Num momento em que os filmes da Marvel fazem água nas bilheterias, é curioso voltar ao momento em que Hollywood descobriu o potencial de um super-herói. Era o Natal de 1978 e a Warner lançava “Superman: O Filme”, tendo na pele do Homem de Aço um bonitão do qual ninguém nunca tinha ouvido falar, um tal de Christopher Reeve. Ele é o tema de “Super/Man: A História de Christopher Reeve”, que estreou por estes dias no Max. O filme relembra o destino trágico do ator, que, depois de viver o herói mais amado do cinema, sofreu em 1995 um acidente de cavalo que o deixou imobilizado do pescoço para baixo. A primeira parte traz curiosidades saborosas sobre o primeiro filme do Superman, cujo sucesso foi tamanho que rendeu três sequências. Arnold Schwarzenegger queria muito o papel, mas os produtores nem consideraram dar um personagem tão americano para um austríaco com sotaque carregado. Robert Redford foi sondado, mas considerou o cachê baixo. A solução final foi revelar um novo ator, mas rodeando-o de rostos conhecidos: o ícone Marlon Brando, que ganhou US$ 2 milhões (mais de R$ 12 milhões no câmbio atual) para fazer pouquíssimas cenas como o pai do herói, e Gene Hackman, já vencedor do Oscar por “Operação França”, como o vilão Lex Luthor. Na época, Reeve era apenas um ator quase anônimo da “off off Broadway”, o circuito mais alternativo de teatro de Nova York, quando foi a Londres por dois dias para fazer um teste para o papel. Sua beleza, o olhar claro e penetrante e o rosto quadrado eram perfeitos para Superman. Ele não só topou como se dedicou de corpo e alma ao papel, tratando o filme como se fosse Shakespeare. Nas entrevistas, dá para sentir que ele também abraçou com vontade a fama e o sucesso, não só com as mulheres, mas com as crianças que amavam o herói. Até que, do dia para noite, a roupa justa e colada do Superman tornou-se uma camisa de força. Reeve fez o terceiro e quarto filmes do herói já sem nenhuma vontade, e nenhum dos outros filmes que estrelou foi sucesso –vamos salvar apenas um que virou cult ao longo dos anos, o belíssimo romance “Em Algum Lugar do Passado” (1980). Em 1984, Reeve aprendeu a montar cavalo para viver o conde Vronsky do drama “Anna Karenina”, baseado no romance de Tolstói. Sem saber, estava iniciando a paixão que o levaria ao desfecho trágico em 1995. O documentário revela que a mãe do ator estava decidida a desligar os aparelhos para que o filho não sofresse, mas foi sua mulher, Dana, que lhe deu forças para lutar. Usando do seu prestígio e carisma, Reeve criou e dirigiu uma fundação que passou a angariar milhões de dólares para projetos de pesquisa e apoio a pessoas com deficiência. Entre muitos méritos, o documentário do Max relembra a amizade inabalável de Reeve e Robin Williams (“Uma Babá Quase Perfeita”), com quem dividiu quarto nos tempos de estudante. Uma amiga da dupla, Glenn Close, chega a sugerir que Williams não teria sucumbido à depressão em 2014 se não tivesse perdido o melhor amigo dez anos antes. Outro episódio valioso recuperado pelos diretores é um anúncio para a TV que Reeve estrelou nos anos 1990. Com o uso de efeitos especiais, o ator aparece andando novamente, numa campanha que falava sobre o futuro das pesquisas na área. O vídeo levou fãs a acharem que ele realmente tinha voltado a andar e ele foi duramente criticado por pessoas com diversos tipos de deficiência, que viram ali uma ideia errada de “cura” para as deficiências. Foram polêmicas pontuais em meio a uma trajetória singular. Morto em 2004, Reeve conseguiu uma façanha que poucos conseguem: foi herói duas vezes, no cinema e na vida. “Super/Man: A História de Christopher Reeve” Filme já disponível no Max
Christopher Reeve, o homem que foi super-herói duas vezes
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