O Sudão está em guerra no terreno e nos media. Como em todos os conflitos contemporâneos, também em El Fasher, a propaganda e a desinformação criam um “nevoeiro de guerra” em torno do que está a acontecer na capital do Darfur Norte, o último reduto da região nas mãos das SAF (Forças Armadas Sudanesas), sitiadas há meses pelas RSF (Forças de Apoio Rápido). Vatican News Enquanto o Exército reivindica o abate de sete drônes inimigos perto da cidade e a “destruição de forças inimigas” que tentavam ultrapassar as linhas de defesa, as poucas fontes independentes de informação presentes afirmam que os dois lados continuam a trocar tiros de artilharia, causando vítimas civis. Particularmente graves são as condições dos refugiados no campo de Zamzam, onde, segundo Médicos Sem Fronteiras, morrem treze crianças por dia de subnutrição. A partir da análise de fotografias feitas por satélite, o Laboratório de Investigação Humanitária da Universidade de Yale afirma que as RSF estão a avançar para pontos-chave de El Fasher nas mãos das SAF e das milícias aliadas: o quartel-general do Exército no centro da cidade, a vizinha base aérea militar e a estrada que liga o centro da cidade ao campo de refugiados de Zamzam, mais a sul. Na cidade de Al Hilaliya, no Estado de Gezira, no centro-leste do Sudão, também ela sitiada por milicianos da RSF, a situação é dramática. Desde o início do cerco, há duas semanas, já morreram pelo menos 382 pessoas. Segundo fontes locais, as RSF envenenaram os poços que abastecem a cidade. Esta notícia não foi confirmada por fontes independentes e poderá fazer parte das operações de desinformação e propaganda, levadas a cabo por todas as partes envolvidas no conflito. As ações contra os civis no Estado de Gezira são descritas no relatório apresentado ao Conselho de Segurança da ONU em 12 de novembro por Rosemary DiCarlo, subsecretária-geral da ONU para os Assuntos Políticos. No seu relatório, a diplomata americana denuncia, embora sem os nomear, os Estados que continuam a fornecer armas às partes em conflito. “Para ser franca, alguns supostos aliados das partes estão a permitir o massacre no Sudão. Isto é inaceitável, é ilegal e tem de acabar”, afirmou. A guerra que eclodiu em abril de 2023 já causou até agora pelo menos 24.000 mortos, 11 milhões de deslocados e refugiados, ao mesmo tempo que uma grande parte da população enfrenta uma grave escassez de alimentos ou mesmo a fome. Oiça aqui a reportagem e partilhe Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui