Chuvas não conseguem repor toda água retirada do aquífero Guarani, aponta estudo da Unesp

Chuvas não conseguem repor toda água retirada do aquífero Guarani, aponta estudo da Unesp

Por oito anos, entre 2013 e 2021, a pesquisa mediu a contribuição das águas pluviais e subterrâneas para a manutenção de nascentes e rios na região de Brotas, municípios que tem entre suas principais atividades o turismo baseado em cachoeiras e no rio Jacaré-Pepira. Eles constataram que cerca de 80% do volume de água das nascentes estudadas são provenientes da descarga de águas subterrâneas do Aquífero Guarani. A homogeneidade das águas subterrâneas indica que o aquífero não é afetado diretamente por efeitos de sazonalidade, sendo essencialmente composto por uma fonte majoritária de água subterrânea com contribuições bem menores da água da chuva. “A gente faz o monitoramento para entender as entradas e saídas do aquífero. Entender o ciclo hidrológico e suas conexões. Essa parte aflorante do aquífero está conectada com as chuvas e com os rios. A entrada é a chuva e a saída é o rio. Se a gente tem uma mudança no regime de chuvas, chuvas mais concentradas, menores chuvas ou aumento da temperatura, que leva a maior a evaporação da água, consequentemente temos menos água para infiltrar no solo e alimentar esses rios e essas nascentes”, afirmou o pesquisador Didier Gastmans. O pesquisador Didier Gastmans fala sobre o aquífero Guarani — Foto: Reprodução/EPTV Para identificar qual água é da chuva e qual é subterrânea, os pesquisadores analisaram as partículas de oxigênio e hidrogênio da água. “A água é constituída por hidrogênio e oxigênio e existem isótopos que têm pesos atômicos diferentes. Em função dessa variação no peso atômico você tem comportamentos diferentes da evaporação e da precipitação e isso faz com que as águas da chuva, as águas dos rios e as águas dos aquíferos tenham uma assinatura isotópica individualizada, o que permite a gente entender a conexão entre esses reservatórios. É o que a gente chama de impressão digital da água”, explicou Gastmans. O impacto do grande gasto das águas do aquífero Guarani não é imediato, mas o pesquisador defende que as mudanças climáticas podem acelerar o processo e por isso há necessidade de melhorar a gestão na captação de água já em curto prazo, iniciativa que, segundo ele pode também gerar lucro. “Eu acredito que projetos de recomposição de matas de áreas florestadas em detrimento da monocultura ou da agricultura são importantes. Até porque é possível hoje por conta dos programas de crédito de carbono você gerar recursos em função da preservação, então por que não começar a investir nesses programas para aumentar a capacidade de retenção da água nessas regiões”, afirmou. Maior fonte de água potável do mundo Aquífero Guarani — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução Os aquíferos são as maiores fontes de água potável do mundo e o Guarani é o maior deles, com área de aproximadamente 1 milhão de km², que abrange partes do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. No Brasil, essa reserva de água atinge dois terços estão no território nacional, alcançando os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Muitas cidades da região central do estado usam o Aquífero Guarani para a captação de água que as abastece: Araraquara – 65% do abastecimento do município é proveniente do aquífero.Brotas – dois poços tubulares profundos captam água do aquífero Guarani, que representam 0,96% do consumo anual.Descalvado – 35% do abastecimento do município é proveniente do aquífero.Dourado – tem quatro poços profundos provenientes do aquífero Guarani, sendo três na sede e um no distrito de Santa Clara. A Sabesp não informou o quanto isso representa no abastecimento do município. Gavião Peixoto – 100% do abastecimento do município é proveniente do aquífero.Matão – 100% do abastecimento é com água subterrânea proveniente do aquífero. São Carlos – 61,5% do abastecimento do município é proveniente do aquífero. VÍDEOS DA EPTV:

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