Um dos maiores cientistas brasileiros, professor emérito da Unicamp e presidente de Honra do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), também foi um dos responsáveis pela criação do Instituto de Artes (IA) da Unicamp na década de 1970. “Você não pode formar ninguém sem que ele se expresse em alguma forma de arte, que ele conviva com um pouco de arte”, contou o professor Rogério Cerqueira Leite em entrevista para os 50 anos do IA, na Unicamp. Para conhecer mais sobre essa a atuação no campo da arte, o g1 conversou com: Renata Sunega, curadora das exposições mais recentes da coleção de Cerqueira Leite;O professor Fernando Hashimoto, atual diretor do IA;O compositor e ex-professor da Unicamp Raul do Valle;Registros históricos com entrevistas realizadas para a Unicamp. Exposição gratuita na Unicamp reúne arte milenar de cinco dinastias chinesas 🎨 Diversidade das coleções A curadora conta que a coleção do professor começou enquanto ele cursava o doutorado em Paris, na década de 1960. Desde então, ele foi adquirindo centenas de outras com diversidade cultural que cruza todo o mundo. Assim, reúne de peças chinesas a pré-colombianas, passando por africanas, japonesas e de povos da Oceania. A coleção não é apenas uma acumulação de itens antigos, Cerqueira Leite, apesar de físico, era apaixonado por arte e todas as obras que pretendia adquirir só aconteciam após longos estudos. “Ele escolhia as obras e pesquisava sobre elas. Então era um amante de arte, mas também era um grande pesquisador. […] ele tinha essa curiosidade sobre arte, sobre as obras e isso fez com que ele se tornasse uma um excepcional colecionador”, fala Sunega. Sunega explica que a dedicação pela pesquisa tornou a coleção não apenas vasta, mas também de alta qualidade. Surpreendendo inclusive pelo número de peças, mais de 300 chinesas, mais de 400 que vieram da América Pré-Colombiana e da África. “A peça mais antiga que tenho, têm seis mil anos, peças que representam o espaço na história, naquele lugar. Um artista fez aquela peça, naquele contexto, há 6.000 anos atrás”, contou o professor em uma entrevista para Renata Sunega. Coleção do professor reúne peças chinesas, pré-colombianas, africanas, japonesas e de povos da Oceania. — Foto: Arquivo pessoal 🖼️ Acesso à arte Mas acima de tudo, a curadora conta que tais coleções não eram para si, mas Cerqueira Leite tinha como objetivo divulgar as distintas culturas e sempre perguntava quantas pessoas tinham passado pelas exposições. “Aí eu mandava foto das visitas das escolas e Falava ‘nossa, a gente já chegou a quase 4.000 pessoas’. Então ele queria que as pessoas vissem, principalmente os jovens”, lembra. Segundo Sunega, é uma coleção que merece um museu, tanto pela quantidade de peças, como pela qualidade, que a curadora identifica como muito maior do que qualquer instituição, principalmente no interior do Estado de São Paulo. Conta que negociações já vem sendo feitas há pelo menos dez anos com a Unicamp e com a prefeitura de Campinas, mas nada foi fechado ainda. “O desejo dele foi sempre que se tivesse um museu na Unicamp ou algum outro espaço na cidade de Campinas”, diz. Segundo Sunega, é uma coleção que merece um museu, tanto pela quantidade de peças, como pela qualidade. — Foto: Arquivo pessoal 🏛️ Criação do Instituto de Artes da Unicamp No ano de comemoração dos 50 anos do Instituto de Artes (IA), o professor Cerqueira Leite concedeu uma entrevista onde contou que o IA começou a surgir no início da década de 1970 por um interesse comum de professores da Unicamp por música. Assim, os professores Friedrich Brieger, José Pinotti e Marcello Damy, junto com Cerqueira Leite, se reuniram e começaram a elaborar o instituto. “Foi pela música que nasceu o instituto de artes”, contou o professor Rogério Cerqueira Leite na entrevista para os 50 anos do IA. Apresentação de música antes da formação do Instituto de Artes da Unicamp na década de 1970 — Foto: Arquivo IA / Unicamp O concerto na Catedral Metropolitana, em abril de 1971, é considerado a “pedra fundamental” para o instituto. Desde então, foram realizadas vários cursos de extensão de curta duração. Mas só em 1979 que o primeiro curso superior foi oficializado, começando com Música. O atual diretor do IA, professor Fernando Hashimoto, lembra com honra que conviveu com Cerqueira Leite na Unicamp e nos meios culturais. E ressalta a importância dele para implantação de uma área de artes na universidade que ganhou reconhecimento internacional. “Rogério tinha o amor genuíno pela arte e promoveu inúmeras ações na universidade e na sociedade como um todo. Suas coleções de artes e sua midiateca foram consultadas e utilizadas em diversas pesquisas do IA”, fala Para o compositor Raul do Valle, ex-professor na Unicamp e com extensa atuação na música com reconhecimento internacional por trilhas sonoras, o Cerqueira Leite foi o “responsável pelo crescimento profissional” e pela contratação para a Unicamp, em 1974. “Dr. Rogério foi nosso grande timoneiro. Criou o Departamento de Música e com ele, o Instituto de Artes. […] Homem culto, sensível e amante das artes. Minha eterna gratidão.”, finaliza. Legado: Rogério Cerqueira Leite deixa inúmeras contribuições para a ciência brasileira VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região