O bugreiro (Lithraea brasiliensis), também conhecido como pau-de-bugre ou aroeira-brava, é uma árvore nativa do Brasil que ocorre nos biomas Mata Atlântica e Pampa, principalmente nas regiões da Floresta com Araucária, restinga e áreas antrópicas do Rio Grande do Sul até São Paulo, além do nordeste da Argentina e no Uruguai. Em uma visita recente ao Sul do Brasil, a equipe do Terra da Gente encontrou um exemplar na beira do rio. Foi quando nossos aventureiros descobriram que era necessário pedir licença ou dar bom dia à árvore para passar por ela. Caso contrário, o risco era ficar com coceira e cheio de bolinhas. Mas de onde veio essa tradição? Equipe do Terra da Gente se depara com bugreiro em expedição à procura do black bass no Paraná — Foto: Aurélio Sal/TG Dermatites alérgicas causadas no contato com espécies do gênero Lithraea são frequentes na América do Sul e o bugreiro é uma das plantas que pode causar essas reações, caso haja um contato direto com as folhas, as chamadas de fitodermatoses. “As reações alérgicas mais comuns são pruído e manchas avermelhadas (urticária) na pele de pessoas pré-dispostas, podendo dar febre e mal estar. Seiva, polén, folhas, cascas e galhos quebrados são suficientes para desencadear reação alérgica em quem passar por perto e for pré-disposto”, afirma o Engenheiro Florestal e doutor em Conservação da Natureza, Maurício Bergamini Scheer. Mas um estudo publicado em agosto de 2010, na revista Scielo, indicou que há a possibilidade de que as substâncias existentes nas plantas são capazes de causar dermatoses, mesmo sem o indivíduo ter contato direto com a planta. Segundo o autor da pesquisa, Vitor Manoel Silva dos Reis, é o caso da espécie do bugreiro e demais do gênero. Elas provocam a chamada “aroeirite” em pessoas sensibilizadas a alguns fenóis produzidos pela planta e podem ter reação apenas por passar ou deitar sob a árvore. Bugreiro é uma árvore nativa do Brasil — Foto: melinacuello/iNaturalist “Esse quadro, conhecido como aroeirite, é cercado de alguma fantasia popular, como ocorre em alguns lugares do Brasil, em que o povo deve dar bom-dia à planta para não ter a reação na pele. E é conhecido o estranho fato de que basta dormir à sombra da aroeira para adquirir a dermatose”, detalha o documento. Em outro estudo, publicado em 1997 na revista ScienceDirect, pesquisadores concluíram que os alérgenos – substâncias que causam reações alérgicas – presentes no bugreiro estão intimamente relacionados ao urushiol (mistura de óleos vegetais encontrados na família Anacardiacaeae). Segundo Mauricio, essa espécie de árvore é da mesma família da aroeira-pimenteira (Anacardiacaeae), a qual o fruto é um tipo de pimenta-rosa. “É bastante comum encontrar plântulas no sub-bosque de capoeiras e capoeirões e árvores adultas em capoeirões e florestas secundárias. É polinizada por diversas espécies de abelhas, entre outros pequenos insetos e sua dispersão de sementes é por pássaros e pelo vento” A espécie também contribui para a conservação e reflorestamento de áreas degradadas, apresentando colonização natural (regeneração) frequente em áreas em restauração ecológica, embora o crescimento seja lento ou moderado. É ornamental, embora não seja recomendada por poder causar essas reações alérgicas. Bugreiro pode causar alergias e coceiras ao contato direto com a planta — Foto: anaolcese/iNaturalist A pesquisadora Rachel Gueller Souza, que trabalhava na Embrapa, falou sobre como a relação do bugreiro com as populações ribeirinhas em um dos seus trabalhos, apresentado no Seminário sobre Educação Ambiental Integrada para Multiplicadores, em 2002, em Colombo, no Paraná. Uma das histórias usadas como exemplo no documento é “O bugreiro e o indiozinho curioso”, que tinha o objetivo de mostrar para crianças que algumas árvores podem ser alergênicas e que é preciso tomar cuidado. Nele, podemos encontrar o seguinte trecho. “É um espirito protetor da floresta que mora nessa árvore. Por isso precisamos diferenciá-la das outras. Cada vez que um filho da terra passar, terá que cumprimentá-la de forma diferente: se for de manhã, dirão: “Boa tarde seu Bugreiro, dá licença de eu passar!”. E se for à tarde dirão: “Bom dia dá licença de eu passar!” Porque se alguém não fizer isso, sabem o que vai acontecer? Ele vai ficar cheio de coceira e de pintinhas”. O bugreiro ocorre por todas as vegetações do Rio Grande do Sul — Foto: Clarice Dorocinski/iNaturalist Rachel explica que a contação de histórias é um dos melhores recursos pedagógicos para a educação, pois abre as portas do mundo para o espectador, alimenta a imaginação e faz vivenciar situações, aprendendo com elas. Quando bem estruturada e bem apresentada, estimula a imaginação e o raciocínio, facilitando o processo ensino/aprendizado. Independente do risco que a planta possa apresentar, é necessário manter o respeito por sua presença no meio ambiente, visto que cada espécie tem uma função única e insubstituível para que o equilíbrio natural seja estabelecido. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente