Por Sandra Cohen Especializada em temas internacionais, foi repórter, correspondente e editora de Mundo em ‘O Globo’ Roteiro chavista de fraude se repete, após divulgação de resultado sem transparência pelo regime de Maduro, contestado por González e María Corina. Os candidatos Nicolás Maduro e Edmundo González votam em Caracas durante a eleição presidencial da Venezuela. — Foto: JUAN BARRETO/RAUL ARBOLEDA/AFP O resultado põe a Venezuela mais uma vez num terreno conhecido — de impasse, paralisação política e descrédito — já que foi contestado com veemência pela oposição e questionado pelos governos do Chile, Colômbia, da Argentina e do Peru. Ator essencial no processo, o Brasil até agora não se manifestou. Pode-se afirmar que este cenário era previsto pelas denúncias de irregularidades que foram apontadas durante a apuração e não fugiam do roteiro de fraude de outras eleições na Venezuela. Ao contrário, ele se sofisticou ao longo de 25 anos de chavismo no poder. Ao meio-dia, meio da jornada eleitoral, pesquisas de boca-de-urna divulgadas ilegalmente pelo chavismo antecipavam a vitória de Maduro. Nas seis horas entre o encerramento das urnas e o comunicado do presidente do CNE, os opositores do ditador relataram dificuldades para acessar as atas de votação e ameaças de paramilitares, que rondavam as seções eleitorais e intimidavam os credenciados pela oposição. O regime interrompeu a transmissão de dados para impedir o acesso da Plataforma Unitária Democrática, o bloco de dez partidos que desafiou Maduro, ao sistema de dados do CNE. “Posso dizer perante o mundo que sou o presidente reeleito da Venezuela”, assegurou. As atas não foram apresentadas pelo regime, que apenas forneceu as porcentagens de 51,2% para Maduro e 44,2% para González, com 80% das urnas apuradas. Estes dados, divulgados de forma primária, carecem de auditoria e tornaram o resultado inverossímil aos olhos de seus opositores. Mais uma vez, a Venezuela mergulha no caos, com dois presidentes autodeclarados.