Galerias Relacionadas 1/4 Foram realizadas expedições de mergulho e coleta de dados geoespaciais para descrever as cavernas — Foto: Thiago Buchianeri Numa de Oliveira 2/4 Estruturas fornecem locais de alimentação e reprodução para animais — Foto: Thiago Buchianeri Numa de Oliveira 3/4 Visibilidade reduzida e correntes marítimas fortes dificultam a realização do mergulho — Foto: Thiago Buchianeri Numa de Oliveira 4/4 Primeiros registros de cavernas submarinas do país foram entregues no fim do ano passado — Foto: Thiago Buchianeri Numa de Oliveira Essas cavidades naturais subterrâneas estão localizadas nos recifes da APA Costa dos Corais, em Tamandaré (PE). No local, há um sistema de cavernas interconectadas que são capazes de proteger habitats de inúmeras espécies marinhas, incluindo algumas ameaçadas de extinção. No final do ano passado, foram realizadas expedições de mergulho e coleta de dados geoespaciais (coordenadas, profundidade, medidas) com GPS e sondas para descrever as seis cavernas submarinas: Pirambu, Chapeirão do Pirambu, Pirambu do Norte, Mero, Crista das Mileporas e Dentão. Os recifes de corais são ecossistemas frágeis e complexos, altamente diversos em termo de biodiversidade – ocupam menos de 1% do fundo do oceano, mas abrigam mais de 25% da vida marinha. Por isso, são de grande importância ecológica para perpetuação da vida nos oceanos e contribuem de forma bastante significativa para as atividades de pesca e turismo. Embora não estejam dentro das cavernas, algumas espécies de corais vivem na entrada desses ambientes e se beneficiam deles, como Agaricia humilis, Mussismilia harttii, Millepora alcicornis, Millepora braziliensis e Mussismilia hispida. Espécie de coral conhecida como Agaricia humilis — Foto: Thomas Menut / iNaturalist Além disso, segundo o oceanógrafo Leonardo Tortoriello Messias, cavernas como essas oferecem abrigo para peixes ameaçados como o budião ou bico-verde (Scarus trispinosus) e o mero (Ephinephelus itajara), bem como invertebrados marinhos de importância econômica para a região, como lagostas e lagostins. Peixe-papagaio-azul-brasileiro (Scarus trispinosus) — Foto: João D’Andretta / iNaturalist “Os ambientes de recife de coral criam um ecossistema específico que permite a interação das diferentes espécies da fauna e flora marinha, contribuindo para manutenção dos processos ecológicos que garantem a riqueza da biodiversidade”, relaciona Leonardo, que atua como coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene/ICMBio). Ameaças e iniciativas de preservação Mesmo sendo recém-registrados, as cavernas e a biodiversidade associada a elas já estão sujeitas a ameaças decorrentes da atividade humana. Os principais riscos muitas vezes estão relacionados a práticas ilegais ou pouco regulamentadas. Dentre eles: Pesca ilegal, irregular, excessiva e/ou destrutiva: muitas espécies que vivem nos recifes de coral são alvo da pesca comercial e, ao longo dos anos, com a sobrepesca, algumas passaram a ser classificadas como ameaçadas de extinção;Despejo ilegal de esgoto e águas residuais: quando feito em praias e em rios urbanos que desaguam no mar, impactam a qualidade ambiental, aumentam a vulnerabilidade dos organismos a doenças e outros patógenos;Descarte de lixo nas praias: resíduos acabam sendo levados pelo vento ao mar, e posteriormente, se prendem nos sistemas de cavernas;Turismo desordenado: pode sobrecarregar os ecossistemas e danificá-los. Um exemplo é o passeio aos recifes, no qual os turistas acabam pisando em corais e outros organismos vivos;Degradação de matas ciliares: altera o transporte de sedimentos para o mar. O excesso desses sedimentos cobre os corais e, por falta de luz, as algas que fazem a simbiose com eles não conseguem realizar a fotossíntese. Sem as algas o coral morre;Mudanças climáticas: as consequências de 2024 foram especialmente danosas para os recifes de coral, uma vez que foi registrado o maior e mais duradouro evento de branqueamento em massa – causando uma perda de aproximadamente 90% da cobertura de corais da região do Nordeste setentrional. “A mortalidade de corais diminui a tridimensionalidade do ambiente, e pode consequentemente diminuir a biodiversidade de espécies”, alerta o especialista. Desde meados da década de 1990, iniciativas desenvolvidas pelo Cepene em parceria com o Departamento de Oceanografia da UFPE e enriquecida pelos estudos integrados ao programa PELD TAMS (Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração), que monitora as condições ambientais e a biodiversidade ao longo do tempo, realizam ações de pesquisa, monitoramento, manejo e educação ambiental para proteção e conservação dos recifes de coral. Foto do Programa PELD-Tams, que monitora o branqueamento de corais em Tamandaré (PE) — Foto: Thales Vidal/PeldTams Entre as ações, Leonardo destaca a área de recuperação recifal na Baía de Tamandaré. Criada em 1999, a zona de preservação da vida marinha apresenta, ao longo dos anos, resultados positivos em termos de abundância e biomassa de peixes, crustáceos, moluscos e corais. “O que era uma área totalmente degradada, hoje é um ambiente que também recuperou a estrutura física dos recifes de arenito e coral, e abriga inúmeras espécies da fauna e flora marinha da região”, comenta. Consciência do bem público Para o oceanógrafo, na realidade de hoje, não podemos nos dar ao luxo de não nos preocuparmos com o bem-estar do lugar que vivemos ou que passamos férias. “A sensibilização é o primeiro passo. As pessoas devem ter consciência que o bem público que é de uso comum de todos, ou seja, para que todos possam usufruir da praia, do mar em bom estado de conservação, é preciso que todos pensem que suas ações impactam de forma positiva e negativa”. “Vivenciar e disseminar boas práticas de sustentabilidade, seja individualmente ou por meio dos estabelecimentos comerciais que se preocupam com a questão ambiental da região, é importante”, acrescenta. Além disso, do ponto de vista do poder público, as ações de controle e fiscalização são essenciais, bem como a continuidade das ações de pesquisa, monitoramento, manejo e educação ambiental para proteção e conservação. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente
Cavernas submarinas de Tamandaré: veja primeiros registros brasileiros dos refúgios de espécies marinhas
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