“Ter crescido nesse ambiente de música que meu pai proporcionava e incentivava foi fundamental. É muito bom, sempre acompanhei e admirei ele como músico e poder subir com ele nos palcos é incrível”, contou Fernando, que é baterista da banda Beatles Again, fundada por seu pai em 1993. No Dia dos Pais, comemorado neste domingo (11), o g1 mostra as influências paternas do comerciante Francisco Sales Colturato, de 60 anos, e de Roberto Neves, de 70 anos, médico e músico profissional, na vida dos filhos. Família sonora Fernando Neves cresceu em um ambiente musical diverso com muita MPB, rock, jazz, reggae, pop entre outros gêneros. Mas os Beatles sempre reinaram nos altos-falantes e playlist de Roberto (Beto). Multi-instrumentista, o médico é beatlemaníaco assumido e passou toda a sua paixão sonora ao caçula. Fernando também é versátil e além de bateria, ele toca violão e teclado. Hoje, os dois tocam juntos em banda que é reconhecida nacionalmente e internacionalmente por tirar fielmente as músicas dos Fab Four. Enquanto o filho fica com o ritmo do bumbo, pratos e caixa, o pai manda ver na voz, guitarra e piano. Fernando e Beto Neves em show no Cavern Club Lounge em Liverpool, Inglaterra — Foto: Arquivo pessoal “Cresci ouvindo muito Beatles e isso com certeza se tornou um elo, não só entre nós mas entre toda a família. Me interessei por música desde criança, em uma casa sempre ouvia-se e fazia-se muita música, meu pai sempre teve bandas e ensaiavam em casa. A memória mais antiga que tenho foi aos 6 anos entrar na sala onde ficavam os instrumentos e ir direto na bateria, desde então não parei mais”, recordou. Pai de quatro filhos, Beto contou que a princípio esperava que algum deles seguisse o caminho da Medicina, embora nunca tenha interferido na escolha de cada um. Arquitetura, Tecnologia da Informação, Administração e Música foram as áreas escolhidas. “Meus dois filhos mais velhos também tocam bateria e violão, mas o Fernando, no entanto, sempre foi o mais musical deles. Desde pequenino tocava na bateria do irmão mais velho, sentava no piano da sala e dedilhava algumas músicas de ouvido. Aprendeu violão sozinho. Acabou fazendo graduação em Som e Imagem, e seguiu carreira como produtor musical e músico”, disse orgulhoso. Beatlemaníacos: paixão pelos Beatles e pela música foi passada pelo pai Beto Neves ao filho Fernando — Foto: Arquivo pessoal Sonho internacional Entre idas e vindas, o filho-baterista já havia participado da banda Beatles Again como o 5º elemento entre 2011 e 2015, e se diverta muito ao lado do pai. Mas foi no ano passado que um sonho se concretizou quando eles foram chamados para tocar no maior evento de Beatles no mundo, a International Beatle Week, em Liverpool na Inglaterra. “Ir para a Inglaterra com ele só pra curtir o festival já teria sido demais, mas ir para tocar ao lado dele nos icônicos palcos da beatlemania foi maravilhoso, a realização de um sonho”, disse Fernando. Banda posa com estátuas dos Beatles durante passagem em Liverpool, Inglaterra, em agosto de 2023. — Foto: Arquivo pessoal Para Beto, o show foi o ponto alto da carreira musical e uma realização pessoal. E o melhor de tudo foi compartilhar o momento ao lado do caçula. “Foi o máximo. Era um sonho que eu tinha desde adolescente, e, embora já estivesse estado no festival em anos anteriores, ter sido convidado com a Beatles Again para representar o Brasil (e Araraquara também) na International Beatle Week foi algo espetacular. Para mim isso foi muito gratificante estar com o Fernando porque ele é um excelente músico, e sempre tivemos uma relação muito próxima. Estamos sempre juntos, no palco, nas viagens. Quando terminamos os shows, é dele sempre o primeiro abraço”, disse. Balcão de gerações Já o balcão do bar e o atendimento ao público sempre fizeram parte da vida do comerciante Francisco Sales Colturato, o Fran, e Lucas Colturato, pai e filho proprietários do Bar do Zinho, um dos pontos mais tradicionais da Morada do Sol. O estabelecimento completou 70 anos e foi fundado pelo avô de Lucas, o saudoso comerciante João “Zinho” Colturato. Fran assumiu o bastão na década de 90, aos 30 anos, e agora é a vez de Lucas. Francisco e Lucas Colturato trabalham juntos no tradicional