Entre janeiro e maio, os cartórios de Campinas emitiram 6.913 certidões de nascimento, queda de 27,3% na comparação com o mesmo período de 2015. Mas o que explica essa redução na taxa de fecundidade? Roberto Luiz do Carmo, professor de demografia e pesquisador do Núcleo de Estudos da População “Elza Berquó” (Nepo), da Unicamp, detalha que o Brasil passa por um processo de alteração na estrutura populacional desde a década de 1970, provocado pelo avanço da urbanização e mudança do papel da mulher na sociedade. Mas essa queda da natalidade, em curso há pelo menos 50 anos, tem se acentuado diante de fatores conjunturais como os impactos dos casos de bebês com microcefalia pela epidemia de Zika, a pandemia da Covid-19 e até mesmo mudanças climáticas e registros de eventos extremos. “Existem trabalhos que mostram que durante da pandemia houve postergação de nascimentos, assim como ocorreu no episódio da epidemia de Zika, em que muitas mulheres tiveram receio de engravidar. Houve depois uma leve recomposição, mas dentro da tendência geral, de queda. E até mesmo eventos extremos causados pelas mudanças climáticas aceleram esse processo. Na última década aumentou a preocupação de mulheres jovens em relação a ter filhos em um mundo com tanta dificuldade em termos de garantir uma boa condição de vida para as crianças”, detalha. Segundo o professor da Unicamp, essa mudança na estrutura etária projetava um cenário de fim do crescimento e início da diminuição populacional no Brasil durante a década de 2040, mas os dados do último Censo, de 2022, indicam que isso já possa ocorrer na próxima década. As vezes pensa que é demografia, população, estamos falando da nossa própria vida, de como esses processos são tão caracteristicos de cada família, mas refletem a organização de uma sociedade, para se estruturar para se reproduzir, nos momentos históricos específicos “A diminuição em termos de volume populacionado, previsto para a década de 2040, talvez já aconteça na próxima década. Essa vai ser a grande mudança demografica no século 21. Quando falamos de demografia, estamos falando da nossa vida, e esses processos refletem a organização da sociedade. Na medida que as crianças vão ser um número menor da população, elas vão ter que ser tratadas com muita atenção e muito cuidado, por representarem a capacidade de reprodução da sociedade. Não dar uma perspectiva de vida futura adequada, fará com que jovens tenham cada vez menos interesse de ter filhos, e essa natalidade tende sempre a diminuir”, pontua. E tem como reverter? Roberto Luiz do Carmo lembra que muitos países enfrentam esse cenário de diminuição da população, principalmente na Europa, e assim como o processo de queda é gradativo, e vem sendo construído por 50, 60 anos, reverter essa tendência levaria pelo menos uma ou duas gerações. Considerando a cidade de Campinas, o professor da Unicamp aponta que alguns fatores podem favorecer o aumento da fecundidade, que pode ter relação com fluxo migratório, de investimentos ou questões que atraiam novos modaores e novas perspectivas de futuro. Estrutura etária em Campinas (SP) mostra o envelhecimento da população ao longo das últimas décadas — Foto: Nepo/Unicamp De qualquer forma, o pesquisador do Nepo defende a importância dos dados demográficos para o desenvolvimento de políticas públicas para a população, diante das características e estrutura etária da sociedade. “As questões mudam em relação a políticas públicas. Uma população com estrutura jovem, tem necessidades diferentes de uma população envelhecida. As questões sociais mudam de acordo com essa mudança da estrutura etária”, enfatiza. Aumenta em 70% número de laqueaduras realizadas pelo Sus em Campinas VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região