As visitas começaram no final de setembro, sem falhar um único dia. O ornitólogo que reside na casa notou que a ave vem ao local todos os dias por volta do amanhecer e retorna depois ao entardecer, se despedindo novamente na sequência. Considerando que a espécie prefere áreas campestres, como gramados e terrenos baldios, é curioso a ave persistir a aparecer em uma casa, já que o ambiente urbano não oferece qualidades que se assemelham ao seu habitat natural. O especialista se espantou com a circunstância: “É algo bem inusitado. Já vi suindara fazendo ninho em forros de casas, mas uma coruja-buraqueira é a primeira vez”, diz ele. A coruja-buraqueira tem o campo visual limitado, mas essa deficiência é superada pela capacidade de girar a cabeça até 270 graus — Foto: Fernando Igor de Godoy Durante o dia, a ave empoleira-se em vasos, se aproveita de parapeitos de janela e de escadas e é possível que vê-la saindo do ciscar, caminhando. Ela também regurgita as bolotas, cientificamente egagrópilas, no qual é possível avaliar sua dieta. O especialista diz que examinou algumas e descobriu que elas continham as partes de um escorpião, o que sugere que a coruja também está contribuindo para o controle biológico do quintal. Nos últimos dias, porém, ela surgiu suja de terra, o que sugere que ela cavou um buraco de algum lugar durante a noite. O ornitólogo explica que a ave tem perdido seu hábitat original, o que pode ter se agravado com as recentes queimada. “Ela pode ter se ‘refugiado’ aqui, percebendo que o quintal abriga lagartos, o que a atrairia”, explica. A ave tem o hábito de ficar sobre uma perna, o que não é copiado por outras corujas — Foto: Fernando Igor de Godoy Sobre a espécie A coruja-buraqueira é uma ave de pequeno porte, seu tamanho médio é de 21,5 a 28,5 cm (machos) e de 22 a 25 cm (fêmeas). Pesa entre 110 e 285 g (machos) e entre 150 a 265 g (fêmeas). Ao contrário da maioria das corujas, o macho é ligeiramente maior do que a fêmea e as fêmeas são normalmente mais escuras que os machos, principalmente na face. É uma predadora de pequeno porte com hábito carnívoro-insetívoro, sendo considerada generalista por consumir as presas mais abundantes de acordo com a estação, tendo preferência por roedores. Ocorre do sul do Canadá à Terra do Fogo, bem como em quase todo o Brasil, com exceção da bacia amazônica. Costuma viver em campos, cerrados, pastos, restingas, planícies, praias, aeroportos e terrenos baldios em cidades. *Texto sob supervisão de Lizzy Martins VÍDEOS: Destaques Terra da Gente