Em relação aos sintomas de depressão ou transtorno de ansiedade na criança, e adolescente também, é importante que familiares e educadores prestem atenção no cenário como um todo e fiquem atentos a: 😡comportamentos disruptivos, com mais agressividade 🤬Birras frequentes e irritabilidade 😭 ‘Explosões’ e alterações de humor 😴Mudanças nos padrões de sono 👨🎓Queda no rendimento escolar e envolvimento em brigas 😒Perda de interesse em brincadeiras 😒Isolamento social fora do ambiente do lar 🤒Queixas de dores físicas são sinais de alerta O g1 conversou com a educadora e counselor em clínica de saúde mental pela Universidade de Montana nos Estados Unidos, Ana Cristina Gomes Tomazeli, que é psicoterapeuta, especializada em traumas, manejo de ansiedade e psicoeducação para pais e professores. A especialista ressalta que a criança com quadros de ansiedade e depressão começa a apresentar comportamentos mais disruptivos, com mais irritabilidade, agressividade e explosões de raiva antes incomuns, além de alterações repentinas de humor. Ela pode perder interesse por brincadeiras que gostava e evitar socializar com outras pessoas que não sejam os pais ou familiares muito próximos. Pode ainda pode ocorrer mudança no padrão do sono, como dormir demais ou menos. Outro indício importante é que a criança começa a se queixar de dores físicas mais constantemente. Entenda mais, a seguir. “É preciso ver a criança como um ‘potinho de informação’. Ela vai apresentar alguns comportamentos diferentes do normal, começa a ficar mais irritada, mais brava e emburrada. Pode ter umas mudanças de humor mais frequentes, com birras mais fortes e explosões que [familiares e educadores] não estão acostumados a ver. Pode perder o interesse na brincadeira. Então, deixa de brincar com as coisas que gostava, fica grudada com a mãe ou com o pai, não quer participar de atividades que normalmente participaria ou estar no meio de muitas pessoas. Fica na barra da saia mesmo, sabe”, descreve. Estatísticas 📈De janeiro a agosto deste ano, foram registrados 316 atendimentos ambulatoriais e hospitalares a pacientes, com idade até 14 anos, diagnosticados com ansiedade nos municípios da área de abrangência do Departamento Regional de Saúde de Piracicaba (DRS-X). No mesmo período de 2023, foram registrados 144 atendimentos nessa faixa etária nos nove meses do ano. Em todo o ano de 2023, foram registrados 288 atendimentos ambulatoriais e hospitalares a pacientes, com idade até 14 anos, diagnosticados com ansiedades nas cidades do DRS-X de Piracicaba. Na comparação entre os anos, os registros diminuem em 2022, com 115 atendimentos de crianças e adolescentes com quadros de ansiedade. Crianças podem dar sinais de depressão por meio de desenhos — Foto: Reprodução/TV Cabo Branco 😷Pandemia de Covid-19 Em 2021, segundo ano da pandemia de Covid-19 no Brasil e um dos picos da crise sanitária no país, quando as cidades da área de cobertura do g1 Piracicaba somaram quase 4,6 mil mortes pela doença, o Departamento Regional de Saúde registrou 182 diagnósticos de quadros de ansiedades em crianças e adolescentes. Em 2020, foram 33 casos. Número de atendimentos de quadros de ansiedade e depressão aumentaram na pandemia na região do Departamento Regional de Saúde de Piracicaba. — Foto: Reprodução/TV Gazeta Depressão As estatísticas da Secretaria do Estado de Saúde (SES) apontam que, de janeiro a julho deste ano, foram registrados 21 atendimentos ambulatoriais e hospitalares a pacientes, com idade de até 14 anos, diagnosticados com depressão nas cidades abrangidas pelo Departamento Regional de Saúde (DRS) de Piracicaba. No mesmo período de 2023, foram registrados 58 atendimentos a essa população. Nos doze meses do ano, foram 124 casos. Em 2022, a região somou 17 casos notificados pela Pasta. Os números voltam a subir em 2021, com 68 diagnósticos. A região teve 38 atendimentos em 2020. DRS-X O Departamento Regional de Saúde de Piracicaba (DRS-X) é formado pelos municípios de Águas de São Pedro, Analândia, Araras, Capivari, Charqueada, Conchal, Cordeirópolis, Corumbataí, Elias Fausto, Engenheiro Coelho, Ipeúna, Iracemápolis, Itirapina, Leme, Limeira, Mombuca, Piracicaba, Pirassununga, Rafard, Rio Claro, Rio das Pedras, Saltinho, Santa Cruz da Conceição, Santa Gertrudes, Santa Maria da Serra e São Pedro. Processos emocionais geram dor física As queixas de dores são muito comuns em crianças que estão entrando em quadro depressivo, conforme explica a especialista. “E não que elas não tenham a dor, certo? Digo isso porque há quem pense assim, ‘ah, está ansioso, então tá reclamando de dor’. Como se