“É constrangedor, é horrível. Você tem que mentir para as pessoas que você gosta, você passar por essas situações humilhantes, ser agredida dentro da sua casa, ouvir palavras que não condizem com o seu caráter, com a sua conduta, é horrível”, disse. Ela faz parte do grupo de mulheres que já foram ameaçadas de morte pelo parceiro, namorado ou pelo ex. De acordo com pesquisa do Instituto Patrícia Galvão, essa é a realidade de duas em cada 10 mulheres do Brasil. Segundo pesquisa realizada em outubro, é possível estimar que quase 17 milhões de brasileiras já viveram ou vivem risco de feminicídio. Duas em cada dez mulheres já foram ameaçadas de morte pelo parceiro ou ex Luciana sofria violências físicas e psicológicas. Recebia apertos, chutes e socos e precisava mentir sobre os hematomas. Foi proibida de sair de casa e ameaçada com uma faca. Chegou a apanhar na frente dos filhos e ser queimada com álcool (veja depoimento no vídeo acima). Ela aguentou 10 anos de agressões no casamento por conta do adoecimento psicológico, da dependência financeira e dos filhos. Mesmo apanhando e contra a vontade do marido, ela voltou a estudar. Depois de formada e com emprego em vista, contou para o pai e conseguiu sair de casa. “O estopim foi quando eu quis voltar a estudar, ele falou para mim que não queria, que eu não poderia e aí me agrediu e eu pedi ajuda aos meus familiares”, contou. Ela fez um boletim de ocorrência e conseguiu uma medida protetiva que não conteve a perseguição do companheiro. Por isso, ele foi ficou preso por dois meses e meio. Luciana usou o tempo em que ele ficou na cadeia para mudar de vida. Em agosto desse ano, mudou de cidade para tentar voltar a ser a pessoa que era antes do relacionamento. “É uma luta constante todos os dias para voltar até o amor próprio e acreditar que a gente não é aquilo, que a gente não é aquela pessoa que, infelizmente, a gente deixou acreditar que era”, afirmou. Ciclo da violência Cartaz mostra como denunciar violência contra a mulher — Foto: Gabriel Lain/Banco de dados/NSC Comunicação A dependência econômica foi apontada na pesquisa do Instituto Patrícia Galvão como o principal motivo para as mulheres não conseguirem sair da relação violenta. O segundo motivo era acreditar que o companheiro iria se arrepender e mudar. O medo de ser morta, caso termine a relação, apareceu como a terceira justificativa. De acordo com a advogada Carla Missurino, o ciclo da violência contra a mulher é clássico. “A mulher tem que começar a ficar atenta aos sinais de abuso, de humilhação: de implicar com a roupa dela, não deixar sair de casa, e não misturar isso com o sentimento, com amor que vem meio mascarado. Aí acaba tendo rompimento da relação, e o segundo ciclo da violência é ele volta pedindo perdão, dizendo que vai mudar e aí já começa uma violência física e a tendência é caminhar para o feminicídio”, afirmou. Além da violência física, o abuso emocional é usado como uma ferramenta para que a mulher acredite que mereça passar pela situação abusiva que está vivendo e que não vai conseguir viver longe do agressor. “A mulher vítima de violência psicológica fica extremamente adoecida no seu emocional, ela fica confusa nas suas emoções, muitas vezes ela ainda sente amor pelo parceiro e confunde maus tratos com amor. Muitas vezes ela vem de uma família onde o pai agrediu a mãe, onde o avô agrediu a avó. Então esse ciclo ele se repete e é muito de difícil para mulher romper”, disse a psicóloga Mirela Maria Bandoni Godoy. Para quem passa por isso, Carla traz duas orientações importantes: a denúncia e não acreditar nas falsas promessas de mudança dos agressores. “Ela tem que entender que a pessoa tem um perfil, que já se mostrou tóxico, abusivo. Já tem essa questão da violência física? Então, fez a medida protetiva. Ele tentou voltar, ela tentou perdoar, ele mostrou novamente esse perfil? Rompe o ciclo da violência. A única forma dela salvar a própria vida dos filhos, inclusive que estão ali naquele seio da violência é denunciar”, afirmou. Para denunciar a violência contra a mulher, tem o disque 180, telefone exclusivo para esse tipo de atendimento. É importante reforçar que a denúncia não precisa ser feita pela vítima. Veja os vídeos da EPTV Central