Dia do Cinema Brasileiro: nova safra vai do terror social à comédia romântica

O cinema brasileiro é um verdadeiro milagre. Já morreu e ressuscitou algumas vezes ao longo de sua história. Já teve bilheterias que passavam de 5 milhões de espectadores no passado e hoje muitas vezes sofre para levar 100 mil espectadores às salas. Mas resiste sempre, contando histórias incríveis que só poderiam se passar aqui mesmo, no Brasil –mesmo se, depois de rodar a última cena, os produtores ainda não tenham a mínima ideia de quando o filme vai estrear, e quais espectadores vão querer vê-lo. Como disse uma vez nosso maior crítico, Paulo Emílio Salles Gomes: “O Brasil faz o melhor cinema brasileiro do mundo” –ou seja, Hollywood jamais vai poder nos mostrar o que só acontece por aqui. A boa notícia é que muitos dos filmes mais bacanas da última temporada já chegaram ao streaming. Confira algumas dicas abaixo –e aqueles que podemos esperar na tela grande nos próximos meses. NETFLIX “Sem Coração”, de Nara Normande e Tião Numa praia linda no litoral de Alagoas, um grupo de jovens descobrindo o amor e a inusitada atração de uma adolescente pela menina do título. Um filme solar e cheio de criatividade. “Propriedade”, de Daniel Bandeira Neste terror com fundo de conflito social, uma mulher tem que se refugiar no seu carro blindado quando todos os trabalhadores da fazenda de sua família se revoltam e decidem matá-la. Indicado para os fãs “Bacurau” –só que este é bem mais barra-pesada… “Diálogos com Ruth de Souza”, de Juliana Vicente Num tempo em que a TV só valorizava os talentos brancos, Ruth de Souza foi a pioneira que abriu caminho para todos os artistas pretos que hoje brilham nas séries e novelas. Este documentário traz a última grande entrevista que Ruth deu, antes de morrer em 2019. GLOBOPLAY “Pedágio”, de Carolina Markowicz Uma cobradora de pedágio em Cubatão (Maeve Jinkings, da série “Os Outros”) não se conforma com a sexualidade do filho e decide inscrevê-lo numa duvidosa terapia de cura gay. Um dos filmes mais aclamados de 2023. “O Rio do Desejo”, de Sérgio Machado Neste drama delicado carregado de sensualidade, Sophie Charlotte é a mulher que se envolve com seus dois cunhados (Gabriel Leone e Rômulo Braga) depois que seu marido (Daniel de Oliveira) trabalha conduzindo um barco pelas águas do Rio Negro. “Terra em Transe” (1967), de Glauber Rocha Nunca viu o melhor filme brasileiro de todos os tempos? Depois de décadas indisponível até em DVD, esse clássico agora está no streaming. E segue atual quase 60 anos depois, com o personagem de Paulo Autran dizendo coisas que poderiam ter saído da boca de Jair Bolsonaro. TELECINE “Minha Irmã e Eu”, de Susana Garcia Ingrid Guimarães e Tata Werneck carregam a tocha de Paulo Gustavo na comédia nacional mais popular dos últimos anos “Mussum: O Filmis”, de Silvio Guindane Ailton Graça está perfeito como o Trapalhão que, além de comediante, era um sambista de mão cheia. MAX “Evidências do Amor”, de Pedro Antônio Paes Yes, nós temos comédias românticas. Toda vez que ouve o clássico sertanejo “Evidências”, um rapaz (Fabio Porchat) se vê transportado ao passado ao lado de sua ex-namorada (Sandy). O casal parece improvável, mas até tem sua química. STAR+ “O Sequestro do Voo 375”, de Marcus Baldini Esse é pra quem gosta de filme de ação e histórias com o selo “baseado em fatos reais”. Em 1988, um homem sequestra um voo comercial para protestar contra a fracassada política econômica do presidente José Sarney. Adrenalina garantida. PRIME VIDEO “Depois a Louca Sou Eu”, de Julia Rezende Não é um filme de Almodóvar, mas Débora Falabella vive uma escritora à beira de um ataque de nervos nesta comédia sobre a ansiedade nossa de cada dia. “Comeback”, de Érico Rassi Neste faroeste à moda antiga, um pistoleiro aposentado é procurado pelo neto de um antigo amigo para uma nova missão. Um dos últimos grandes trabalhos de Nelson Xavier, mais conhecido por seu brilhante trabalho em “Chico Xavier” SESC DIGITAL “Corpo Elétrico”, de Marcelo Caetano Elias trabalha numa fábrica em São Paulo e sonha em conhecer o mar. Ele curte sua juventude ao lado de amigos das mais diversas origens, todos habitantes de uma metrópole pulsante. O diretor acabou de ter seu novo longa, o inédito “Baby”, exibido no último Festival de Cannes MUBI Estradas para o Brasil Para comemorar a data, o streaming de filmes cults propõe três “road movies” que desbravam, cada um à sua maneira, os caminhos do país: “Bye Bye Brazil” (1980), de Cacá Diegues, que em breve será relançado nos cinemas em versão restaurada 4K; “Cinema, Aspirinas e Urubus” (2005), do pernambucano Marcelo Gomes; e “Estrada para Ythaca” (2010), do coletivo cearense Alumbramento. BREVE, NUM CINEMA PERTO DE VOCÊ “Bandida – A Número Um”, de João Wainer Na melhor tradição de “Cidade de Deus”, o filme conta a história real de Rebeca, uma das traficantes mais poderosas da Rocinha nos anos 80. A protagonista é vivida por Maria Bomani, que ficou mais conhecida só como Maria ao integrar o elenco do BBB 22. Estreia nesta quinta (20). “Motel Destino”, de Karim Aïnouz O representante do Brasil na competição do último Festival de Cannes é um thriller com sangue e suor envolvendo um triângulo amoroso num motel de beira de estrada, e marca a volta do diretor de “A Vida Invisível” e “Praia do Futuro” à sua terra. Estreia 22 de agosto. “Silvio”, de Marcelo Antunez Em 2001, além do ataque às Torres Gêmeas, os brasileiros entraram em pânico com o sequestro de Silvio Santos pelas mãos do mesmo bandido que havia sequestrado sua filha Patricia dias antes. Não sabemos o que esperar de Rodrigo Faro vivendo o dono do SBT, mas a curiosidade já está bombando. Estreia 5 de setembro. “O Auto da Compadecida 2”, de Guel Arraes Tudo bem, demoraram um pouquinho pra fazer uma sequência… Mas quem vai resistir a João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello) voltando pra novos golpes em pleno Natal? Estreia dia 25 de dezembro. Thiago Stivaletti Salvar artigos Recurso exclusivo para assinantes assine ou faça login Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).