isso fosse um substituto pra sentir. Como se ela [a criança] não tivesse sentindo a dor. Precisamos entender que os processos emocionais geram dor física. Então, a criança realmente tem dor. Começa a reclamar de dores de cabeça mais frequentes ou no estômago. Muitas crianças dizem que têm dor na perna. Falam muito isso”, ressalta. Comportamentos diferentes na escola As crianças e adolescentes com quadros de depressão e ansiedade podem apresentar comportamentos diferentes na escola, com falta de interesse, queda no desempenho e aprendizado ou envolvimento em desentendimentos frequentes. “Pode ter queda de performance nos estudos, se mostrar não interessado, não querer ir pra escola ou até arrumar muita encrenca. Uma criança que arruma muita briga na escola é uma criança que está em sofrimento. Muitas vezes, o briguento, que faz o bullying, pode ser essa pessoa que está em sofrimento. Dentro das escolas onde eu trabalhei, por exemplo, que são todas pautadas na educação informada sobre trauma, há a visão de que uma criança que está ‘dando trabalho’, está irritada e agressiva, é uma criança em sofrimento”, observa. Sintomas comportamentais A psicoterapeuta destaque que, nas crianças, os sintomas vão ser sempre mais comportamentais. “A criança e o adolescente com esses quadros terão comportamentos mais disruptivos, com mais agressividade porque ela ainda não tem nem vocabulário suficiente para entender o está acontecendo com eles”, esclarece. Os sintomas mais comuns de ansiedade são excesso de preocupação. “É aquela criança que está sempre preocupada com diversos tópicos com a performance na escola, com as questões familiares. Tem criança que fica extremamente preocupada com o futuro, que fica muito agitada, irritada, com crises de choro e dificuldades de se concentrar”, elenca. Diagnósticos imprecisos Muitas vezes, esses comportamentos disruptivos e agitação pode sem confundidos com outros quadros e levar a diagnósticos equivocados. “Pode dar impressão de ser Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Há muita criança sendo diagnosticada de maneira errada, porque o que a criança tá é ansiosa e sendo hiper diagnosticada. Aconteceu esse fenômeno nos Estados Unidos. Agora, estão conseguindo conter mais isso lá”, alerta. Ana pontua que muitas das ações de contenção e resolução para esses diagnósticos equivocados envolve a educação informada sobre traumas. Impacto no desenvolvimento infantil Ana alerta que a pior consequência dos quadros de depressão e ansiedade infantil é o o reflexo negativo no desenvolvimento. “A depressão infantil impacta no desenvolvimento geral da criança. O nosso cérebro só está pronto por volta dos 25 anos de idade, em termos de desenvolvimento. Então, imagine o quanto uma criança ou adolescente é impactado por uma doença assim no meio do caminho. O cérebro vai ser moldado junto com esses problemas e com essa doença”, explica. A ansiedade infantil também impacta no desenvolvimento do cérebro e geral. “Uma criança que tem ansiedade desde pequena, certamente vai ser um adulto com muito mais dificuldades”, acrescenta. Ana Cristina Gomes Tomazeli é educadora com bacharelado e licenciatura em Letras e mestre em Counseling em Clínica de Saúde Mental pela Universidade de Montana nos Estados Unidos. — Foto: Ana Cristina Gomes Tomazeli/Arquivo pessoal Especialista Ana Cristina trabalhou na área educacional por 30 anos, com ensino de idiomas nas regiões de Piracicaba (SP) e Americana (SP), em escolas regulares em níveis infantil, fundamental e médio e teve sua própria escola. “Treinei professores, instrutores e tive um olhar diferenciado para o ensino de línguas durante esse tempo todo. Após anos na mesma área, fui para os EUA para fazer um mestrado em educação. Sou Counselor em Clínica de Saúde Mental, formada pela Universidade de Montana, USA. Lá, trabalhei em escolas públicas, com equipes pedagógicas, alunos, e pais com atendimentos individuais, em grupos e treinamentos em psicoeducação baseada em evidências com a população da área e com população em situação de risco e vulnerabilidade. Grande parte do trabalho envolvia prevenção de suicídio e tratamento de ideação suicida”, relatou. A especialista também tem experiência com acolhimento, tratamento, atendimento de crises na área de saúde mental e prevenção de ideação suicida na comunidade de Missoula, em reservas indígenas e em escolas em Montana. “Hoje trago para o Brasil, uma abordagem diferente de saúde mental, focada em psicoeducação e educação emocional nos lares e escolas”, disse. VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região