Coragem de pioneiros transformou Barretos, SP, na capital brasileira dos rodeios e consolidou cultura caipira no país

Coragem de pioneiros transformou Barretos, SP, na capital brasileira dos rodeios e consolidou cultura caipira no país

Em 2024, na 69ª edição da Festa do Peão de Barretos, o rodeio mostrou a sua força mais uma vez: 1 milhão de pessoas marcaram presença no Parque do Peão, movimentando R$ 1,2 bilhão na economia e gerando milhares de empregos diretos e indiretos. Não à toa, o evento é reconhecido como o maior da América Latina. Único integrante vivo d’Os Independentes, José Brandão Tupinambá, de 96 anos, conta que a festa foi pensada para celebrar a vida humilde do homem do campo, que conduzia as tropas e tinha uma cultura própria. Segundo ele, tudo começou de forma simples e improvisada. “Nós fizemos um palco em cima de uns tambores de óleo, onde o presidente da época tinha um posto de gasolina. Colocamos uns tablados e fizemos o palco para a música sertaneja”, lembra. José Brandão Tupinambá tem 96 anos e é o último fundador vivo dos Independentes — Foto: Reprodução/EPTV Em entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo, Tupinambá disse que Barretos foi escolhida por ser uma cidade agropecuária, por onde passavam muitas comitivas de boiadeiros, e muitos peões vinham para a cidade após caminharem centenas de quilômetros. “Tinha muita coisa tocada pelos peões. Tem que homenagear esse pessoal. Os fazendeiros ficavam em hotéis de luxo, enquanto os peões se acomodavam em pensões. Os peões são heróis”, afirma. Queima do alho A queima do alho remete às tradições culinárias da vida caipira, quando os peões se reuniam em torno das fogueiras para compartilhar histórias e causos, enquanto preparavam e dividiam refeições. O prato típico desse encontro é o arroz carreteiro acompanhado de charque, feijão gordo com pele, panceta e linguiça, além da tradicional paçoca de carne de sol e rapadura. Queima do Alho representa a culinária caipira e é celebrada em Barretos (SP) — Foto: Reprodução/EPTV Peão de comitiva, Carlos Henrique Laurindo guarda com carinho as memórias dos antepassados e as trocas que faziam em volta das fogueiras durante as refeições. “A gente tem isso na memória. Lembro do nome de cada um, que são muitas pessoas que já faleceram. Barretos tem só um comissário vivo dos antigos, mas o resto está tudo na memória”. Tradição de família Embora as gerações tenham passado, as tradições do rodeio e da vida no campo continuam vivas. Pai e filho, Gilberto e Thiago Mega, representam segunda e terceira geração de peões de rodeio da família. O patriarca começou a montar na década de 1960, e Gilberto seguiu os mesmos passos do pai. Agora, o filho também encontrou na montaria um meio de vida. “É um orgulho imenso, tanto os avós, um como competidor cutiano, o outro como peão de estradão. É igual meu pai fala, o fruto não cai longe do pé. Não tinha pra onde correr, onde fugir. A não ser, ser peão de cavalo, de rodeio, domador, tirar leite, essa vida no campo”, comenta Thiago. Família Mega está na terceira geração de peões — Foto: Reprodução/EPTV Juntos, eles já venceram mais de 20 rodeios, utilizando o dinheiro dos prêmios para comprar uma casa e garantir a estabilidade de toda a família. Montaria em touros Há 45 anos, a montaria em touros chegou ao Brasil, revolucionando os rodeios e consolidando-se como parte fundamental da cultura nacional. A modalidade foi um dos fatores que ajudaram a popularizar a Festa do Peão de Boiadeiro, estabelecendo Barretos como a capital nacional do rodeio. Um dos grandes pioneiros da montaria em touros no Brasil é Tião Procópio, que trouxe a prática dos Estados Unidos e transformou o esporte em profissão. Ao longo da carreira, o peão conquistou diversos títulos e, hoje, é reconhecido como um dos melhores juízes de rodeio do país. “Na época, não existia rodeio aqui ainda, não tinha o equipamento certo, a corda, a luva, a espora. Então, fui o primeiro a montar touro lá e trouxe o equipamento certo para cá. Foi em 1980 que aconteceu o primeiro rodeio em Barretos”, relembra. Montaria em touros só chegou ao Brasil na década de 1980 — Foto: Reprodução/EPTV Naquele tempo, o rodeio em cavalo tinha muito mais prestígio do que a montaria em touro. Tião lembra que, na primeira edição brasileira, o prêmio para o rodeio em cavalo era um carro zero, enquanto para o de touro, era uma televisão de 14 polegadas. A primeira vez é inesquecível Rogério Venâncio, competidor da Professional Bull Riders (PBR), nunca imaginou que a primeira participação em Barretos resultaria em um prêmio de R$ 580 mil e a oportunidade de competir nos Estados Unidos. Rogério Venâncio na disputa com o touro Ancião na última montaria da final brasileira da PBR 2024 na Festa do Peão de Barretos 2024 — Foto: Érico Andrade/g1 Natural do Mato Grosso, Rogério se mudou para o interior de São Paulo para trabalhar e, ao mesmo tempo, passou a treinar na montaria em touros. Em apenas cinco anos, venceu dez rodeios, garantindo a classificação para competir em Barretos. “É mais do que eu imaginava. Quando cheguei aqui foi um choque. Primeira vez, nunca tinha vindo, mas estou muito feliz de estar aqui. Tudo é muito bonito”, diz Rogério. VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto e região

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