De perfumaria a tabacaria: bancas de jornais se reinventam para atrair clientes em Araraquara

De perfumaria a tabacaria: bancas de jornais se reinventam para atrair clientes em Araraquara

No Dia do Jornaleiro, comemorado nesta segunda-feira (30), o g1 percorreu algumas bancas de Araraquara (SP) para conferir como anda a profissão “analógica” em tempos de cliques e notícias na era digital. Banda Pedro de Toledo é uma das bancas mais tradicionais de Araraquara e se diferencia pelas HQs. — Foto: Amanda Rocha/g1 Ponto tradicional Uma das bancas mais tradicionais da cidade é a Banca do Parque, localizada no Parque Infantil há mais de 30 anos. O proprietário Claudomiro Pedroso, de 73 anos, e seu filho Leonardo Pedroso, de 34 anos, resistem e tem uma clientela fiel e amiga. Leonardo cresceu vendo o pai jornaleiro que chegava a vender mais de 600 jornais aos finais de semana. Hoje, a realidade é outra. “Há 15 anos, eu vendia 300 Estadão e 350 Folhas de São Paulo, o jornal era volumoso, hoje eu vendo 2 folhas e um estadão em um domingo. E ainda tem dia que não vendo nada. Não trago mais jornal durante a semana porque não tem saída. Tem professora que vem comprar jornal para mostrar aos alunos o que é um jornal, porque muitos nunca viram”, comentou Claudomiro. Mas um produto mantém a banca agitada e muito frequentada: os álbuns de figurinhas. De campeonato de futebol (brasileiro, europeu), lançamentos de filmes e também, a universo dos Youtubers. Leonardo mostra os álbuns de figurinha disputados da banca do Parque em Araraquara — Foto: Amanda Rocha/g1 Figurinha futebol clube A procura é tanta que os clientes fundaram o “Clube de Troca de Figurinhas Araraquara” e desde 2012 eles se reúnem aos sábados, domingos e feriados ao redor da banca. O grupo tem até camiseta customizada parecida como as de time de futebol. “Hoje, a gente se reinventa porque muitos segmentos de revistas deixaram de existir, como as de artesanato e de horóscopo. Álbuns de figurinha é o carro chefe da banca. Vem gente de Trabiju, de São Carlos para trocar figurinha. Os álbuns de campeonato de futebol são os que mais vendem, sem falar da Copa, que não tem comparação”, contou Leonardo. De crianças a 60+ : banca do Parque atrais os colecionadores de álbuns de figurinhas em Araraquara — Foto: Amanda Rocha/g1 O público é diverso e para Leonardo, é interessante ver a interação das crianças com os mais velhos e a troca entre eles. “Essas crianças de 60 anos conversam muito com outras crianças e eles interagem bem, é muito legal ver essa troca entre eles, além do mais tira a garotada do celular também. Porque mesmo que usem aplicativo para controlar as figurinhas, a maioria faz lista escrita à mão”, contou. Além dos álbuns, as palavras cruzadas ainda continuam em alta com o público 60+. Cards de games, brinquedos, legos, jogos, mangás, óculos, doces e bebidas, são outros atrativos. Queridinhas: palavras cruzadas são um dos artigos mais procurados ainda em bancas de Araraquara — Foto: Amanda Rocha/g1 O garoto Tom Barreto Faria tem apenas 5 anos e frequenta a banca com avós e pais desde bebê. “Ele gosta muito de livros de história e sempre procura na banca, a gente lê para ele toda noite. O Tom também gosta de cards”, contou a avó enquanto o menino fuçava algum tesouro nas prateleiras. Mas um segmento chama a atenção de Leonardo para o futuro da banca. “Penso em investir mais em tabacaria, já vendemos cigarros, mas a galera procura mais tabaco orgânico hoje e estou pensando em ampliar nesse sentido”, contou. Pet paper Os jornaleiros brincam que o jornal mais vendido é para pets. Os “pet paper” são os jornais com notícia velha vendidos por quilo. Na banca do Parque, um calhamaço de 2 kg custa R$ 20 reais. “Vendemos muito para gaiolas e para os animais de estimação em geral. Eles são os principais leitores”, brincou Leonardo. “Jornal Pet” é vendido em bancas de Araraquara. — Foto: Amanda Rocha/g1 Quadrinhos heróicos As vendas de histórias em quadrinhos (HQ) é o que mantém a banca da Pedro de Toledo na ativa. Heróis, vilões e