos Podres é entrevistado durante documentário sobre censura contra punk rock no Brasil — Foto: Nana Leme/Reprodução Documento de 1982 da Divisão de Censura de Diversões Públicas, do Departamento de Polícia Federal, aponta que “Corrupção” e outras faixas de Jarbas Alves foram vetadas porque apresentam “protesto social, incitamento à violência, protesto político, o que caracteriza a filosofia punk, a que o grupo pertence. […] Deixa visível que a censura não queria letras de protesto”, afirma a um dos produtores do documentário, Fernando Bovo. “Miséria e Fome”, da banda Inocentes, também foi vetada originalmente e aprovada após algumas alterações. A canção tem o mesmo nome do material que o grupo lançaria em LP. Entretanto de acordo com os pesquisadores, nove das 12 músicas foram censuradas, fazendo com que o número de músicas lançadas fosse reduzido e condensadas num EP. Música ‘Corrupção’ da banda Ratos de Porão — Foto: Reprodução/Arquivo Nacional A faixa “Batman”, da banda Garotos Podres, recebeu carimbo referente ao impedimento no dia 4 de outubro de 1988. Assim, de acordo com os pesquisadores, é possível que a música tenha sido a última censurada. “No dia 4 de outubro, o diretor do órgão resolveu manter o veto à música mesmo sabendo que no próximo dia, 5 de outubro, ele seria revogado com a promulgação da Constituição Federal de 1988”, aponta Fernando Calderan, responsável pelas pesquisas junto com Renan. Clemente e Ariel da banda Inocentes — Foto: Nana Leme/Reprodução Pesquisas e origens 📃 Renan Costa de Negri, um dos diretores do documentário, falou ao g1 sobre o processo de “nascimento” das pesquisas que deram origem ao projeto. A ideia, segundo os produtores, é a de que todo o material coletado seja transformado também em um livro em algum momento. O interesse pelo tema da censura ao punk surgiu ainda na pandemia, quando Renan e Fernando Calderan encontraram os arquivos de parte das bandas que aparecem no documentário. A primeira foi o Ratos de Porão, em seguida vieram Inocentes, Ulster, Camisa de Vênus, Replicantes e tantas outras. Lista de músicas da banda Ulster, vetadas pela censura brasileira em novembro de 1982 — Foto: Reprodução/Arquivo Nacional As pesquisas passaram não só pelo Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), mas também pelo Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN). Renan conta que não foi uma tarefa fácil resgatar músicas e documentos através desses meios. “A pesquisa pelo SIAN tem suas peculiaridades. No primeiro momento, fomos por palavras-chave como punk, anarquia e revolta. Depois, começamos um processo mais detalhado de busca por meio da pesquisa do nome de artistas e das músicas presentes em álbuns e shows da época”, disse. Documentário apresenta documentos resgatados que mostram a repressão sofrida pelas bandas punk no Brasil nas décadas de 70 e 80 — Foto: Nana Leme Durante o processo de garimpo por documentos e evidências, foram encontradas músicas e diversos casos de alteração de letras devido à censura. “Havíamos identificado casos de mudança de letras da banda Ulster para tentar driblar a censura, mas com a entrevista, percebemos que muitas outras canções tiveram a letra mudada. Isso não adiantou muito, a banda teve mais da metade das músicas censuradas.” Jão, da banda Ratos de Porão, participa do documentário “Não é Permitido: um recorte da censura ao Punk Rock no Brasil” — Foto: Nana Leme A importância do movimento punk 🤟 Ao entrevistar os artistas, Fernando Calderan conta que puderam ter uma dimensão maior do que foi a perseguição por aqueles que escolhiam não se calar durante a época de repressão. A partir dos relatos, foi possível lembrar que a censura era só uma forma oficial de repreensão. “Na escola, em casa e nas ruas suas ideias e expressões eram constantemente reprimidas. Ariel e Clemente destacaram que os pais tinham medo que os filhos sofressem com a perseguição do Estado e suas piores consequências”, relembra. Matheus de Moraes, da equipe de direção e produção do documentário, estabelece com clareza que o punk é, na verdade, uma “forma de viver”, e que mudou a vida de todos que fizeram, e fazem, parte do movimento. “Música é a arte que nos faz pulsar a vida”, afirma. Decisão da censura sobre letras da banda Ratos de Porão reproduzida no documentário — Foto: Reprodução/Arquivo Nacional O diretor explica que é necessário falar sobre censura e repressão, em especial sendo parte de um movimento que é constantemente atacado e tratado de forma preconceituosa. “O movimento punk possui artistas capazes de criar análises interessantíssimas do Brasil em suas músicas, textos e ações. E, pensando na valorização desse gênero tão importante na desconstrução de valores preconceituosos, decidimos registrar parte da história ainda não contada sobre essas bandas e artistas que sempre andaram pelo underground”, afirma Renan. Vlad da banda Ulster em entrevista para documentário ‘Não é Permitido – Um recorte da censura do Punk Rock no Brasil’ — Foto: Nana Leme/Reprodução Exibições 📽️🎸 A primeira exibição do documentário ocorre às 20h deste sábado (18), no Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU) Andorinhas de Cosmópolis (SP). O endereço é Rua Luiz Vaz de Camóes, nº 114, no bairro Parque Residencial das Andorinhas. 🎫A entrada é gratuita, com retirada de ingressos pelo site. Para saber mais, clique 👉aqui. O documentário também terá outras duas exibições. No próxima sexta-feira, dia 24 de janeiro, em Piracicaba (SP) e no sábado (25) em Americana (SP). Além dos pesquisadores, a equipe de produção do documentário é formada por Gabriel Albertini, Jean Novaes, João Soave, Nana Leme, Henrique Lopes de Oliveira, Carol Verza, Gabriel Barsottini e Jéssica Pedroso. ***Sob supervisão de Claudia Assencio Música ‘Batman’ da banda Garotos Podres pode ter sido a última letra do punk rock nacional a ser censurada um dia antes da promulgação da Constituição brasileira — Foto: Reprodução/Arquivo Nacional VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região

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