Campinas, 250 anos: memórias de um cronista sobre a ‘Princesa’ das travessuras, amores e boemia

Campinas, 250 anos: memórias de um cronista sobre a ‘Princesa’ das travessuras, amores e boemia

Campinas (SP) chega aos 250 anos neste domingo (14) como uma metrópole moderna, de 1,1 milhão de habitantes, mas a Princesa d’Oeste, como é carinhosamente conhecida, nem sempre foi essa Torre de Babel de ritmo frenético, que para muitos nem pode ser considerada uma cidade interioriana. Há quem mantenha, na memória e em palavras, essa Campinas bucólica, da época de compras nos armazéns, do apito da Maria Fumaça, da brincadeira infantil em córregos e da boemia que inebriou amores e deixou saudades. Para celebrar essa data marcante, o g1 contou com o talento de Zeza Amaral, jornalista, cantor e compositor responsável por retratar a vida cotidiana da metrópole em milhares de crônicas nas últimas décadas, e que resgatou da memória essa Campinas romântica, mais Princesa que metrópole. Confira: À linda Campinas “Durante décadas, dividi a minha vida em manhãs, tardes, noites e madrugadas. E foi numa manhã da minha infância, eu tinha então uns oito anos, que resolvi descobrir o que havia além dos muros da minha casa. Quando passei em frente do Armazém do Furian, que entregava a compra do mês lá em casa, ele me reconheceu e me levou de volta para as primeiras chineladas maternas. A Maria Fumaça passava ao lado de casa e as pessoas do trem acenavam seus lenços das janelinhas. Meu primeiro amigo, o Tuca, me convenceu a pegar carona no trem, mas, as nossas calças curtas eram pequenas para acompanhar o trem e pisar sem alpargatas nas pedras que forravam os trilhos complicavam a aventura. Poucos anos depois ele morreu precocemente e eu desisti de descobrir o que havia no fim dos trilhos. As tardes eu jogava futebol no campinho que a molecada havia capinado. Em dias quentes a gente nadava na Lagoa do Taquaral ou no córrego Serafim, a valeta que separava o Taquaral do Cambuí. E quem nos protegia dos perigos era uma certa princesa de Campinas. E mais aventuras apareciam nas noites, as primeiras paixões, as primeiras cachaças e as primeiras serenatas e as primeiras fugas dos inspetores de quarteirão. Tive uma namorada chamada Marluci e que morava em um prédio muito grande e antigo, bem em frente do Clube Regatas. Certa noite, num fim de férias, fui encontrá-la e ninguém atendeu a porta. A família havia se mudado para São Paulo e assim voltei pra casa com a boca seca, sem beijo e muito menos um abraço. E foi a música que me acalantou naqueles tempos de saudade. E assim me tornei cantor do lendário restaurante Armorial, onde vim a conhecer a poeta Hilda Hilst, o escultor Dante Casarini, o pintor surrealista Jota Toledo, o tapeceiro Arturo Molina, o compositor Oswaldo Guilherme e um timaço de grandes boêmios. Eu já conhecia a Campinas da Princesa e as madrugadas terminavam ou no Bar da Linguiça ou na Adega Florence onde fazíamos longas e fartas tertúlias musicais. Hoje eu caminho pelas pedras portuguesas da cidade e espionando os jardins das casas suburbanas e agradecendo a Campinas por ter me protegido nas minhas últimas sete décadas. Parabéns, minha doce e bela Princesa. E não se esqueça de colocar a chave embaixo do capacho.” Cronista Zeza Amaral — Foto: Adriano Rosa Galerias Relacionadas 1/19 Campinas, 250 anos: Instituto Agronômico de Campinas (IAC) foi eleito em votação no g1 como uma das maravilhas de Campinas — Foto: Fernando Evans/g1 2/19 Campinas, 250 anos: Instituto Agronômico de Campinas (IAC) foi eleito em votação no g1 como uma das maravilhas de Campinas — Foto: Fernando Evans/g1 3/19 Campinas, 250 anos: Instituto Agronômico de Campinas (IAC) foi eleito em votação no g1 como uma das maravilhas de Campinas — Foto: Fernando Evans/g1 4/19 Campinas, 250 anos: Instituto Agronômico de Campinas (IAC) foi eleito em votação no g1 como uma das maravilhas de Campinas — Foto: Fernando Evans/g1 5/19 Campinas, 250 anos: Unicamp foi escolhida em votação no g1 como uma das 5 maravilhas da cidade — Foto: Fernando Evans/g1 6/19 Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) — Foto: Rafael Smaira/G1 7/19 Campinas, 250 anos: Unicamp foi escolhida em votação no g1 como uma das 5 maravilhas da cidade — Foto: Fernando Evans/g1 8/19 Campinas, 250 anos: Catedral Metropolitana de Campinas foi eleita uma das cinco maravilhas da cidade — Foto: Fernando Evans/g1 9/19 Campinas, 250 anos: Catedral Metropolitana de Campinas foi eleita uma das cinco maravilhas da cidade — Foto: Fernando Evans/g1 10/19 Campinas, 250 anos: Catedral Metropolitana de Campinas foi eleita uma das cinco maravilhas da cidade — Foto: Fernando Evans/g1 11/19 Cripta da Catedral Metropolitana de Campinas é aberta a visitação às segundas, quartas e sextas, das 8h às 16h — Foto: Fernando Evans/g1 12/19 Campinas, 250 anos: Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, uma das cinco maravilhas da cidade, é a maior área de lazer de Campinas em extensão, com 1,1 milhão de metros quadrados — Foto: Fernando Evans/g1 13/19 Campinas, 250 anos: Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, uma das cinco maravilhas da cidade, é a maior área de lazer de Campinas em extensão, com 1,1 milhão de metros quadrados — Foto: Fernando Evans/g1 14/19 Campinas, 250 anos: Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, uma das cinco maravilhas da cidade, é a maior área de lazer de Campinas em extensão, com 1,1 milhão de metros quadrados — Foto: Fernando Evans/g1 15/19 Campinas, 250 anos: Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, uma das cinco maravilhas da cidade, é a maior área de lazer de Campinas em extensão, com 1,1 milhão de metros quadrados — Foto: Fernando Evans/g1 16/19 Campinas, 250 anos: Lagoa do Taquaral é uma das principais áreas de lazer da metrópole e foi eleita uma das maravilhas da cidade — Foto: Fernando Evans/g1 17/19 Campinas, 250 anos: Lagoa do Taquaral é uma das principais áreas de lazer da metrópole e foi eleita uma das maravilhas da cidade — Foto: Fernando Evans/g1 18/19 Campinas, 250 anos: Lagoa do Taquaral é uma das principais áreas de lazer da metrópole e foi eleita uma das maravilhas da cidade — Foto: Fernando Evans/g1 19/19 Campinas, 250 anos: Lagoa do Taquaral é uma das principais áreas de lazer da metrópole e foi eleita uma das maravilhas da cidade — Foto: Fernando Evans/g1 VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região

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