No Dia do Compositor, comemorado nesta quarta-feira (15), o g1 conta a história por trás da arte da concepção do artista que é conhecido como Palu. Folclore interiorano paulista Sua grande fascinação pelo folclore interiorano paulista e o campo é o ponto inicial para o uso de técnicas de captação sonora na natureza e extração dos sons mais inusitados. O músico cresceu e vive em uma casa na zona rural, cercada por vegetação. Contato com a natureza está ligado diretamente às suas obras. “Não precisa ficar preso aos instrumentos convencionais, há um universo de timbres ao nosso redor. E por isso, podemos perceber coisas que ainda não existem quando os sons da natureza são processados e modulados”, explicou o produtor. Mateus Paludetti (à esquerda) em seu homestudio em abril de 2006 / Mateus (foto à direita) em apresentação atual — Foto: Arquivo Pessoal Autodidata, quando criança ele gostava de interagir com o rádio antigo de casa. Na época, gravava sons em fitas cassete e criava vinhetas como uma brincadeira. “O aprendizado veio da experimentação, que é o cerne do meu trabalho”, contou. “O ‘não convencional’ sempre me atraiu”, disse Mateus ao ser questionado da origem de suas ideias. Processo criativo Quando lembra de suas inspirações artísticas, o compositor menciona o movimento histórico concretista na música, conjunto de técnicas experimentais, que surgiu no final dos anos 1940 com Pierre Schaeffer. Em seu projeto mais recente, ‘Teiurutau’, ele combina a viola caipira, gravações de campo e lendas do interior. ‘Teiurutau’ é um neologismo, ou seja, uma palavra derivada de outras já existentes. O teiú, réptil de hábitos diurnos, e o urutau, que designa um grupo de aves de hábitos noturnos, se complementam na obra. Urutau foi levado a uma unidade do Sema-MT. — Foto: Corpo de Bombeiros-MT/Cedida Em ‘Desmoronamentos’, faixa de abertura do álbum, Palu explora o regionalismo. A junção vai de timbres eletrônicos à música psicodélica. E como ingrediente especial, foi captado e embutido ao som, o canto do urutau. A ‘ave fantasma’ produz um som apavorante e carrega lendas e superstições por seu comportamento peculiar. “Era muito comum ouvir ‘causos’, lendas rurais vindas de minha avó e o ‘Mateus criança’ não sentia medo e sim fascinação, estado de êxtase ao ouvir essas histórias”, contou o produtor. Equipamento e captação de som Estúdio de produção ‘Interior Ressonante’ , de Mateus Paludetti em Descalvado — Foto: Arquivo pessoal No bolso estão sempre gravadores e microfones portáteis, cada um com sua função de captação. Veja lista de alguns equipamentos essenciais na lista abaixo: Os microfones condensadores são sensíveis e ideais para captar sons detalhados e momentos isolados. Eles funcionam melhor em ambientes controlados, como estúdios;Os microfones dinâmicos capturam sons mais secos e possuem maior resistência a volumes altos, tornando-os ideais para apresentações ao vivo;Os microfones de contato, captam vibrações diretamente de superfícies sólidas e as transformam em sinais elétricos. O armazenamento fica por conta de bancos digitais de um programa que utiliza para guardar o material sonoro até o momento de uso. Trilhas e projetos Acervo de instrumentos para captação de sons para seu trabalho artístico em Descalvado — Foto: Arquivo pessoal No projeto de curta-metragem, chamado “Nem Tudo é o que Parece” realizado em São Carlos (SP) sob a direção de Iasha Salerno, o artista usa proposta experimentalista a partir do som de espirros. O trabalho, patrocinado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC), foi desafiador mas muito proveitoso, afirmou o músico. Outro projeto marcante foi a “Rádio Cassandra”, idealizado pelo diretor Fabiano Lodi, a abordagem conta com a criação teatral radiofônica inspirada em uma história da mitologia grega e que envolveu a captação e edição de áudio, locução e música original sob responsabilidade de Mateus. Ambos os projetos serão lançados em 2025. *Sob a supervisão de Fabio Rodrigues, do g1 São Carlos e Araraquara.