Ambição expansionista de Trump na Groenlândia colide frontalmente com a Otan

Por Sandra Cohen Especializada em temas internacionais, foi repórter, correspondente e editora de Mundo em ‘O Globo’ Ao não descartar uso da força militar para anexar maior ilha do planeta, presidente eleito atinge a soberania da Dinamarca, membro da aliança atlântica. Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, dá coletiva de imprensa em Mar-a-Lago em 7 de janeiro de 2025. — Foto: REUTERS/Carlos Barria Uma das digressões apregoadas pelo presidente eleito, em entrevista coletiva recheada de factoides nesta terça-feira (7), requer especial atenção: a anexação da Groenlândia, maior ilha do planeta e território semiautônomo da Dinamarca, um dos 32 membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Trump vem batendo nesta tecla desde o primeiro mandato e agora delineia suas intenções de forma mais agressiva, dentro dos parâmetros do lema “América em primeiro lugar” –os americanos falam “América” para se referir aos EUA. Ele apontou a importância estratégica da Groenlândia para a segurança nacional dos americanos, prometendo taxar a Dinamarca “em um nível muito alto”. Com apenas 56 mil moradores, o território é rico em hidrocarbonetos, ouro e urânio e potencial fonte de jazidas de minerais de terras raras. É também crucial para a geopolítica do Norte do planeta, uma vez que dali novas rotas marítimas podem encurtar a travessia da Ásia à Europa e à América, conforme o gelo do Ártico derrete. O problema é que as ambições expansionistas do presidente eleito no Ártico se chocam diretamente com os interesses da aliança atlântica e no acordo de defesa mútua especificado que rege a Otan. Baseado nele, os membros da Otan consideram um ataque a qualquer aliado como uma agressão à aliança. E o que fazer quando o ataque parte de um de seus próprios aliados, que, aliás, é o seu maior financiador? A ideia de a Otan entrar em guerra com a própria Otan, por si só, torna remota a possibilidade de anexação da Groenlândia pela força militar. Por outro lado, fortalece a pressão econômica que Trump exercerá. “O povo da Groenlândia provavelmente votará pela independência ou pela vinda para os Estados Unidos”, anteviu o futuro presidente. A premiê da Dinamarca, Mette Frederiksen, rebateu os arroubos expansionistas de Trump, alertando que Groenlândia não está à venda. O presidente vindouro americano não esconde que estará empenhado em incutir a marca Maga na população da ilha.

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