Lar Cidades Cricrió: a trilha sonora da Amazônia

Cricrió: a trilha sonora da Amazônia

por admin
0 comentário
cricrio:-a-trilha-sonora-da-amazonia

A ave também ocorre na parte norte da Mata Atlântica, local onde resta pouquíssima floresta, por isso tem sido pouco encontrado. O som do cricrió é tão familiar que acaba sendo uma das aves amazônicas mais reconhecidas e, não à toa, uma espécie que conta com vários nomes populares. Alguns são: frifrió, capitão-da-mata, peito-de-aço, seringueiro, paquerador ou namorador (devido ao assobio), e trovão-irá (“pássaro trovão” na linguagem indígena). Por muito tempo o cricrió foi considerado a ave com o canto mais alto do mundo, alcançando a incrível marca de 116 decibéis. Mario Cohn-Haft, ornitólogo e Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), explica como o pássaro pode atingir essa marca. O cricrió é uma das aves mais barulhentas da Amazônia — Foto: Arquivo TG “As aves usam um órgão próprio para a produção de sons, a siringe, que difere notavelmente entre as espécies. Exatamente como funciona no cricrió nunca foi estudado, mas certamente envolve a combinação da estrutura da siringe dele, a musculatura do corpo, e a forma e abertura do bico”, explica. “Um cricrió cantando abre o bico muito amplamente e recua a cabeça com as notas mais altas e fortes, como uma arma ou canhão disparando. Certamente tem um corpo especialmente modificado para produzir este som”, completa o ornitólogo. Atualmente, podemos dizer que o cricrió possui o segundo maior canto dentre todos os animais, atrás somente da araponga-da-amazônia (Procnias albus), que produz um canto que pode chegar a 125 decibéis. Só para se ter uma ideia do que isso significa, como comparação, uma conversa em tom de voz médio atinge 60 decibéis, enquanto o ruído de uma furadeira é de 100 decibéis. Utilidade do canto De modo geral, se acredita que o canto de todo pássaro é utilizado para comunicação entre as espécies. Agora, para tentar explicar a utilidade de um canto tão alto surgem algumas especulações. “Parece razoavelmente claro que o volume é importante para o cricrió. Praticamente qualquer som muito alto e repentino na floresta—a queda de uma árvore, o trovão mesmo, ou até um grito ou espirro—costuma estimular ele a cantar imediatamente”, explica Mario Conh-Half. “Parece que é estimulado por sons altos a tentar ser mais alto ainda. E os machos (que visualmente são indistinguíveis das fêmeas, de cor cinza e mais ou menos do tamanho de um sabiá), se juntam em grupos, chamados “leks”, quando cantam todos praticamente ao mesmo tempo, mas intercalados. Isso tudo nos leva a suspeitar que eles se juntem para atrair as fêmeas (que não cantam) e que elas avaliam os machos pretendentes pelo volume do seu canto”, detalha o ornitólogo. Outras aves, como os piprideos, fazem uso da dança para atrair as fêmeas. Como é o caso do tangará-dançarino, que se une a outros machos com esse fim. No caso do cricrió, a suspeita é de que o grito muito alto tenha a mesma função da dança nestas outras espécies. Curiosidades sobre a espécie A ave mede entre 24 e 28 centímetros de comprimento e seu peso varia entre 67,2 e 82,6 gramas — Foto: Jaílson Souza/ Arquivo Pessoal Segundo a plataforma Wikiaves, a ave age como um alarme na mata. O nome popular capitão-do-mato é uma alusão à pessoa responsável pela captura de escravos fugitivos, pois, segundo a tradição oral (especialmente na região de Ilhéus-Bahia), quando os negros fugiam e entravam na mata, os cricriós iniciavam a cantoria e eles eram localizados. A ave mede entre 24 e 28 centímetros de comprimento e seu peso varia entre 67,2 e 82,6 gramas, e se alimenta principalmente de frutos, eventualmente de insetos. *Texto sob supervisão de Lizzy Martins VÍDEOS: Destaques Terra da Gente

você pode gostar