Essas frutas que você comia direto do pé da casa da avó ou em receitas de geleias, doces, sorvetes e refrescos, além de terem sabor de “nostalgia”, também são ótimas para manter a saúde em dia. Rica em vitamina C, flavonoides e taninos, a espécie apresenta diversos usos terapêuticos, como antidiarreico, anti-inflamatório, antirreumático, diurético, antioxidante, antifúngico, vermífugo, antiparasitário, antimicrobiano e expectorante, de acordo com um levantamento bibliográfico realizado pelo Ministério da Saúde em 2015. Além disso, é mencionado o uso da planta para tratar doenças do trato digestório, como gripe, febre amarela, dor de cabeça, bronquite, hemorroidas, resfriado, tosse e doenças de pele. De suas folhas, também são extraídos óleos essenciais, utilizados em cosméticos e produtos para saúde e bem-estar devido ao aroma adocicado. Como utilidade adicional, é descrita até como repelente de insetos. Um publicação na revista científica ScienceDirect menciona estudos que mostram que extratos de partes da planta possuem substâncias que foram identificadas como potenciais agentes anticancerígenos para tumores de pulmão, cervical, de mama, de cólon, de estômago e melanoma. No entanto, o trabalho também alerta a ausência de estudos clínicos sobre os efeitos da E. uniflora. Até o momento, não há comprovações científicas sobre a relação do consumo da pitanga com a prevenção de câncer. Investigações científicas sobre as propriedades fitoquímicas e biológicas da planta ainda devem ser realizados, permitindo o uso de forma segura e eficaz no futuro. A espécie “Na literatura científica acerca do uso popular da espécie, encontramos o dado de que a E. uniflora foi introduzida na medicina popular pelos Guaranis no século 15. Seu nome, derivado do tupi, significa ‘vermelho’ ou ‘vermelho profundo’, em alusão à cor do seu fruto”, explica a doutora em botânica Carolina Ferreira. Segundo ela, a espécie é nativa, porém não endêmica do Brasil, e pode ocorrer de forma natural também na Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Como sua distribuição nativa é ampla, não podemos chamá-la de endêmica de uma localidade específica. No Brasil, a ocorrência nativa se dá nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. A pitangueira tem geralmente 2 metros de altura, podendo chegar a até 8 — Foto: julialyn/iNaturalist “A planta apresenta uma adaptabilidade à várias condições de clima e solo, e hoje ela pode ser encontrada também em várias partes do mundo como a África do Sul, Flórida, China e México”, completa. Outra espécie similar e que pode também ser tratada como pitanga é a Eugenia pitanga. No entanto, esta ocorre em áreas mais secas, principalmente no Cerrado e na Caatinga, enquanto E. uniflora é encontrada principalmente em áreas mais úmidas e florestais. “Existem outras espécies do gênero Eugenia que também recebem nomes similares, como a pitanga-amarela (Eugenia paranapanemensis), nativa de florestas estacionais no interior de São Paulo, que possui frutos lisos e amarelos de sabor similar a pitanga; e a Pitangatuba (Eugenia selloi), nativa de áreas de restinga do Rio de Janeiro, que possui frutos maiores, costados e de coloração amarela”, afirma Karinne Sampaio Valdemarin, especialista na taxonomia e evolução do gênero Eugenia (Myrtaceae). Pitangatuba (Eugenia selloi) — Foto: Diogo Luiz/iNaturalist A pitangueira também é usada como planta ornamental. As árvores e arbustos da espécie possuem um porte pequeno, adequado para uso ornamental em jardins e calçadas, com tronco liso acinzentado e descamante, visualmente interessante. Durante a floração, os indivíduos podem perder todas as folhas e ficar repletos de pequenas flores brancas, proporcionando um aspecto estético atrativo. Além disso, a produção de frutos comestíveis é um ponto positivo para seu uso ornamental. A planta pertence à família Myrtaceae, reconhecida principalmente pelas espécies frutíferas, como goiaba, jabuticaba, cambuci, camu-camu e uvaia. A produção de frutos frescos dessas plantas são fonte de alimento para diversas espécies de aves, mamíferos e insetos na natureza. “Devido ao seu sucesso germinativo, a pitanga também é frequentemente utilizada em projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas”, diz Karinne. Sua introdução nessas áreas é fundamental devido a disponibilidade de frutos que atraem a fauna, que carrega sementes de outras plantas de áreas vizinhas, consequentemente promovendo um enriquecimento da biodiversidade da área em restauração, e ajudando no reestabelecimento da estrutura funcional do ecossistema”, finaliza. *Texto sob supervisão de Giovanna Adelle VÍDEOS: Destaques Terra da Gente