conteúdos de ação são os mais procurados pelos clientes, que vão de jovens a adultos. O jornaleiro Luís Regazzini, de 41 anos, resiste no local há duas décadas junto ao seu pai. “Eu sempre gostei de quadrinhos e resolvi investir nessa área. A molecada nova gosta de mangá, e os adultos de mais de 35 anos vão para HQ. Tento trazer tudo muito próximo do universo de HQ, como os bonecos, livros e jogos” , contou. O jornaleiro Luís se especializou em HQs e tem público fiel na Banca Pedro de Toledo em Araraquara — Foto: Amanda Rocha/g1 Salgadinhos, balas, brinquedos e periféricos de celular também estão na prateleira para diversificar e atrair outros públicos. Lá, ainda há vendas de jornais diários e os leitores são os da terceira idade, que também são os principal consumidores das palavras cruzadas. “Geralmente vendo mais jornais de domingo, em torno de 15 de cada. Já durante a semana são vendidos por volta de uns 4 por dia. Costumo falar que se acabar a terceira idade acabam os jornais e as palavras cruzadas”, contou. Zap cultural Uma ferramenta tecnológica aliada nas vendas de Luís é o WhatsApp. O jornaleiro mantém grupos segmentados e dispara as novidades com frequência. “Tenho três grupos, um de mangá, um geral e outro de HQs. Tem funcionado bem dessa forma”, disse. Um dos clientes que recebeu mensagem no zap é professor Rodrigo Tadei, de 47 anos. Ele comprou uma história em quadrinhos do Superman atraído pela ilustração. Professor Rodrigo Tadei comprou uma história em quadrinhos do Superman atraído pela ilustração que viu no zap — Foto: Amanda Rocha/g1 “Sempre vejo o grupo e agora ele começou a colocar as fotos, nisso eu vi que essa HQ tinha o nome do roteirista e do desenhista que gosto e por isso vim comprar. Eu já tentei ler online, mas não consigo. Gosto de ter a experiência física com os quadrinhos, desse contato. E também há sempre boas conversas aqui”, contou. Outra ferramenta aliada do comércio é o cinema. Lançamentos sempre atraem novos clientes atrás de álbum de figurinha ou gibi. “Agora vai ter filme da Turma da Mônica, então com certeza vai ter mais procura”, contou. Amigos da sorte Hiper Saúde, palavras cruzadas, perfumes, e por incrível que pareça, jornais e revistas ainda vendem bem na banca de Tuty Pedro Antônio, de 62 anos. Ela é a única mulher jornaleira de Araraquara e está a frente da “Nossa Banca” na Praça dos Paliteiros há 9 anos. Apesar de ter sido assaltada no início, ela não desistiu da profissão e é puro orgulho. Tutty é a única jornaleira de Araraquara e está na Nossa Banca na Praça dos Paliteiros em Araraquara — Foto: Amanda Rocha/g1 “Eu amo a minha profissão, mesmo tendo passado por um susto no começo e trabalhando de segunda a segunda. Tenho uma clientela boa, a gente vai conquistando as pessoas e muitos viraram super amigos. Alguns até me trazem lanchinho no final da tarde. Tive sorte de começar a sair prêmios do Hiper Saúde aqui e me dei super bem”, contou. A comerciante comentou que sempre está de olho nas novidades e no que os clientes procuram. Salgadinhos, bebidas, produtos para celular, caixas de som e presentes diversos são algumas das opções. Jornais, perfumes, salgadinhos e bebidas são algumas das opções da banca da Tuty em Araraquara — Foto: Amanda Rocha/g1 “Ainda vendo bem jornal e algumas revistas, como a Folha, Estadão e o Valor. Araraquara tinha o jornal A Tribuna que os clientes adoravam, mas foi tudo acabando”, contou. Tuty é otimista e acredita na renovação do público, somado aos produtos diferenciados. “Meu público é de todas as idades, tem os pequenos atrás de gibi, revistas para pintar. Um freguês veio na semana passada e levou todos os gibis que eu tinha para dar de lembrança de aniversário. Isso já aconteceu outras vezes. É bom porque estimula o hábito desde cedo”, conclui. REVEJA VÍDEOS DA EPTV:

Postagens relacionadas

Fuvest 2025: acompanhe a cobertura da 1ª fase em São Carlos

Entenda os riscos e benefícios do consumo de atum

Funk coloca tusqueiros para dançar no terceiro dia de festa: ‘tá na vida de todo universitário’