Bacia de Evapotranspiração A Bacia de Evapotranspiração (BET), presente no espaço, foi construída por meio de parceria com empresa e mutirões. A BET é um sistema que permite que os resíduos humanos saiam do vaso sanitário direto para um tratamento na área externa da casa, impedindo, por exemplo, que o material seja despejado em córregos ou mesmo no Rio Piracicaba. Como funciona? Autor da dissertação de mestrado “Saneamento ambiental em comunidade rural: pesquisa intervenção sobre autonomia, educação e tecnologias sociais”, o educador ambiental e pesquisador da Esalq/USP Bruno Fernandes explica que a estrutura, da qual participou da implantação, tem uma camada de filtração, a partir do buraco, cujo tamanho é calculado a partir do volume de efluentes produzido pelas pessoas que utilizam o espaço. “Os resíduos passam por camadas filtrantes de terra, brita, areia, e ali já vai tendo um processo de decomposição pelas bactérias que estão ali e se alimentam daquela matéria orgânica, gerando um líquido, uma água”, diz. “Quando essa água chega até um nível, ela encontra terra e plantas, principalmente de raízes mais extensas, que conseguem fazer esse processo de evapotranspiração. A natureza contribui no processo de remediação dos efluentes que a gente gera”, explica. Espaço tem estrutura sustentável de saneamento monitorado por laboratório da Esalq-USP em Piracicaba. — Foto: Acervo Laboratório Oca-Esalq/USP Piracicaba Evaporação e transpiração Evapotranspiração é o nome dado ao processo simultâneo da perda de água do solo por evaporação e da perda de água da planta por transpiração, que é realizado pela BET. Para isso, são plantadas acima da estrutura, árvores de folhas longas, que auxiliam no processo de evapotranspiração. “A gente planta bastante bananeira, taioba, lírio do brejo. A bananeira, por exemplo, cresce, se desenvolve, e, dentro do processo, é muito tranquilo alimentar a banana que está surgindo ali, não tem problema porque não é uma planta rasteira, nenhuma hortaliça, que pode ter algum problema de contaminação”, explica. “Quando essa água encontra as raízes dessa planta, ela já está filtrada. Então, a gente não precisa ter grandes preocupações quanto ao consumo da fruta. E para um período de estiagem, de seca, pode ser uma ótima opção também”, afirma Nathália Nascimento, professora da Esalq/USP e coordenadora do Laboratório de Educação e Política Ambiental (Oca), da qual a Casa do Bem Viver faz parte. Alternativa para a área rural Fernandes aponta que estruturas como a BET são boas alternativas para a área rural. Em sua dissertação, o pesquisador aponta que o Brasil reúne, em média, 30 milhões de pessoas residindo no campo, segundo dados de 2015 da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Deste montante, apenas 22% possuem saneamento básico em suas residências. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) demonstrados na dissertação, indicam que: 8% dos domicílios rurais estão conectados à rede coletora de esgoto58% desenvolvem soluções não adequadas, como fossas rudimentares ou disposição em valas e corpos hídricos13% não possuem nenhum tipo de tratamento de esgoto “O grande desafio que a gente tem com o saneamento rural no Brasil ainda, passa também e pode passar pela iniciativa comunitária, de planejar e trabalhar todo mundo junto, e construir essas estruturas”, diz Fernandes. Estrutura de saneamento sustentável fica na área externa da Casa do Bem Viver monitorada pelo Laboratório Oca da Esalq-USP em Piracicaba. — Foto: Acervo Laboratório Oca-Esalq/USP Piracicaba Criar tecnologias sustentáveis em casa Nathália explica que a construção da BET veio do intuito de desenvolver um modelo que serve como exemplo para quem quer criar tecnologias sustentáveis na sua casa. “As pessoas perguntam, porque a BET e não os sistemas mais convencionais? É que a BET a água sai 99% filtrada através de evapotranspiração. A gente não tem resíduo dentro do sistema de esgoto, que é um grande problema hoje, cuidar das águas dentro das cidades”, diz. “Não é somente porque é sustentável, mas é porque é bom para todo mundo”, aponta a professora. Um modelo que, de acordo com a professora da USP, dialoga com questões como adaptação climática e segurança alimentar. “A gente tem uma fonte de água que está constantemente alimentando as plantas que fazem parte da BET. A bacia também é conhecida como uma fossa de bananeiras, porque se utiliza espécies de folhas largas, mamoeiro, taioba, mas, principalmente, bananeiras. É uma solução para garantir a segurança alimentar e adaptação climática”, diz. Bruno Fernandes é pesquisador da Esalq-USP e membro da Oca no campus da universidade em Piracicaba. — Foto: Rafael Bitencourt/Arquivo pessoal/Reprodução Modelo educativo Desenvolvido como um espaço educativo, a Casa do Bem Viver possui, ainda, estruturas voltadas à filtragem do material advindo pia e do chuveiro (chamado de “águas cinzas”), além da BET (“águas escuras”) e de um sistema para captação de água de chuva. “É um espaço onde as pessoas, principalmente das áreas rurais, podem visitar para ter um entendimento de como funciona. É muito interessante porque o papel da universidade é oferecer soluções para a sociedade”, afirma Nathália. Fernandes aponta que o local possibilita autonomia e faz com que as pessoas compreendam a importância do saneamento para a saúde humana e da natureza, considerando estruturas de baixo custo e a participação social. “A gente vive num país que sofre com a desigualdade social. Como uma estrutura de baixo custo, com o apoio de políticas públicas, pode ajudar a solucionar um problema onde muitas vezes é inviável, tem um custo muito alto. Precisa ter uma solução adequada à realidade. E quando há participação social, aí vem a parte educativa, para as pessoas se apropriarem do processo”, completa o pesquisador. Nathália Nascimento é professora da Esalq-USP e coordenadora da OCA. — Foto: Rafael Bitencourt/g1 VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região