Pessoas esclarecidas, dessas que ainda leem jornal todos os dias, andam descorçoadas com a produção intencional de ignorância por ex-coaches da estirpe de Pablo Marçal e Javier Milei. Parte delas, no entanto, se nega a enxergar que a ciência e a razão também estão sob a mira da esquerda, como a de Nicolas Maduro.
Verdade que ciência e razão já serviram de veículo para muita coisa ruim, da eugenia ao aquecimento global. Mas não é o caso de deitá-las fora, abrindo mão do que propiciam de bom, como o salto de produtividade com inteligência artificial (que é preciso regulamentar, e não temer).
Os próprios profetas da ignorância chamados de coach disfarçam como conhecimento científico as ideias mais doidas. Um lombrosiano que se descreve como ex-coach justifica a posição subalterna de mulheres dizendo que elas têm o crânio menor que o dos homens, o que as desqualificaria para liderança.
Anda na moda misturar sucesso com física quântica, DNA, vibrações. As pessoas compram, desesperadas com a vida miserável que levam, porque não enxergam alternativa racional para tirar o pé do lodo. Outras caem na teologia da prosperidade.
Milei tem direito de vender serviços como coach de sexo tântrico, como já fez, e otários têm direito de comprá-los. Preocupante é ver o treinador eleito presidente da Argentina, apesar de falar com cachorro morto e prometer privatizar a pesquisa, extinguindo o Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas.
Coisa que ele não fez, aliás. O Conicet segue existindo, mas com orçamento congelado, corroído pela inflação de 237% nos 12 meses até agosto, acarretando corte de bolsas de pesquisa de 1.300 para 600. Milei não rasga dinheiro, só desvaloriza o futuro.
Leia mais (10/06/2024 – 08h30)