Após vencer 3 cânceres, mulher luta para salvar rim com cirurgia robótica: 'Como desarmar bomba'

Após vencer 3 tumores, moradora de Araraquara luta para salvar seu único rim Aos 54 anos, a história da assistente administrativa Andréia Dinart, moradora de Araraquara (SP), poderia ser roteiro de filme. Após superar um câncer renal em 2003, um câncer no intestino em 2013 e um tumor na medula em 2015, ela enfrenta agora um novo diagnóstico, o que ela chama de sua "batalha mais desafiadora". 📱 Siga o g1 São Carlos e Araraquara no Instagram Diagnosticada com um novo tumor no único rim que lhe resta, Andréia corre contra o tempo para realizar uma cirurgia robótica de alta complexidade — um procedimento estimado em R$ 100 mil e que não possui cobertura pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para o seu caso específico. O desafio médico é de precisão milimétrica. O tumor está localizado a menos de um centímetro do "hilo renal" — a região por onde passam as artérias e veias que mantêm o órgão vivo. Uma cirurgia aberta convencional traria um risco elevado de perda total do rim, condenando Andréia a uma vida dependente de máquinas de hemodiálise. Foi o que ela ouviu dos especialistas no assunto. "O médico me explicou que é como desarmar uma bomba. A cirurgia robótica é a única que oferece a precisão necessária para pinçar apenas o câncer e salvar o órgão. É a minha chance de continuar vivendo com qualidade", relata Andréia. Por que a robótica? Andréia Dinart faz parte de grupo que leva alegria aos hospitais, em Araraquara (SP) Arquivo pessoal A indicação da Nefrectomia Parcial Robótica não é estética, mas funcional. Segundo dados da comunidade urológica internacional e estudos corroborados por instituições brasileiras, a cirurgia assistida por robô é considerada o "padrão-ouro" para casos de rim único ou tumores complexos. A tecnologia permite ao cirurgião uma visão 3D ampliada e movimentos de instrumentos que as mãos humanas não conseguem replicar. Isso reduz o tempo de isquemia (período em que o rim fica sem sangue durante a operação), fator crucial para preservar a função renal remanescente. "No caso de cirurgia minimamente invasiva, a robótica apresenta vantagens em relação à videolaparoscopia principalmente em relação à dificuldade técnica do tumor a ser ressecado, como o fato de ser endofítico (que se posiciona no interior/miolo do rim)", explicou o médico especialista em uro-oncologia e cirurgia robótica, Jayme Nobre. De acordo com o especialista, a cirurgia robótica tem sido cada vez mais frequente. "Na cirurgia robótica, que na verdade é robótico assistida, as pinças são acopladas a braços robóticos e o cirurgião, a partir de um console, movimenta as pinças e câmera. A visão é 3D, as pinças são articuladas e estáveis". "Esta tecnologia torna o procedimento mais preciso e intuitivo em sua realização, melhorando resultados em certos casos", finalizou. Mais notícias da região: INSPIRAÇÃO: Com 4 faculdades, idoso de 66 anos tenta vaga em Letras na Unesp: 'estudar faz bem pra cabeça' CIÊNCIA: Dinossauro que viveu em Araraquara vira desenho animado e tem até brinquedo oficial OBSERVADOR DO TEMPO: Idoso de Corumbataí faz anotações do clima e das chuvas há mais de 30 anos Uma vida de superação A resiliência de Andréia foi forjada em diagnósticos anteriores. Em 2003, o que seria uma simples consulta para uma cirurgia estética revelou, por acaso, o primeiro câncer no rim direito, que precisou ser retirado totalmente. Dez anos depois, em 2013, ela enfrentou um câncer de intestino. O diagnóstico tardio e uma série de intercorrências médicas a levaram à UTI, onde médicos chegaram a desenganá-la. "Eu escutava a equipe dizer que eu entraria em óbito, mas por dentro eu sabia que não era a minha hora", relembra. Apenas dois anos depois, em 2015, um exame de rotina detectou um tumor benigno na medula, mas em local de alto risco, ameaçando seus movimentos. A cirurgia foi um sucesso, mas trouxe como sequela uma hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro), exigindo a implantação de uma válvula que ela carrega até hoje. Mudança de prioridades e corrente de solidariedade Após vencer dois cânceres e tumor na medula, moradora de Araraquara luta para salvar único rim Arquivo pessoal As batalhas de saúde transformaram a visão de mundo da assistente administrativa. Antes focada excessivamente no trabalho, Andréia passou a dedicar parte de sua vida ao voluntariado. Durante oito anos, integrou o grupo "Doutores Panaseia", levando alegria e conforto a pacientes em hospitais da região — os mesmos corredores que ela frequentou tantas vezes como paciente. "Deus me dá batalhas duras, mas manda anjos", diz ela, emocionada. Mobilização por ajuda Esses "anjos" agora se materializaram em uma rede de solidariedade. Amigos, familiares e até desconhecidos se mobilizaram para custear a cirurgia, que será feita no hospital particular A.C.Camargo Câncer Center, em São Paulo. Uma campanha online foi criada para arrecadar o valor necessário para a equipe médica, hospital e materiais cirúrgicos. Andréia, que sempre esteve do lado de quem ajuda, confessa que foi difícil se colocar no lugar de quem precisa ser ajudada. Ela disse que já arrecadou mais da metade do valor necessário para os custos médicos, mas a campanha continua ativa e já contou com a ajuda de muitas pessoas próximas e até desconhecidas que se solidarizaram com a causa. "O câncer cobra um preço alto — físico, emocional e financeiro. Mas eu escolho lutar. Acredito na vida e na força que vem das pessoas", afirma. Quem quiser acompanhar a história ou contribuir com a corrente de solidariedade pode encontrar informações nas redes sociais de Andréia. Dados sobre o câncer no Brasil Incidência: O câncer de rim representa cerca de 3% das doenças malignas em adultos, segundo Dados do Ministério da Saúde. Fatores de Risco: Tabagismo, obesidade e hipertensão são os principais fatores evitáveis. Tratamento: A cirurgia é o principal tratamento. Quando diagnosticado precocemente e tratado com técnicas de preservação do órgão (como a parcial robótica), as taxas de sobrevivência são altas e a qualidade de vida é preservada. REVEJA VÍDEOS DA EPTV: Veja mais notícias da região no g1 São Carlos e Araraquara