Após período de castidade, filmes de Hollywood voltam a evidenciar o sexo nas telas

Após período de castidade, filmes de Hollywood voltam a evidenciar o sexo nas telas

Los Angeles The New York Times Zendaya, vestida com um vestido colado, se contorce em uma pista de dança em “Rivais”, um drama esportivo de US$ 56 milhões (mais de R$ 280 milhões) que chegou aos cinemas na semana passada. “Está esquentando aqui”, entoa a trilha sonora de hip-hop, enquanto ela fecha os olhos e passa as mãos pelo cabelo, perdida em fantasia. “Então tire toda a sua roupa.” A história continua em um motel, onde Zendaya, interpretando uma prodígio do tênis, começa um ménage à trois com dois caras; a situação esfria depois que eles se interessam mais um pelo outro. A trama segue —para jogos sensuais no capô de um carro, em um quarto de dormir, no banco de trás de um carro, nas tábuas de madeira de uma sauna. Há também uma cena de comer churros de forma erótica. “O sexo está de volta!” gritou um homem aparentemente animado ao final de uma exibição prévia de “Rivais” em West Hollywood, Califórnia, neste mês. Identificar tendências no cinema é uma busca arriscada. Pense em quantas vezes a comédia romântica foi declarada morta —e viva— e morta (não, espera, viva). Mas isso pode ser dito com certeza: Hollywood está mais sensual do que tem sido nos últimos anos. “Definitivamente parece que o pêndulo voltou para os cineastas explorarem relacionamentos adultos e sexualidade em seus projetos”, disse Amy Pascal, ex-presidente da Sony Pictures e força produtiva por trás de “Rivais”. “Eu recebo isso de braços abertos”, acrescentou. O erotismo costumava ser comum em filmes de estúdio como “Rivais”, que foi lançado pela Metro-Goldwyn-Mayer. “Corpos Ardentes”, “Instinto Selvagem”, “Oficial e Cavalheiro”, “Atração Fatal”, “Assédio Sexual”, “Segundas Intenções” e “De Olhos Bem Fechados” estão entre os muitos exemplos dos anos 1980 e 1990. Nos anos 2000, no entanto, as empresas cinematográficas começaram a focar obsessivamente em franquias PG-13 (filmes não recomendados para menores de 13 anos) e animações —gêneros que poderiam atrair um público global e vender produtos. Os estúdios também queriam expandir para a China, onde os censores não permitem cenas de sexo. Como resultado, as narrativas sensuais começaram a diminuir na tela grande (exceto nos cinemas de arte). A televisão premium assumiu a carga. O sexo em filmes mainstream estava “praticamente extinto” em 2019, como Ann Hornaday, crítica de cinema-chefe do The Washington Post, escreveu em uma coluna naquele ano. Alguns cineastas estão reagindo. A temporada de premiações trouxe “Saltburn”, com sua cena de banheira provocante e perturbadora e o final de Barry Keoghan. “Pobres Criaturas” encontrou uma insaciável Emma Stone se divertindo em um bordel de Paris. Christopher Nolan filmou as primeiras cenas de sexo de sua carreira de 35 anos para “Oppenheimer”. Nos últimos anos, a quantidade de comédias sexuais com classificação R (equivalente a não recomendado para menores de 18 anos) nos cinemas aumentou. “Todos Menos Você” traz Sydney Sweeney e Glen Powell em ação. “Que Horas Eu Te Pego?” é estrelado por Jennifer Lawrence como uma espécie de prostituta em uma missão para desvirginar um estudante desajeitado. Os libidinosos “Clube da Luta para Meninas”, “De Volta à Ativa” e “Loucas em Apuros” também tentaram misturar sexo com risadas. No final de maio, Powell voltará aos cinemas na comédia “Assassino por Acaso”, sobre um agente disfarçado que inicia um caso quente com uma suspeita, interpretada por Adria Arjona. Além de atuar no filme com classificação R, ele coescreveu o roteiro com Richard Linklater e atuou como produtor (o filme chegará à Netflix em junho). “‘Corpos Ardentes’ foi uma das inspirações”, disse Powell em janeiro, quando “Assassino por Acaso” estreou com críticas positivas no Festival de Cinema de Sundance. “Não há muitas cenas de sexo nos filmes atualmente, e certamente não muitas que são bem feitas”, e completou: “‘Corpos Ardentes’ tem muitas preliminares, o que é uma das razões pelas quais parece tão intenso —sensual, carnal.” A programação dos cinemas para este verão inclui “Deadpool & Wolverine”, dos estúdios Marvel, da Disney; um trailer incluiu uma piada sobre um ato íntimo envolvendo um brinquedo sexual. “Pisque Duas Vezes”, um thriller sinistro estrelado por Channing Tatum como um magnata que atrai mulheres para um retiro privado, está programado para ser lançado em agosto. O aumento pode ser simplesmente um capricho de agendamento. “Rivais” deveria ter sido lançado no ano passado, mas foi adiado devido a greves sindicais. Sua chegada agora —entre “Pobres Criaturas” e “Assassino por Acaso”— pode estar criando a falsa aparência de uma virada na indústria cinematográfica. Mas há sinais que sugerem uma mudança genuína. Um deles envolve coordenadores de intimidade, ou especialistas que ajudam os artistas a navegar pela estranheza de filmar cenas de sexo. Sua inclusão nos sets, antes uma raridade, tornou-se comum após o movimento #MeToo do final dos anos 2010. Produtores de cinema dizem que as estrelas se tornaram mais dispostas a participar de intimidade simulada como resultado. Jovens roteiristas e diretores também parecem estar redescobrindo filmes como “Gigolô Americano” (1980) e “9 1/2 Semanas de Amor” (1986) e se inspirando. Alguns executivos de estúdio dizem que cineastas como Luca Guadagnino, que dirigiu “Rivais”, estão interessados em explorar as mudanças de atitude sobre sexo —como visto no aumento do OnlyFans e na aceitação sem vergonha da fluidez sexual pelos millennials mais jovens e pela Geração Z (um contraponto: em um estudo do ano passado pelo Centro de Acadêmicos e Contadores de Histórias da UCLA, cerca de 52% dos entrevistados entre 13 e 24 anos disseram que queriam que filmes e programas de TV se concentrassem mais em amizades e relacionamentos platônicos). Talvez contribua para um grau de libertação sexual: estúdios pararam de perseguir a China, onde os compradores de ingressos se voltaram contra os filmes de Hollywood em massa. Até agora, os resultados nas bilheterias têm sido mistos. “Todos Menos Você”, feito pela Sony por US$ 25 milhões (R$ 126 milhões), arrecadou robustos US$ 219 milhões (R$ 1,1 bilhão) neste ano, enquanto “Pobres Criaturas”, que custou US$ 35 milhões (R$ 177 milhões) à Searchlight Pictures, arrecadou sólidos US$ 117 milhões (R$ 593 milhões). Outras tentativas (“Loucas em Apuros”, “Que Horas Eu Te Pego?”) decepcionaram ou fracassaram completamente.

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