bar da família. Estabelecimento de Araraquara completou 70 anos e se reinventou ao longo das décadas — Foto: Amanda Rocha/g1 Embora parecesse natural o caminho do bar para ambos, a história era outra. Tanto o irmão de Fran, Fausto, como o irmão de Lucas, Thiago, eram os mais cotados para assumirem o estabelecimento, mas os dois foram para a área da engenharia. E a função ficou para eles, cada um no seu tempo. “Em princípio eu não queria assumir o bar, nunca pensei em trabalhar aqui, só vinha debaixo de vara. Sempre fugi do bar. Meu pai sempre pegava a gente de casa para trabalhar, todos nós ajudamos. Meu irmão mais velho ficou anos ajudando e até se pensou que ele seria o substituto do meu pai. Assim como eu pensava que seria o meu outro filho Thiago”, contou. Antes de encarar de vez os copos, garrafas e porções, Fran passou por diversas profissões como bancário, vendedor, professor, entre outros. Já Lucas comentou que a identificação veio cedo e ele sempre alinhou a faculdade de educação física com o atendimento. “Eu cresci praticamente aqui dentro e sempre tive uma identificação com o bar. Sou educador físico, fazia faculdade de manhã e trabalhava à tarde, mas nunca deixei de estar aqui. Agora com esse passo de assumir mais responsabilidades tenho certeza desse caminho que escolhi”, contou Lucas. Pai está “semi aposentado” e passa o bastão para o filho Lucas Colturato que deve assumir em breve o bar da família — Foto: Amanda Rocha/g1 Mudança de perfil Francisco recorda que um dia acordou repentinamente pensando em assumir o negócio da família. Ele contou ao pai que estava na hora dele aposentar e que administraria o bar. Zinho já havia dedicado a sua vida ao boteco, mas não arredava o pé. Aos poucos, ele foi largando o “osso”. O comerciante comentou que como toda mudança, conflitos e choques de geração ocorreram, e o receio era que os antigos frequentadores não gostassem da nova fase. “Tive muito conflito com o meu pai porque tinha uma velha guarda aqui que ouvia discos de Nelson Gonçalves e Odair José em uma vitrola. E de repente, nos anos 90 chega um público rock n roll. Eu pensei que fosse ter conflito de gerações, mas foi super tranquilo. Eles chegaram, dividiram espaço e até hoje é assim. De Nelson Gonçalves passou a ter Black Sabbath e Iron Maiden. É um perfil do bar”, comentou. A guinada na administração do botequim ampliou o público e passou a misturar a velha guarda e os novos rockeiros. Hoje, filhos e até netos dos clientes da década de 1990 frequentam o lugar para tomar aquela gelada. “Unimos diferentes gerações de frequentadores. Hoje os filhos desses roqueiros cabeludos frequentam o bar, é demais isso. São gerações, pessoal trazendo os filhos no colo. Sou muito grato por isso”, disse Fran. Lucas é só elogio ao comando paterno em ressignificar o estabelecimento e dar espaço a todos os gêneros musicais e público. De quarta a domingo, rolam shows e feiras na Praça das Bandeiras, que fica em frente ao bar e já se tornou uma extensão do botequim. Boteco é um ponto de encontro de diferentes gerações em Araquara — Foto: Amanda Rocha/g1 “Na época do meu avó era tudo muito diferente, não se pensava em ter esse espaço cultural, foi bem devagar desde implementar bebida diferente. Meu pai foi adaptando e não tenho nem o que falar o que ele faz, o que fez foi gigante. Nos damos super bem.Tem muito a ver a família ir aprendendo a lição de casa e ir melhorando e adequando ao momento”, disse. E uma nova geração deve chegar daqui há alguns anos para manter a tradição familiar no comando. A filha de Lucas, Helena, tem 6 anos e já avisou ao pai o que vai fazer quando crescer. Gerações: Lucas, Helena e Francisco Colturato em selfie. A pequena já deu a letra e quer trabalhar no bar quando crescer — Foto: Arquivo pessoal “A Helena já me falou: Papai, eu quero trabalhar no Bar do Zinho. Ninguém sabe do futuro, mas se ela quiser, é dela. Ela é muito esperta e já põe o banquinho dela no balcão, sabe abrir as garrafas, sabe usar a maquininha do cartão, digita valor e ainda pergunta se é débito ou crédito, e não vende fiado. Ela faz uma propaganda danada do bar na escola e já trouxe os pais das amiguinhas para cá”, contou aos risos. Veja vídeos da EPTV Central