Essas bolsas gaméticas são dispersas em sincronia com o ciclo lunar, em épocas do ano que variam de espécie para espécie. Elas fazem parte do processo de reprodução sexuada dos corais. “As bolsas gaméticas flutuam até a superfície onde se rompem e os gametas são liberados. Nesse momento começa a corrida pela fertilização, e os óvulos começam a enviar sinais químicos para atrair os espermatozoides”, explica o biólogo José Herrera, que integra o programa de conservação CoralTheca. Reprodução sexuada garante uma maior diversidade genética e resiliência dos corais — Foto: José Soto De acordo com Herrera, a espécie pode se reproduzir tanto de forma assexuada quanto sexuada. Na assexuada, os se dividem, criando novos pólipos, que são cópias geneticamente idênticas. Assim, a colônia é capaz de crescer rapidamente em número de indivíduos. Mas para garantir a variabilidade genética, importante em processos de adaptação, e para que os corais possam se dispersar geograficamente, a reprodução sexuada é essencial. Vale lembrar que esses animais são hermafroditas e, por isso, cada pólipo pode gerar óvulos e espermatozoides. Após o encontro dos gametas, os ovos fertilizados iniciam o desenvolvimento embrionário até se tornarem larvas. O processo ocorre na superfície do mar ou próximo a ela. Dias depois, a larva desce em direção ao fundo em busca do local mais adequado para se instalar. “Uma vez encontrado, ele se instala e sofre uma metamorfose na qual assumirá a forma de um pólipo que pode medir menos de um milímetro. Esse pólipo começará a crescer, formar seu próprio esqueleto e, depois de vários meses, começará a se dividir e formar a nova colônia por meio da reprodução assexuada”, completa o pesquisador. Desova foi gravada no arquipélago Ilhas do Rosário, na Colômbia — Foto: José Soto Segundo ele, a espécie Orbicella annularis é uma importante “construtora” dos recifes no Caribe e corre risco de desaparecer por conta de ameaças como a poluição, doenças, acidificação dos oceanos e, principalmente, o aquecimento anormal das águas provocado pelas mudanças climáticas. “As altas temperaturas superficiais afetam o processo de reprodução sexuada dos corais. Estudos mostram que os espermatozoides perdem mobilidade, reduzindo as chances de fertilização dos óvulos, o que leva à diminuição das populações. Se somarmos isso às doenças e aos eventos de branqueamento em massa, este declínio é ainda mais acentuado”, alerta. Adaptação dos corais Para tentar minimizar os danos e restaurar os recifes da região do Caribe, um programa internacional realiza a fertilização desses animais em laboratório após a seleção das colônias que resistiram a altas temperaturas sem branqueamento ou que se recuperaram bem. A criação dos novos pólipos ocorre tanto em laboratório quanto em piscinas flutuantes no mar, e, quando prontos, os pólipos são transplantados para o recife. “A criação de corais sexualmente assistidos aumenta as probabilidades de obtenção de colônias resistentes, com maiores probabilidades de sobrevivência em condições cada vez mais difíceis”. “Os corais existem há 240 milhões de anos e sofreram várias extinções em massa, mas esses processos ocorreram durante dezenas ou centenas de milhares ou mesmo milhões de anos, o que lhes permitiu se adaptar às novas condições. Agora as mudanças estão ocorrendo ao longo de décadas, sem dar aos corais a oportunidade de se adaptarem”, completa Herrera. O trabalho foi realizado com cinco das mais importantes espécies formadoras de recifes, que estão Criticamente Ameaçadas (CR): coral-cérebro-fenda (Diploria labyrinthiformis), coral-cérebro-simétrico (Pseudodiploria strigosa), coral-cérebro-gigante (Colpophyllia natans), coral-estrela-lobado (Orbicella annularis) e coral-estrela-montanhoso (Orbicella favelota). Coral-cérebro-de-netuno (Diploria labyrinthiformis)também integra o programa de conservação — Foto: Jay Brasher / iNaturalist Serviços ecossistêmicos Embora ocupem menos de 0,1% da superfície do planeta, os recifes de coral abrigam 25% de todas as espécies marinhas, o que os torna o suporte essencial dela. Além disso, prestam uma série de serviços ecossistêmicos, tais como: Constituem uma barreira natural, reduzindo a energia das ondas fortes associadas à erosão costeira e mitigando significativamente os efeitos destrutivos de eventos extremos, como tempestades e furacões;Constituem uma importante fonte de proteína animal e sustento para seis milhões de pescadores no mundo, a maioria deles artesanais;São um importante atrativo para o turismo nacional e internacional na maior parte dos 100 países do mundo onde estão presentes, gerando empregos, renda e lazer para as populações. Recifes de coram fornecem os terrenos de desova e viveiro que as populações de peixes necessitam — Foto: José Soto VÍDEOS: Destaques Terra da Gente