Conhecida como “Revolução Constitucionalista de 32”, a luta do Estado de São Paulo pelo fim do governo provisório getulista e o estabelecimento de uma constituição durou três meses e resultou na morte de quase mil pessoas. Com cerca de uma centena de cachoeiras identificadas na região, as trilhas e estradinhas de terra são capazes de contar passagens dramáticas de Águas da Prata. Durante a década de 30, os desvios da mata e obstáculos da montanha foram grandes desafios para os soldados. Na cidade, que um dia foi de Minas Gerais e hoje pertence a São Paulo, as tropas federais construíram uma guarnição de pedra, que servia de esconderijo para armas, munições, mantimentos e abrigo. As trincheiras construídas pelos soldados paulistas em Águas da Prata, durante a Revolução de 32, fazem parte de roteiro turístico — Foto: Rodrigo Sargaço/EPTV Segundo o historiador Antônio Carlos Rodrigues Lorette, no começo de agosto de 1932, houve uma invasão de tropas mineiras por São Sebastião da Grama (SP). A notícia se espalhou rapidamente na região e o medo também, porque a cidade não estava preparada com recursos e soldados suficientes. São Paulo então enviou um caminhão lotado de armas velhas e quebradas, de todos os tipos, além de capacetes que sobraram da formação de outras tropas. “As armas velhas foram reconstruídas com sucata que chegava, e as tropas foram organizadas principalmente a partir dos integrantes do Tiro de Guerra local”, explica o historiador. “A população ficou assustadíssima com a suposta invasão dos mineiros, abandonando assim a cidade. Os mais ricos e remediados refugiaram para suas fazendas e sítios, os mais simples permaneceram trancados em suas casas, evitando sair pelas ruas”. Serra da Paulista em São João da Boa Vista (SP) — Foto: Ely Venâncio/EPTV “A maior frente de batalha foi às margens do vulcão de Poços de Caldas, como a Serra da Paulista (cujo nome deriva da Revolução). Pelo curto tempo de preparo, foram utilizados como trincheira os velhos muros de pedra existente nesta serra, feitos para limpar a terra para o plantio de café, sustentar arrimos de estradas e drenagem dos declives, ou para demarcar piquetes de pastos”, pontua Antônio. Segundo o especialista, a população da cidade, junto à Coluna Romão Gomes, venceu a guerra e um desfile foi realizado pela Avenida Dona Gertrudes. Apesar disso, Antônio diz que a população pouco se recorda dos fatos. “Parece que a Revolução Paulista está fadada ao esquecimento”, completa. Turismo histórico O guia de turismo Rafael Eduardo, que atua na área há 21 anos, comenta sobre um roteiro existente no município para quem deseja conhecer a história de perto. “Caminhos da Revolução de 32” inclui uma caminhada contemplativa por diversos pontos de Águas da Prata. Veja o roteiro: Trilha da Bandeira da Revolução de 32: visita ao local onde foi erguida uma bandeira em homenagem aos combatentes;Trilha da Onça: trilha que passa por áreas de vegetação nativa;Morro dos Ventos: ponto alto com vistas panorâmicas, onde se pode entender a geografia estratégica da região durante o conflito;Mirante: local para apreciação da paisagem;Paradas para conto de causos: em determinados pontos, guias narram histórias e curiosidades sobre a revolução; A caminhada tem aproximadamente 12 km e é classificada como de nível moderado a pesado, e tem duração estimada de 5 horas. Em média, a agência de turismo onde Rafael trabalha recebe cerca de 200 a 300 visitantes anualmente para percorrer o roteiro. No entanto, esses números podem variar conforme a época do ano e a divulgação de eventos específicos relacionados à história da revolução. Roteiro “Caminhos da Revolução de 32” inclui uma caminhada por diversos pontos de Águas da Prata (SP) — Foto: Rafael Eduardo “Como especialista de turismo, vejo a relação histórica da cidade com a Revolução de 1932 como uma peça fundamental para o nosso trabalho. A história enriquece a experiência turística, oferecendo uma narrativa única e educativa”, diz o guia. Umas das histórias da revolução é a ‘Noite das Luzes'”. Segundo Rafael, moradores contam que, durante um confronto, os combatentes acenderam lamparinas e tochas em pontos estratégicos ao redor da cidade para confundir as tropas adversárias, fazendo-os acreditar que estavam cercados por um número muito maior de soldados. A tática funcionou temporariamente, permitindo a reorganização das forças de batalha. Além do patrimônio histórico, um vulcão adormecido se tornou outro ponto turístico da cidade. Como Águas da Prata é cercada por uma cadeia de montanhas com até 1.700 metros de altitude, há evidências de que elas podem ter sido as bordas de um vulcão, que teria sido o maior do continente. A estrutura possui 30 km de diâmetro e abrange oito municípios de Minas Gerais e São Paulo. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente